Monday, February 7, 2011

Madrid, 1981



Este livro de Javier Cercas procura entender algo que eu tenho bem vivo na minha memória, quando passámos uma noite intensa dentro da Embaixada em Madrid, em permanente contacto com Lisboa (o João Amaral, então no gabinete do MNE Gonçalves Pereira, sempre a falar do outro lado da linha do telefone, para não deixar cair a ligação - quando já nada havia a dizer, recitávamos Camões!), todos a aguardar ansiosamente o discurso do Rei.

Recordo-me de o chefe da conspiração militar, o enigmático general Armada, vir citar este poema de Campoamor, que aqui lembro:

"En este mundo traidor
nada es verdad ni mentira;
todo es según el color
del cristal con que se mira"

E nunca revelou o que sabia.

4 comments:

  1. Em Bagdade, então alvo de constantes ataques de mísseis iranianos, algumas semanas depois do golpe, o Secretário da Embaixada de Espanha reuniu um grupo de amigos para visionar uma cassette gravada dos acontecimentos desse dia.
    Recordo as imagens impressionantes da entrada de Tejero e dos seus apaniguados pelas Cortes adentro, a reacção de pânico de muitos dos deputados, a serena coragem de alguns (poucos) deles, como o histórico comunista e resistente Santiago Carrillo que recusou atirar-se para o chão e se manteve sentado.
    E lembro-me do orgulho comovido com que o "Manolo" Salazar Palma, hoje Embaixador, e a Mariangeles, sua Mulher, nos sublinhavam passagens da fala do Rei.
    Dentro de 10 dias terão passado trinta anos sobre esse episódio.

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  2. Ça ne nous rajeunit pas, cher Gil!

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  3. Curioso, quando li ao fazer a retroversão da quadra perdeu-se a rima no vê..., Também a revelação seria intraduzivel de forma transversal noutros contextos...

    O buda cego ri-se porque vê

    Chove intempestivamente e ... A chuva não é só água é um solfejo repetitivo de marcas passo a chamar-nos para reunir sinergias oriundas de um saber enigmático que tendemos a esconder por displicência fechando a porta a soluções para inibir fomes...

    Isabel Seixas

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  4. " O Buda cego ri-se porque vê"...
    A frase e o post lembraram-me parentes meus que viveram esse terrível momento que Alcipe refere.

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