Sunday, March 7, 2010

Lendas da Índia



A praia onde mandaram fundear os barcos de Vasco da Gama fica a uma dezena de quilómetros de Calicute e longe do lugar onde os ingleses mandaram edificar uma medonha pirâmide comemorativa. Segundo o historiador indiano que nos acompanhava, foi ao largo dessa praia que Gama esperou durante dias a resposta do Samorim ao seu pedido de audiência.

Na praia havia uma barraquinha de gelados e refrescos e meia dúzia de rapazes a apanhar mariscos. Uma mesquita a encimar o morro a recordar a continuação da História. Ninguém na praia. Algumas mulheres de véu, com crianças agarradas aos joelhos. E avançámos então por cima das rochas para ver a praia, deserta e branca, onde naquele tempo se cruzaram embarcações e se marcaram encontros.

Tive menos dificuldade em encontrar o descendente do Samorim, um suave aristocrata intelectual, dono de um colégio privado da melhor reputação. Com o bispo, o imã muçulmano e o deputado do Indian Congress Party, recordei o medo de Vasco da Gama de se acolher aqui em pousada alheia e a confusão que fez ao julgar ver igrejas cristãs nos templos hindus...

Começaram aqui as lendas da Índia. Este é, ou quer ser, apenas um livro de aprendizagem. Porque somos sempre aprendizes na Índia. Mas o que a Índia nos dá é tão somente tudo o que em nós estava adormecido ou esquecido e que ela nos soube fazer reencontrar. Se é certo que nunca entendi bem o que era ser português antes de viver no Brasil, ousaria hoje dizer (com alguma pretensão) que na Índia aprendi a entender mais o que é ser-se humano. E vem-me à memória um verso de Jorge de Sena : isto que é ser-se humano passo a passo mais.

Começam aqui as Lendas da Índia.


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