Sunday, May 12, 2013

Pessoas que não conseguem educar os filhos



Eu compreendo que haja pessoas incapazes de educar os seus filhos e que, face à má educação permanente das crianças que têm, para melhor se desresponsabilizarem, lhes chamem nomes feios. No meu tempo dizia-se de um menino malcriado que era "um terrorista" (influência da Guerra Colonial, que pôs o termo em voga). Para algumas mães desesperadas, como esta, o epíteto será agora "socialista". Já para outras, perante mais uma má-criação do pimpolho, vá de lhe chamar "seu CDS-PP". Mas o problema é as mães (e os pais, claro) serem ou não capazes de educar. A confissão desta senhora, Inês Teotónio Pereira, pela coragem frontal com que admite ser incapaz de educar os seus filhos, ganha toda a nossa simpatia humana e merece toda a nossa preocupação social.


Não sei se são só os meus filhos que são socialistas ou se são todas as crianças que sofrem do mesmo mal. Mas tenho a certeza do que falo em relação aos meus. E nada disto é deformação educacional – eles têm sido insistentemente educados no sentido inverso. Mas a natureza das criaturas resiste à benéfica influência paternal como a aldeia do Astérix resistiu culturalmente aos romanos. Os garotos são estóicos e defendem com resistência a bandeira marxista sem fazerem ideia de quem é o senhor.
Ora o primeiro sintoma desta deformação ideológica tem que ver com os direitos. Os meus filhos só têm direitos. Direitos materiais, emocionais, futuros, ambíguos e todos eles adquiridos. É tudo, absolutamente tudo, adquirido. Ele dão como adquirido o divertimento, as férias, a boleia para a escola, a escola, os ténis novos, o computador, a roupinha lavada, a televisão e até eu. Deveres, não têm nenhum. Quanto muito lavam um prato por dia e puxam o edredão da cama para cima, pouco mais. Vivem literalmente de mão estendida sem qualquer vergonha ou humildade. Na cabecinha socialista deles não existe o conceito de bem comum, só o bem deles. Muito, muito deles.
O segundo sintoma tem que ver com o aparecimento desses direitos. Como aparecem esses direitos. Não sabem. Sabem que basta abrirem a torneira que a água vem quente, que dentro do frigorífico está invariavelmente leite fresquinho, que os livros da escola aparecem forradinhos todos os anos, que o carro tem sempre gasolina e que o dinheiro nasce na parede onde estão as máquinas de multibanco. A única diferença entre eles e os socialistas com cartão de militante é que, justiça seja feita, estes últimos já não acreditam na parede – são os bancos que imprimem dinheiro e pronto, ele nunca falta.
Outro sintoma alarmante é a visão de futuro. O futuro para os meus filhos é qualquer coisa que se vai passar logo à noite, o mais tardar. Eles não vão mais longe do que isto. Na sua cabecinha não há planeamento, só gastamento, só o imediato. Se há, come-se, gasta-se, esgota-se, e depois logo se vê. Poupar não é com eles. Um saco de gomas ou uma caixa de chocolates deixada no meio da sala da minha casa tem o mesmo destino que um crédito de milhões endereçado ao Largo do Rato: acaba tudo no esgoto. E não foi ninguém...
O quarto tique socialista das minhas crianças é estarem convictas de que nada depende delas. Como são só crianças, acham que nada do que fazem tem importância ou consequências. Ora esta visão do mundo e da vida faz com que os meus filhos achem que podem fazer todo o tipo de asneiras que alguém irá depois apanhar os cacos. Eles ficam de castigo é certo (mais ou mesmo as mesma coisa que perder eleições), mas quem apanha os cacos sou eu. Os meus filhos nasceram desresponsabilizados. A responsabilidade é sempre de outro qualquer: o outro que paga, o outro que assina, o outro que limpa. No caso dos meus filhos o outro sou eu, no caso dos socialistas encartados o outro é o governo seguinte.
Por fim, o último mas não menos aterrorizador sintoma muito socialista dos meus filhos é a inveja: eles não podem ver nada que já querem. Acham que têm de ter tudo o que o do lado tem quer mereçam quer não. São autênticos novos-ricos sem cheta. Acham que todos temos de ter o mesmo e se não dá para repartir ninguém tem. Ou comem todos ou não come nenhum. Senão vão à luta. Eu não posso dar mais dinheiro a um do que a outro ou tenho o mesmo destino que Nicolau II. Mesmo que um ajude mais que outro e tenha melhores notas, a “cultura democrática” em minha casa não permite essa diferenciação. Os meus filhos chamam a esta inveja disfarçada, justiça, os socialistas deram-lhe o nome de justiça social.
A minha sorte é que os meus filhos crescem. Já os socialistas são crianças a vida inteira.


