Sunday, October 30, 2011
Thursday, October 27, 2011
Poema
Sunday, October 23, 2011
A joy forever
O nu azul de Matisse
O poema que não irei escrever
Saturday, October 22, 2011
Camões: resposta a um inquérito do JL
A propósito da recente publicação do "Dicionário de Camões", da autoria do Prof. Vítor Manuel Aguiar e Silva, dei o seguinte depoimento ao JL, publicado no seu último número:
1 - Há algum verso de Camões que saiba de cor, costume citar ou de que goste particularmente? Qual? Porquê?
2- Camões foi de alguma maneira marcante no seu percurso literário? O que em especial sublinharia na sua obra?
3- Qual a importância de um dicionário como aquele que agora foi publicado para uma leitura de Camões hoje?
1 – Costumo citar dois versos de Os Lusíadas, de que gosto muito: “Tu, só tu, puro amor, com força crua,/ que os corações humanos tanto obriga”. Evidentemente pela referência à narrativa da tragédia amorosa de Inês de Castro, mas sobretudo pela sua força sonora. É a musicalidade que me atrai particularmente nestes versos. Há um outro da Canção IX, que poderia citar: “Era razão ser a razão vencida”. Aí mais pela força intelectual. Esse é um verso belíssimo, que de resto Jorge de Sena analisou muito bem enquanto pensamento dialéctico. Porque aparece aqui uma razão superior à razão, tal como numa síntese hegeliana.
2 – É evidente que foi muito marcante. Camões é o grande poeta da língua, fundamental para a música da Língua Portuguesa. Não quer dizer que a música da língua não esteja presente nos nossos trovadores, nos poetas medievais, na poesia da Corte, mas foi com Camões que se atingiu o cimo dessa vertente. Isto além de toda a riqueza cultural e temática quer da lírica, quer da épica. E não prefiro uma à outra. Todo o Camões é extraordinário. A épica tem coisas maravilhosas, mas também as encontro na lírica, nos sonetos, claro, mas de igual modo nas canções. É realmente o grande marco de grandeza da poesia portuguesa. Usando a terminologia de Harold Bloom, poderemos mesmo falar de uma “angústia da influência” em relação a Camões, o antepassado contra o qual se medem todos os poetas portugueses. E penso que, de fato, toda a poesia portuguesa é marcada de alguma maneira por essa figura incontornável. Bocage diz “Camões, grande Camões, quão semelhante…”, mostrando a sua admiração incondicional, mas Pessoa também estava obcecado com a construção de um super-Camões, que no fundo é um anti-Camões. A Mensagem é um anti-LusÍadas, posicionando-se assim o nosso outro grande poeta numa espécie de rivalidade ou antagonismo. Esse fenómeno dá bem a medida da importância da obra camoniana.
3 – Vindo do prof. Vítor Aguiar e Silva, um dos maiores e mais competentes estudiosos camonianos, o dicionário que vai ser publicado será com toda a certeza uma obra fundamental. Sem menosprezo por outros importantes trabalhos e sem querer ser injusto em relação a outros grandes camonianos, recordo os estudos de Jorge de Sena e de Vasco Graça Moura. Do ponto de vista do meu trabalho poético, foram as interpretações de Camões que estes autores deixaram que mais me vieram influenciar, não sendo eu nem um erudito, nem um investigador, nem um teórico da literatura. E claro que também os estudos de Vítor Aguiar e Silva foram extremamente importantes para mim, como autor e leitor de poesia. A sua obra é de facto magistral e é evidente que este será um dicionário que irei ler com toda a atenção.
Friday, October 21, 2011
Carta de marinheiro
Thursday, October 20, 2011
Wednesday, October 19, 2011
Tuesday, October 18, 2011
Monday, October 17, 2011
Friday, October 14, 2011
Thursday, October 13, 2011
A nossa condição
Saturday, October 8, 2011
Poema de Tomas Transtromer sobre o Funchal
FUNCHAL
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos. Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes, segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosőes de alho. O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer bem, um zunido das profundezas. Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso, horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram! Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado. E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce. Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design, violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo quando tiramos as roupas. Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz, expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua estranha. “um homem não é uma ilha”. Por meio deles fortalecemo-nos, mas também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão. Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio. Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro se consegue ler. |
Luís Costa (Portugal, 1964). Poeta e ensaísta. Inédito em livro. A tradução do poema de Tomas Tranströmer, feita por Luís Costa, tomou por base a versão alemã, realizada por Hans Grössel e incluída em Der Mond und die Eiszeit (1992), antologia do poeta sueco. Contacto: l.costa@web.de. |
Friday, October 7, 2011
Tomas Transtormer ouvindo Haydn
After a black day, I play Haydn,
and feel a little warmth in my hands.
The keys are ready. Kind hammers fall.
The sound is spirited, green, and full of silence.
The sound says that freedom exists
and someone pays no taxes to Caesar.
I shove my hands in my haydnpockets
and act like a man who is calm about it all.
I raise my haydnflag. The signal is:
"We do not surrender. But want peace."
The music is a house of glass standing on a slope;
rocks are flying, rocks are rolling.
The rocks roll straight through the house
but every pane of glass is still whole.