Tuesday, May 7, 2013

Viagens na minha terra: a glória é incompatível com a actual esperança de vida


Fui convidado, juntamente com o Paulo Castilho (na foto, os dois autores com as suas respectivas musas), para falar sobre os escritores-diplomatas.  O convite fora-nos feito pelo nosso comum amigo e finíssimo memorialista e contista António Pinto da França, que iria orientar o debate. Tal não foi possível e desejo daqui as melhoras e a pronta recuperação do nosso colega e amigo, alguém "fino como um coral", como antigamente se dizia e um dos diplomatas que eu conheci mais capazes de compreender e de se deixar transformar (sem se converter) por uma cultura estranha, por um modo de vida diferente, pelo plural e mestiço tecido das civilizações. Fazem tanta falta pessoas assim!

A conclusão ingénua de uma interveniente não deixou de nos perturbar: concluo assim que os diplomatas que são ao mesmo tempo escritores só são reconhecidos depois de morrerem. Olhei para o Paulo e o Paulo para mim: era este então para nós o preço da glória? Abdicando do reconhecimento e da campa, fomos então jantar magnificamente no Chico Elias, seguindo assim o conselho do Álvaro de Campos na Gazetilha:

                             Tratem da fama e do comer
                             que amanhã é dos loucos de hoje.

E mesmo que nos falte a fama, o comer tratou-nos muito bem e ajudou-nos a adiar a morte e a glória.


4 comments:

  1. Ó Sr. embaixador Poeta este post está o máximo, o senhor pelo menos tem sentido de humor, e premonições de projetos póstumos...
    Agora confesse que não houve equidade no posicionamento para a posteridade, o senhor sempre no lugar da virtude...
    A propósito estão muito bem, as Senhoras um cibinho mais bonitas, nada de relevante...

    As garrafas eram águas das Pedras?

    Obviamente,já tenho amanhã garantido, inimputável claro...

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  2. embora escritor em dedicação completa/exclusiva seja uma profissão em si, parece-me que é bem interessante ver as associações ou coexistencias escritor/outra profissão, escritor-medico fernando namora, escritor diplomata lfcm ou paulclaudel, escritor-militar carlos vale ferraz, engenheiro-jorge de sena, deputado e politico- manuel alegre. muitas vezes o lado escritor come o outro aobo antunes. alguma profissão mais vocacionada para dar escritores? a ver por notas biograficas, a de professor universitário sobretudo de humanidades e belas letras. diplomata-escritor, primeiro ministr-escritor benjamin disraeli, sacerdote, josá tolentino mendonça, etc etc.
    uma conjugação que tem condições para funcionar e tem dado excelentes escritores desde há muito. e não necessariamente produzindo livros ambientados ou inspirados na diplomacia, mas literatura onde pode não estar exposta a profissão diplomatica

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  3. Diz-me a chata da velha senhora: "Pede lá desculpa ao meu amado e admirado jovem Alcipe, mas erros sobre o meu Fernando Pessoa/Álvaro de Campos & Cia não deixo passar!" E vai de me recitar Campos, seguido de versalhices dela:

    "Ó grandes homens do Momento!
    Ó grandes glórias a ferver
    De quem a obscuridade foge!
    Aproveitem sem pensamento!
    Tratem da fama e do comer,
    Que amanhã é dos loucos de hoje!"

    de campos li na 'Gazetilha'
    não na 'Apostila' (ou apostilha?)
    mas bem
    rimalhadeira velha sei
    que muitas vezes muito errei
    também

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  4. Querida Velha Senhora
    Pois tem toda a razão e fiquei corado de vergonha. Corrijo já.
    Obrigado

    a) Alcipe

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