Sunday, February 6, 2011

"Harmonia Caelestis"

A interpretação teatral que David Marton, com o Burgtheater de Viena, fez do notável romance de Peter Esterházy "Harmonia Caelestis", a que assistimos hoje na Casa de Cultura de Bobigny, fez-me regressar à Europa Central, aos seus dilaceramentos e terrores e consequentemente à narrativa europeia. E fez-me pensar como afinal nós somos parte dessa narrativa.

Somos? Não estaremos mais próximos dos goeses, dos brasileiros, dos angolanos? Que nos liga a esta Europa, muitas feridas da qual não partilhamos?

Sou contra todas as narrativas identitárias que procuram fechar a Europa numa ilha cristã, numa cultura fechada, numa fortaleza insegura a erguer muros de areia contra o mundo - "un barrage contre le Pacifique", na imagem de Marguerite Duras. Mas sei que sou europeu. Sei que os dramas da Europa são os dramas da minha família e que, quer as tradições riquíssimas, quer a arrogância de poder dos chamados países emergentes não pertencem à minha história. Eu sei : o Ocidente não deixa de merecer o que lhe está a acontecer. Mas a História não é e nunca foi feita de justiça e a minha família é a Europa. Com todos os seus defeitos. Irremediavelmente.

1 comment:

  1. Que belo texto, caro Alcipe.
    Não sei se sinto exactamente assim. Sei que sou europeia. Mas sei que não sou alemã, nem sueca, nem finlandesa, nem norueguesa.
    Sei que sou latina, duma Europa sulista e até, talvez, mais decadente.Ou seja pertenço a uma Europa menos rica, menos produtiva, menos eficaz, menos justa. Mas sei que lhe pertenço, por mais injusto que isso possa ser. E é a Portugal que quero pertencer, faça ou não, no futuro, parte dessa Europa que parece não o querer!

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