Tuesday, May 29, 2012

Traduções

Portugal era um país traduzido do francês em calão, Eça?  Agora vivemos num romance de John Le Carré traduzido por José Vilhena...

Monday, May 28, 2012

Amarcord

Vejo na TVI como o ensino primário do meu tempo era sábio e sofisticado e como as crianças dessa feliz época eram cultas e preparadas.

É terrível a perda de memória na minha idade!

O poema de Gunter Grass para a Grécia

           A vergonha da Europa
À beira do caos porque fora da razão dos mercados,
Tu estás longe da terra que te serviu de berço.

O que buscou a Tua alma e encontrou
rejeita-lo Tu agora, vale menos do que sucata.

Nua como o devedor no pelourinho sofre aquela terra
a quem dizer que devias era para Ti tão natural como falar.

À pobreza condenada a terra da sofisticação
e do requinte que adornam os museus: espólio que está à Tua cura.

Os que com a força das armas arrasaram o país de ilhas
abençoado levavam com a farda Hölderlin na mochila.

País a custo tolerado cujos coronéis
toleraste outrora na Tua Aliança.

Terra sem direitos a quem o poder
do dogma aperta o cinto mais e mais.

Trajada de negro, Antígona desafia-te e no país inteiro
o povo cujo hóspede foste veste-se de luto.

Contudo os sósias de Creso foram em procissão entesourar
fora de portas tudo o que tem a luz do ouro.

Bebe duma vez, bebe! grita a claque dos comissários,
mas Sócrates devolve-Te, irado, a taça cheia até à borda.

Os deuses amaldiçoarão em coro quem és e o que tens
se a Tua vontade exige a venda do Olimpo.

Sem a terra cujo espírito Te concebeu, Europa,
murcharás estupidamente.

(Gunter Grass, tradução de Carlos Leite, tirado do blog "duas ou três coisas")

Sunday, May 27, 2012

João de Sá Coutinho

No sonho alguém dizia
" a morte é uma conversa interrompida".
Mas há muito tempo que nós não tínhamos uma conversa.

Aprendi muito consigo,
coisas que ficaram comigo e me fizeram.

Agora não haverá mais nenhuma conversa.

Friday, May 25, 2012

Incipit

Esperanças de um maior contentamento
na areia dos dias que se espraiam

Tuesday, May 22, 2012

Poema de hoje

Onde encontrar o canto do abutre,
a apologia da rapina, o imemorial
saque dos bens da terra?
Em todo o lugar, é certo, em todo o tempo;
e cada poema
escrito em face de ruínas
se faz depois ao mar, como Ulisses após Tróia,
a buscar Ítaca além dos mares
e do sangue
derramado.

Sunday, May 20, 2012

O golo da Académica


Em tempo

Dizer uma vez mais da primavera
seus gestos sem perdão e sem quimera;

não mais deixar nenhum papel em branco,
nenhum gesto desfeito sobre o banco

de jardim que foi feito dos amores
pintados de maus versos, furta-cores.

Dizer-te da longínqua primavera,
despedir-me do tempo que não espera.



Saturday, May 19, 2012

Razões de esperança

Enquanto nós vivíamos irresponsavelmente a gastar acima dos nossos meios, alguns beneméritos conseguiram salvar mil milhões de euros a este despesismo desenfreado e colocar todo esse dinheiro a salvo na União dos Bancos Suíços. Bem hajam!

Friday, May 18, 2012

Tales de Mileto e a escrava

Conta-se que o filósofo Tales de Mileto caminhava um dia pela cidade inteiramente absorvido na contemplação das estrelas, já que nesse tempo era possível ver o céu estrelado mesmo nas cidades.

E tão absorvido ia que não viu um poço que se abria à sua frente e nele foi cair.

Uma escrava que passava por ali riu desaforadamente e disse "ó sábio Tales, como podes querer conhecer todos os segredos do mundo se não olhas sequer para o que está na tua frente?"

Ocorreu-me esta história quando ontem caí, face a um inesperado obstáculo, por estar a caminhar na rua e a olhar ao mesmo tempo para as mensagens no telemóvel.

Olhar sempre à nossa frente é um bom preceito.

