Tuesday, May 7, 2013

Viagens na minha terra



Fui a Tomar a um encontro de escritores, professores de Português e bibliotecários. Todos em prol de duas coisas simples, mas que estão em crescente risco, como tantas outras coisas essenciais:  que se leia; e que se não esqueça a literatura.

O ensino do Português nos últimos anos tem considerado a literatura como uma forma de expressão linguística a par das outras, com a mesma dignidade de um anúncio de um jornal ou de um diálogo de telenovela. Têm saído deste ensino resultados bem manifestos no recente concurso de admissão à carreira diplomática, em que 98% dos candidatos (todos com esse grau académico que hoje se chama mestre) desconheciam de todo quem tinha escrito  os versos Eu quero amar, amar perdidamente/ amar só por amar, aqui, além. E, francamente, se os nossos génios económicos, a quem o país deve toda a prosperidade reinante, consideram inútil o estudo da História, para que nos servirão versos de um poeta ou de um louco, como dizia (ironicamente, sabem, agora é preciso explicar tudo) o Fernando Pessoa na Apostilha?

Por isso, honra a estas pessoas que teimam em promover a leitura, as bibliotecas e a promoção do livro no meio escolar. Merecem o nosso apoio, a nossa solidariedade, a nossa compreensão. E o nosso remorso por um ensino cego à escrita e à cultura, obcecado em nivelar por baixo, contra o qual estas pessoas tentam erguer a sua "barragem contra o Pacífico".

A beleza do Convento de Cristo de Tomar  e da sua Charola (que um amigo historiador de arte me explica estar entre os grandes exemplos de arte renascentista na Europa) leva-me a pensar como Portugal é maior que os portugueses. Ou melhor: como o nosso povo é infinitamente superior às nossas élites, cujas elucubrações venho ler no Expresso matinal, no café do largo.  Portugal, meu remorso de todos nós (Alexandre O'Neill).

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