Bernard Henri Lévy conta no "Libération" de ontem a sua passagem pela Praça Tahrir, no Cairo:
"D'ailleurs, on prend l'un de mes compagnons de voyage pour un entraîneur portugais. Et c'est à ce titre qu'on le hisse sur une estrade improvisée et lui demande de dire quelques mots".
Pensavam que era o Manuel José? O francês aproveitou e falou às massas.
"""Vive Tahrir. Vous avez pris Tahrir comme la France a pris la Bastille. Et vous faites, sur Tahrir, la première révolution du XXIème siècle" À quoi lui répond une clameur.".
Os nossos treinadores de futebol abrem o caminho à Europa.
Sunday, February 27, 2011
Paris nunca ardeu
Há qualquer coisa de mais vivo e cintilante nos lugares que um dia tiveram que renascer das suas próprias cinzas : Lisboa de 1755, San Francisco de 1905, Berlim (e toda a Alemanha) de 1945 ...
Paris (felizmente) nunca ardeu. Foi um dia arrasado e refeito pelo prefeito Haussmann, para glória e segurança de um Império Napoleónico que só existia já na memória (eram tempos de Napoléon le Petit).
Vivemos o presente na memória, por isso falhamos sempre o nosso tempo. "Os homens fazem a História, mas não sabem a História que estão a fazer" (Marx).
Paris (felizmente) nunca ardeu. Foi um dia arrasado e refeito pelo prefeito Haussmann, para glória e segurança de um Império Napoleónico que só existia já na memória (eram tempos de Napoléon le Petit).
Vivemos o presente na memória, por isso falhamos sempre o nosso tempo. "Os homens fazem a História, mas não sabem a História que estão a fazer" (Marx).
Televisão portuguesa
Lanço o olhar sobre o debate na TVI 24 à volta da situação nos países árabes.
Os intervenientes obviamente não gostam de revoluções (foi visível quando se mencionou o 25 de Abril); mas também não os entusiasma de modo algum a perspectiva de eleições.
E porque é que foi então tão importante derrubar o ditador Saddam Hussein, que lá ia contendo a Al Qaeda e o Irão? Os jornais conservadores ingleses não lhes explicaram ainda porquê?
A democracia é um luxo ocidental?
Os intervenientes obviamente não gostam de revoluções (foi visível quando se mencionou o 25 de Abril); mas também não os entusiasma de modo algum a perspectiva de eleições.
E porque é que foi então tão importante derrubar o ditador Saddam Hussein, que lá ia contendo a Al Qaeda e o Irão? Os jornais conservadores ingleses não lhes explicaram ainda porquê?
A democracia é um luxo ocidental?
Saturday, February 26, 2011
Os livros que não comprei...
"Heard melodies are sweet, but those unheard
are sweeter"
(John Keats)
Depois de uma incursão pelas livrarias, porque é que não me saem da cabeça os livros que me interessaram, mas que acabei por não comprar?
Bom artigo hoje de José Pacheco Pereira no PUBLICO sobre esta paixão por aqueles nossos livros que nunca iremos ler (mas nunca sabemos quais são eles e por isso continuaremos a comprá-los até ao fim).
are sweeter"
(John Keats)
Depois de uma incursão pelas livrarias, porque é que não me saem da cabeça os livros que me interessaram, mas que acabei por não comprar?
Bom artigo hoje de José Pacheco Pereira no PUBLICO sobre esta paixão por aqueles nossos livros que nunca iremos ler (mas nunca sabemos quais são eles e por isso continuaremos a comprá-los até ao fim).
O fado da Democracia
Alguns dos nossos "fazedores de opinião", onde encontramos os opinadores mais reaccionários do mundo ocidental, depois do pessoal da FOX nos Estados Unidos, insistem em defender que a Democracia é um bem exclusivo da "civilização ocidental" (leia-se cristã) e consequentemente inadequado a quaisquer outras civilizações.
Pobres Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Japão...
