Esta GenteEsta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"
Que bonito.
ReplyDeleteÉ inegavel o seu sentido de oportunidade, não me canso de ler este poema meu deus como é atual... Obrigada por partager.
ReplyDeleteA velha senhora sonetilhou logo, em raiva e palavrão, ao ler-lhe, eu, este post. mas não deixou enviar nada, por não querer, disse, 'rimalhices-porcaria / junto ao que é mesmo poesia/ da minha amada sophia' . diz-me agora, hesitante, que posso mandar (pus vígulas, à revelia):
ReplyDeletefoi em sessenta e sete
que li, eu, da sophia,
o seu 'geografía'.
a raiva que me mete
rever cá, hoje em dia,
murcho e morto o cravo,
os tais rostos de escravo
pisado, em agonia
e à fome a morrer.
país reocupado,
de abutres infestado?
não pode, porra, ser,
que o povo virou bravo:
cabrões, vão-se foder!