Segunda mensagem ao Luis Castro Mendes sobre o Chez Yvonne.
Outrora, na minha imaginação,
A poesia era feita de sonho.
Poetas não comiam; suponho
Que, talvez, por distração,
Mastigassem pétalas de rosas,
Uma ou outra flor de lotus; bebiam
Neve derretida que lhes traziam
De montanhas misteriosas.
Não discutiam, discreteavam
Sobre o Amor ou sobre a Líberdade,
Quiçá glosassem a Saudade.
Mas nunca, nunca se baixavam
A arguir com donas de hospedaria.
Não é matéria para sonho e elevação.
Alcipe não trata de tripas com feijão,
A cabidela não inspira Sophia.
De outra forma, poderemos - que horror! -
Pensar Gôngora com desinteria,
Garrett lívido a torcer-se de azia,
Ver sujo o pé descalço de Lianor!
P'ra que de poesia não reste nada,
Laura há-de cheirar a refogado,
Julieta corneia o namorado,
Marília de Dirceu engorda com feijoada!
ANTÓNIO RUSSO DIAS
Outrora, na minha imaginação,
A poesia era feita de sonho.
Poetas não comiam; suponho
Que, talvez, por distração,
Mastigassem pétalas de rosas,
Uma ou outra flor de lotus; bebiam
Neve derretida que lhes traziam
De montanhas misteriosas.
Não discutiam, discreteavam
Sobre o Amor ou sobre a Líberdade,
Quiçá glosassem a Saudade.
Mas nunca, nunca se baixavam
A arguir com donas de hospedaria.
Não é matéria para sonho e elevação.
Alcipe não trata de tripas com feijão,
A cabidela não inspira Sophia.
De outra forma, poderemos - que horror! -
Pensar Gôngora com desinteria,
Garrett lívido a torcer-se de azia,
Ver sujo o pé descalço de Lianor!
P'ra que de poesia não reste nada,
Laura há-de cheirar a refogado,
Julieta corneia o namorado,
Marília de Dirceu engorda com feijoada!
ANTÓNIO RUSSO DIAS
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