Resta dar o passo seguinte : tal como o capitalismo, segundo Weber, nasceu da ética protestante, assim os países que não fizeram a Reforma deveriam também ser considerados inaptos para a Democracia (aliás, segundo os discípulos de Kristol e Himmelfarb, a Revolução Francesa foi um massacre, a Inglesa um chá das cinco - que o diga Carlos I! - e a Americana uma exemplar passagem pacífica - não leram "E Tudo o Vento Levou"...). A Europa do Sul e os irlandeses, católicos (ou ortodoxos) que não sabem gerir as suas contas, não mereceriam provavelmente a Democracia.
Jack Goody publicou agora um excelente (e grosso) livro divertindo-se sobre as grandes descobertas ocidentais que outros já tinham descoberto antes de nós...
The Rise of the Rest (como lhe chamou Fareed Zakaria) é impiedoso. Chorai, cronistas, chorai... Guitarras para a nossa imprensa!
Pobres Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Japão...
Resta dar o passo seguinte : tal como o capitalismo, segundo Weber, nasceu da ética protestante, assim os países que não fizeram a Reforma deveriam também ser considerados inaptos para a Democracia (aliás, segundo os discípulos de Kristol e Himmelfarb, a Revolução Francesa foi um massacre, a Inglesa um chá das cinco - que o diga Carlos I! - e a Americana uma exemplar passagem pacífica - não leram "E Tudo o Vento Levou"...). A Europa do Sul e os irlandeses, católicos (ou ortodoxos) que não sabem gerir as suas contas, não mereceriam provavelmente a Democracia.
Jack Goody publicou agora um excelente (e grosso) livro divertindo-se sobre as grandes descobertas ocidentais que outros já tinham descoberto antes de nós...
The Rise of the Rest (como lhe chamou Fareed Zakaria) é impiedoso. Chorai, cronistas, chorai... Guitarras para a nossa imprensa!
Wednesday, February 23, 2011
Homenagem a Espanha, no 23 de Fevereiro
Vientos del pueblo me llevan
Vientos del pueblo me llevan,
vientos del pueblo me arrastran,
me esparcen el corazón
y me aventan la garganta.
Los bueyes doblan la frente,
impotentemente mansa,
delante de los castigos:
los leones la levantan
y al mismo tiempo castigan
con su clamorosa zarpa.
No soy un de pueblo de bueyes,
que soy de un pueblo que embargan
yacimientos de leones,
desfiladeros de águilas
y cordilleras de toros
con el orgullo en el asta.
Nunca medraron los bueyes
en los páramos de España.
¿Quién habló de echar un yugo
sobre el cuello de esta raza?
¿Quién ha puesto al huracán
jamás ni yugos ni trabas,
ni quién al rayo detuvo
prisionero en una jaula?
Asturianos de braveza,
vascos de piedra blindada,
valencianos de alegría
y castellanos de alma,
labrados como la tierra
y airosos como las alas;
andaluces de relámpagos,
nacidos entre guitarras
y forjados en los yunques
torrenciales de las lágrimas;
extremeños de centeno,
gallegos de lluvia y calma,
catalanes de firmeza,
aragoneses de casta,
murcianos de dinamita
frutalmente propagada,
leoneses, navarros, dueños
del hambre, el sudor y el hacha,
reyes de la minería,
señores de la labranza,
hombres que entre las raíces,
como raíces gallardas,
vais de la vida a la muerte,
vais de la nada a la nada:
yugos os quieren poner
gentes de la hierba mala,
yugos que habéis de dejar
rotos sobre sus espaldas.
Crepúsculo de los bueyes
está despuntando el alba.
Los bueyes mueren vestidos
de humildad y olor de cuadra;
las águilas, los leones
y los toros de arrogancia,
y detrás de ellos, el cielo
ni se enturbia ni se acaba.
La agonía de los bueyes
tiene pequeña la cara,
la del animal varón
toda la creación agranda.
Si me muero, que me muera
con la cabeza muy alta.
