Saturday, May 25, 2013

O caçador Simão

Em 1890, Guerra Junqueiro escreveu contra o Rei D.Carlos este poema terrível, que é uma clara incitação ao Regicídio. Que lhe aconteceu depois? Foi preso, processado, deportado? Não. Foi eleito deputado...


Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente…
Corta a mudez sinistra o mar profundo …
Chora a rainha desgrenhadamente …

Papagaio real, diz-me quem passa?
-- É o príncipe Simão que vai à caça.

Os sinos dobram pelo rei finado …
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d’amargura e dor …

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É el-rei D. Simão que vai à caça.

Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da pátria a agonizar …
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...

Papagaio real, diz-me quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.

A Pátria é morta! A Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!

Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.

Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão …
Tocam clarins de guerra a Marselheza …
Desaba um trono em súbita explosão!...

Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!...




8 comments:

  1. Claro, até pela coragem convenhamos...

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  2. pasou o tempo dos poetas satiricos? junqueiro, leal, etc... é pena!! a poesia e a luta politica estão mais pobres...

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  3. Releia o Alexandre O'Neill e o Cesariny, leia o Alberto Pimenta e muitos poemas do Nuno Júdice. E num registo mais "elevado" (só questão de estilo, não de qualidade) o excelente livro de Hélia Correia "A Terceira Miséria". E o Manuel Gusmão, não muito fácil de ler, mas vale a pena...

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  4. há um poeta eventualmente não muito considerado, mas que pode ser incluido nos realmente satiricos, josé fanha.

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  5. bem, lembro agora um bom poeta satirico, um mestre na arte de versejar, e no meu caso muito gosto do ler ou ouvir, josé carlos ary dos santos, cujas obras completas são da caminho. um bardo, um improvisador mesmo, no livro autobiografico de rita ferro descreve-se uma cena de troca de quadras improvisadas entre fernanda de castro e jcads, aliás grande amigo tambem de natalia correia,esta grande poeta tambem e dedicada ao satirico tambem.
    nesta linha de poetas temos ainda josé afonso cuja poesia, e falo da que não foi cantada, não é de desprezar. e concordo com o o'neill, um poeta satirico e cheio de humor, e que o cesariny faz rir quando blasfema e fala do espirito santo, etc, e os outros citados, de helia não denti afinidade, mas mas deve haver outros, mas os mestres do poema satirico-politico dos secs 19 e 20 são de facto leal e junqueiro, deve haver outros e decadas antes houve os tolentinos, o garção, etc, magnifico uma boa satira, etc atc

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  7. Ó minha querida senhora,
    a censura já cá manda!
    Veio com a longa tesoura
    e pôs-me de cara à banda!

    A paródia do Junqueiro
    era forte para caramba!
    E este seu companheiro
    sentiu-se na corda bamba...

    Mande mais uns poemas,
    acredite que são bons!
    Bem oportunos nos temas
    e acertados nos tons.

    Mas, ai de mim, a Censura
    tomou conta do meu estro.
    Tornou-me de uma brandura,
    vós diríeis... de cabresto!

    a) Alcipe



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  8. Cansada e triste a velha senhora responde:

    amor ay mi amor
    no puedo ni te creer
    armado administrador
    servindo o desprazer
    brinquei tentei o humor
    o rir não sei conter
    junqueiro é bem pior

    cortada pla censura
    que triste desventura
    a minha e a de um país
    que muito mais que eu diz
    não pode é escrever
    beber pode beber
    até cair na fossa

    amor meu bem à nossa

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