A vergonha da Europa
À beira do caos porque fora da razão dos mercados,
Tu estás longe da terra que te serviu de berço.
O que buscou a Tua alma e encontrou
rejeita-lo Tu agora, vale menos do que sucata.
Nua como o devedor no pelourinho sofre aquela terra
a quem dizer que devias era para Ti tão natural como falar.
À pobreza condenada a terra da sofisticação
e do requinte que adornam os museus: espólio que está à Tua cura.
Os que com a força das armas arrasaram o país de ilhas
abençoado levavam com a farda Hölderlin na mochila.
País a custo tolerado cujos coronéis
toleraste outrora na Tua Aliança.
Terra sem direitos a quem o poder
do dogma aperta o cinto mais e mais.
Trajada de negro, Antígona desafia-te e no país inteiro
o povo cujo hóspede foste veste-se de luto.
Contudo os sósias de Creso foram em procissão entesourar
fora de portas tudo o que tem a luz do ouro.
Bebe duma vez, bebe! grita a claque dos comissários,
mas Sócrates devolve-Te, irado, a taça cheia até à borda.
Os deuses amaldiçoarão em coro quem és e o que tens
se a Tua vontade exige a venda do Olimpo.
Sem a terra cujo espírito Te concebeu, Europa,
murcharás estupidamente.
(Gunter Grass, tradução de Carlos Leite, tirado do blog "duas ou três coisas")
mas que fazer?
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