Muerto y veinte veces muerto,
la boca contra la grama,
tendré apretados los dientes
y decidida la barba.
Cantando espero a la muerte,
que hay ruiseñores que cantan
encima de los fusiles
y en medio de las batallas.
Miguel Hernandez
Vientos del pueblo me llevan,
vientos del pueblo me arrastran,
me esparcen el corazón
y me aventan la garganta.
Los bueyes doblan la frente,
impotentemente mansa,
delante de los castigos:
los leones la levantan
y al mismo tiempo castigan
con su clamorosa zarpa.
No soy un de pueblo de bueyes,
que soy de un pueblo que embargan
yacimientos de leones,
desfiladeros de águilas
y cordilleras de toros
con el orgullo en el asta.
Nunca medraron los bueyes
en los páramos de España.
¿Quién habló de echar un yugo
sobre el cuello de esta raza?
¿Quién ha puesto al huracán
jamás ni yugos ni trabas,
ni quién al rayo detuvo
prisionero en una jaula?
Asturianos de braveza,
vascos de piedra blindada,
valencianos de alegría
y castellanos de alma,
labrados como la tierra
y airosos como las alas;
andaluces de relámpagos,
nacidos entre guitarras
y forjados en los yunques
torrenciales de las lágrimas;
extremeños de centeno,
gallegos de lluvia y calma,
catalanes de firmeza,
aragoneses de casta,
murcianos de dinamita
frutalmente propagada,
leoneses, navarros, dueños
del hambre, el sudor y el hacha,
reyes de la minería,
señores de la labranza,
hombres que entre las raíces,
como raíces gallardas,
vais de la vida a la muerte,
vais de la nada a la nada:
yugos os quieren poner
gentes de la hierba mala,
yugos que habéis de dejar
rotos sobre sus espaldas.
Crepúsculo de los bueyes
está despuntando el alba.
Los bueyes mueren vestidos
de humildad y olor de cuadra;
las águilas, los leones
y los toros de arrogancia,
y detrás de ellos, el cielo
ni se enturbia ni se acaba.
La agonía de los bueyes
tiene pequeña la cara,
la del animal varón
toda la creación agranda.
Si me muero, que me muera
con la cabeza muy alta.
Muerto y veinte veces muerto,
la boca contra la grama,
tendré apretados los dientes
y decidida la barba.
Cantando espero a la muerte,
que hay ruiseñores que cantan
encima de los fusiles
y en medio de las batallas.
Miguel Hernandez
Saturday, February 19, 2011
A democracia é boa para os árabes...
Joe Berardo diz que Portugal vive uma “democracia podre” e defende ser necessário “mudar o sistema político”, nem que seja com “um novo género de ditadura que todos temos de aprender”.
(PUBLICO)
(PUBLICO)
Revoluções árabes e comentadores portugueses
Não deixa de ser curioso ver que os mesmos que apoiaram sem reservas a cruzada de George W. Bush pela Democracia no Mundo Árabe estejam agora assustados e prevendo o pior quando o mundo árabe sai para a rua a exigir democracia...
Friday, February 18, 2011
Aos portugueses que somos nós
"Oh, poder ser tu sendo eu.
Ter a tua alegre inconsciência
E a consciência disso."
(Fernando Pessoa, "A Ceifeira")
Ter a tua alegre inconsciência
E a consciência disso."
(Fernando Pessoa, "A Ceifeira")
Sunday, February 13, 2011
Friday, February 11, 2011
Monday, February 7, 2011
Madrid, 1981
Este livro de Javier Cercas procura entender algo que eu tenho bem vivo na minha memória, quando passámos uma noite intensa dentro da Embaixada em Madrid, em permanente contacto com Lisboa (o João Amaral, então no gabinete do MNE Gonçalves Pereira, sempre a falar do outro lado da linha do telefone, para não deixar cair a ligação - quando já nada havia a dizer, recitávamos Camões!), todos a aguardar ansiosamente o discurso do Rei.