Monday, May 14, 2012

Lisboa



Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia



(Eugénio de Andrade)

Sunday, May 13, 2012

Recomeçar


"Essayer. Rater. Essayer encore. Rater encore. Rater mieux."
— Samuel Beckett

Recomeçar sempre

A razão da giesta


Iremos procurar a razão da giesta
a razão do amarelo
iremos procurar a razão
iremos procurar
e os olhos tomarão todas as cores
as cores de tudo.


Pedro Tamen “ O livro do Sapateiro “ , Ed. Dom Quixote, 2010

Pátria

Onde ninguém nos espera acende-se a promessa.

Lisboa

Como uma casa a abrir as suas portas, o calor das ruas abriu o rosto de Lisboa.

Portugal contemporâneo

A sofrida dignidade dos carecidos e a descomposta histeria dos poderosos.

Lisboa

Não é bem um regresso: antes me vou esconder nas ruas mais estreitas de Lisboa e entre as suas paredes me esquecer de mim.

Saturday, May 12, 2012

Quem se eu gritar?

Se uma voz me chamasse,
apenas uma voz,
fina e aguda na distância do horizonte,
então eu poderia afastar as cinzas
e dar-te um nome.




Lisboa

Há sempre uma rua onde nunca pusémos os pés
a desafiar memórias e destinos.

Thursday, May 10, 2012

Os portugueses

Esta GenteEsta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

A língua portuguesa não é rentável

Entrevista do Senhor Soares dos Santos à SIC:

"... as demonstrações do 1º de Maio..."
"...ninguém os impediu de irem demonstrar..."


Monday, May 7, 2012

O nosso horizonte


Mudança


Da entrevista de François Hollande ao "Slate"


Vos solutions pour relancer la croissance semblent pourtant différentes de celles préconisées par Mario Draghi ou Angela Merkel…
Des réformes structurelles sont à mener pour améliorer la compétitivité, réformer la fiscalité, et renforcer notre industrie. C’est le sens du pacte productif que j’ai proposé.
L’économie de l’offre n’est pas séparable d’une stimulation plus directe de la demande. Non pas avec les formules keynésiennes d’autrefois: les moyens ne peuvent être des dépenses publiques supplémentaires, puisque nous voulons les maîtriser, ni des allègements fiscaux, qui nous sont interdits. Mais la mise en œuvre d’instruments à l’échelle européenne, cela passe par l’augmentation du capital de la Banque européenne d’investissement, la mobilisation des fonds structurels, la taxe sur les transactions financières qui permettrait de financer des travaux d’infrastructures. L’Europe pourrait enfin décider de lever l’emprunt: c’est tout l’enjeu des «eurobonds» ou des «project bonds».

La chancelière allemande est opposée à cette dernière solution…
Sur cette question, nous aurons des discussions avec nos partenaires, et particulièrement avec nos amis allemands (1), mais ils ne peuvent pas poser deux verrous à la fois, un sur les «eurobonds» et un autre sur le refinancement direct des dettes par la BCE.

L’existence d’un couple «Merkozy» a été critiquée en Europe. Quelle est votre position sur ce couple franco-allemand?
Autant je crois au moteur franco-allemand, autant je conteste l’idée d’un duopole. La construction européenne repose sur une relation France-Allemagne équilibrée et respectueuse. Les couples Schmidt-Giscard, Kohl-Mitterrand,  et même Chirac-Schröder ont prouvé que les différences politiques n’empêchaient pas le travail commun. Mais ces dirigeants veillaient à conjuguer la démarche intergouvernementale avec le processus communautaire, c’était la meilleure façon d’éviter que nos partenaires éprouvent le sentiment d’être écartés, ou pire encore soumis.
Cet équilibre a été modifié ces dernières années. Le rapport franco-allemand a été exclusif. Les autorités européennes ont été négligées et certains pays, notamment les plus fragiles, ont eu la désagréable impression d’être en face d’un directoire.

Paris no mês de Maio




Friday, May 4, 2012

O amor é uma despedida

Nada é plácido neste outono da vida:
entre rugas e livros erguemos os olhos
e os nossos próprios rostos são surpresa
e destino.

Tuesday, May 1, 2012

Primeiro de Maio


"Il Quarto Stato" Giuseppe Pellizia da Volpedo