(Inês Teotónio Pereira, no jornal i)








14 comments:

  1. Os filhos assimilam os valores dos pais - "casa de pais, escola de filhos", por isso, não há que culpar o Largo do Rato porque tudo indica que os verdadeiros valores lá de casa sejam os que designa por "socialistas".

    Isabel BP

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  2. O texto merece a mais rigorosa atenção. O drama maior, é que alguns destes meninos - espero que não seja o caso da Inês - crescem de facto...mas continuam socialistas, ou PPD's, ou CDS's e o mundo deles será sempre diferente do dos pais. "Filhos criados, trabalhos dobrados", dizia a minha sogra. Como ela tinha razão...

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  3. Curiosa a análise da Sra e o diagnóstico de situação...Decerto já terá delineadas estratégias de resolução, concordo com a Isabel BP e com a HSC.

    Ás vezes ler ajuda

    Diga Não aos seus filhos de John Rosemond

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  4. O que é patético é a incapacidade desta mãe em reconhecer a origem do problema.

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  5. Concordo Sr. Embaixador, ficava-lhe melhor não se escudar nos socialistas, para não assumir a falta de assertividade.

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  6. Diz-se perplexa a 'velha senhora' com o artigo de Inês Teotónio Pereira e com os comentários que o artigo e a articulista suscitaram:

    que tão triste redação
    mal escrita parva e tudo
    vos mereça citação
    comentário discussão
    é pra mim caso de estudo:
    desrazão? laivos de entrudo?

    irmãs filhas que sois gente
    como alcipe inteligente:
    dir-me-eis que me escapou
    nesse texto da teotónio?
    será mais que relambório?
    tão velha e bronca já estou?

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  7. Uma amiga minha leu este texto e veio-me dizer: "concordo contigo, os socialistas nunca crescem". Será que não ficou claro o meu total desacordo com as ideias do artigo de Inês Teotónio Pereira? Decididamente, é muito perigoso usar a ironia neste momento.

    a) Alcipe

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  8. A sua observação, caro Alcipe, levantou dúvidas também à nossa 'velha senhora':

    mais perigosa é ó meu
    caro alcipe a ironia
    pra quem se obriga como eu
    a rimar em cantoria
    quanto venho aqui dizer

    nunca sei se o que queria
    transmitir pra dar prazer
    obterá a simpatia
    de leitor pra o entender
    ou fará que de mim ria
    qualquer um que o venha a ler

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  9. Meu caro Alcipe
    A mando da velha senhora - que diz querer testar os limites da sua censura 'moral', depois de a paródia do 'Caçador Simão' ter sido cortada pela sua censura político-diplomática- envio-lhe a última estrofe da rimalhice de 16 de maio, que a senhora e eu acordámos então em omitir. Ah! a senhora pede-me que lhe transmita que até compreende os seus condicionalismos profissionais.

    ai esta triste mania
    de rimalhar qualquer porra
    saudosa da grã poesia
    que lia quando fodia
    ai quem comigo inda foda
    e faça com que eu me morra
    ao vir-me sim de alegria

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  10. …E a velha senhora ficou contente:

    quod erat demonstrandum
    vivó jov'embaixador
    que assim se expõe mesmo quando
    podia bem não se expor
    com coisas tolas de velha
    sem qualidade que valha
    pois que ninguém a aconselha
    e escreve mal o que callha

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  11. Ah, isso pouca-vergonha aqui é à vontade, querida senhora.

    a) Alcipe

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  12. Ó minha querida senhora,
    lá se veio aproveitar!
    Aqui a pouca-vergonha
    não é pra politizar...

    A censura já cortou!
    Mas mesmo assim lá sobrou
    a minha viril vontade
    de não fugir à verdade...

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  13. A velha senhora replica - sempre:

    ai verdade verdadinha
    cada um chama-lhe sua
    dizes que é vontade tua
    mais viril parece a minha

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  14. Diz-me a velha senhora que a 'quadrilha' que mandei ficaria assim melhor:

    na verdade a vontadinha
    cada um lá tem a sua
    é viril vontade a tua
    mais viril parece a minha

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