Recordo-me de o chefe da conspiração militar, o enigmático general Armada, vir citar este poema de Campoamor, que aqui lembro:
"En este mundo traidor
nada es verdad ni mentira;
todo es según el color
del cristal con que se mira"
E nunca revelou o que sabia.
Sunday, February 6, 2011
"Harmonia Caelestis"
A interpretação teatral que David Marton, com o Burgtheater de Viena, fez do notável romance de Peter Esterházy "Harmonia Caelestis", a que assistimos hoje na Casa de Cultura de Bobigny, fez-me regressar à Europa Central, aos seus dilaceramentos e terrores e consequentemente à narrativa europeia. E fez-me pensar como afinal nós somos parte dessa narrativa.
Somos? Não estaremos mais próximos dos goeses, dos brasileiros, dos angolanos? Que nos liga a esta Europa, muitas feridas da qual não partilhamos?
Sou contra todas as narrativas identitárias que procuram fechar a Europa numa ilha cristã, numa cultura fechada, numa fortaleza insegura a erguer muros de areia contra o mundo - "un barrage contre le Pacifique", na imagem de Marguerite Duras. Mas sei que sou europeu. Sei que os dramas da Europa são os dramas da minha família e que, quer as tradições riquíssimas, quer a arrogância de poder dos chamados países emergentes não pertencem à minha história. Eu sei : o Ocidente não deixa de merecer o que lhe está a acontecer. Mas a História não é e nunca foi feita de justiça e a minha família é a Europa. Com todos os seus defeitos. Irremediavelmente.
Somos? Não estaremos mais próximos dos goeses, dos brasileiros, dos angolanos? Que nos liga a esta Europa, muitas feridas da qual não partilhamos?
Sou contra todas as narrativas identitárias que procuram fechar a Europa numa ilha cristã, numa cultura fechada, numa fortaleza insegura a erguer muros de areia contra o mundo - "un barrage contre le Pacifique", na imagem de Marguerite Duras. Mas sei que sou europeu. Sei que os dramas da Europa são os dramas da minha família e que, quer as tradições riquíssimas, quer a arrogância de poder dos chamados países emergentes não pertencem à minha história. Eu sei : o Ocidente não deixa de merecer o que lhe está a acontecer. Mas a História não é e nunca foi feita de justiça e a minha família é a Europa. Com todos os seus defeitos. Irremediavelmente.
Saturday, February 5, 2011
Coisas do Egipto
O que aconteceria no Largo do Carmo no dia 25 de Abril de 1974 se o Spínola concordasse que devia ser o Marcello Caetano a conduzir a transição para a democracia?
(Os espanhóis fizeram isso, sim, mas aí quem depois veio pôr os tanques na rua foram os fascistas...)
Neste caso toda a diferença está na posição do Exército, é claro!
Mas qual é a posição do Exército do Egipto? Já deu para perceber?
( O Obama já mudou de ideias sobre o Mubarak, de um dia para o outro; e a Sra. Ashton diz que o Egipto... é um "fait divers", que nos não deve distrair do PPMO!) .
(Os espanhóis fizeram isso, sim, mas aí quem depois veio pôr os tanques na rua foram os fascistas...)
Neste caso toda a diferença está na posição do Exército, é claro!
Mas qual é a posição do Exército do Egipto? Já deu para perceber?
( O Obama já mudou de ideias sobre o Mubarak, de um dia para o outro; e a Sra. Ashton diz que o Egipto... é um "fait divers", que nos não deve distrair do PPMO!) .
Friday, February 4, 2011
Tuesday, February 1, 2011
Poema do jet lag
Que as cinzentas madrugadas em que acordo,
comigo a viver ainda em tempo indiano,
me ofereçam o verso e a vida no seu bordo
e me possam trazer de volta o sonho humano.
comigo a viver ainda em tempo indiano,
me ofereçam o verso e a vida no seu bordo
e me possam trazer de volta o sonho humano.
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