Wednesday, September 4, 2013

Qu'as-tu fait, o mon enfant, de ta jeunesse? (Verlaine)

Quando jovem, escolhi uma profissão ( para a qual fiz concurso de provas publicas) que me atraia por ser uma tarefa altamente política sem ter implicação partidária. Nao que eu seja apartidario, simplesmente nunca tive jeito para a vida dos partidos.

Meu avo adorou a ideia, meu pai achou a minha escolha uma aposta  tao boa como outra qualquer e meu tio, já resignado com o meu mediocre destino de nunca vir a ser um doutorado e futuro catedrático de Direito, apenas me disse que nunca conseguira entender bem o que os diplomatas faziam.

Fico perplexo hoje, quase no fim da carreira, ao dar-me conta que os políticos do meu pais, incluindo alguns dos meus melhores amigos, sentem e manifestam um indisfarcavel desprezo por esta profissão que eu escolhi. Agora e tarde para voltar atras. Provavelmente meu tio tinha razão.

Essa perplexidade tem-me levado a trazer para este blog textos literários sobre a vida diplomática e as  suas servidões e grandezas. Mas olhando para trás ( sem raiva) penso que gostei do que fiz no meu percurso profissional. E certo que gosto muito mais da familia que tive e escolhi, dos meus filhos e  tambem dos meus versos (la vira um novo livro para o ano, se tudo correr bem). Mas nao e por a alma ser pequena ou grande que a gente diz se valeu ou nao  a pena. Hoje a nossa sociedade olha para os diplomatas (que julga poderem ser substituídos por agentes comerciais) como Trotsky em 1917 olhava para a diplomacia ( "do ponto de vista da Revolução, so tenho que publicar os tratados secretos e fechar as embaixadas "). Nao, verdadeiramente so valeu a pena por nos próprios. E por uma coisa em que acreditamos que se chamava Portugal.




8 comments:

  1. "Do que fiz", escrito no passado. E continua a amargura pelo não reconhecimento alheio pela sua entrega e dedicação.

    Mas sabe, mágoas não pagam dívidas, e, por isso, para a frente é que é caminho. E muitos são sempre os caminhos.

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  2. Todos nós …
    temos continuamente necessidade de reconhecimento , de elogios. São-nos tão necessários como o alimento e água.
    E devemos tê-los, vindo apenas de pessoas que para nós são importantes, ou de instituições adequadas para o fazerem.
    Podemo-nos empenhar profundamente, realizar uma tarefa difícil, ter êxito, ser aclamados por todos,
    mas não por aqueles que desejaríamos que o fizessem.
    Estes sabendo isso , negam-nos de propósito a sua aprovação, para nos fazerem sofrer, para nos manterem dominados, para verem explodir de raiva ou chorar de impotência.
    POR VEZES
    …o poder de dar reconhecimento e elogios é essencialmente um poder negativo, um poder que faz sofrer.
    É incrível o abuso que todos nós fazemos deste poder.
    É incrível a quantidade de vinganças que praticamos desta forma silenciosa, não agindo, não fazendo.
    É incrível a quantidade de inúteis sofrimentos que infligimos aos outros.
    Há nas escolas, muitos professores que, durante todo o ano, não são capazes de dizer pelo menos uma vez “muito bem” a um aluno que se tenha esforçado por melhorar e que está pendente das suas palavras. E estão convencidos de que isto é rigor, seriedade, mas é apenas um desabafo dos seus rancores contra alguém mais fraco.
    Há dirigentes que andam sempre carrancudos, a quem nada corre bem, que mantêm toda a gente em estado de profunda incerteza .
    E sentem-se poderosos, intocáveis, sublimes.
    Há uma embriaguez da prevaricação, do poder sem regras, do arbítrio impelido pela inveja.

    E há também épocas infelizes

    em que este tipo de malvadez se acentua, em que todos se

    dedicam a criar dificuldades aos que agem,

    ao ponto de até os melhores frustrados,

    desistirem esgotados, não pelo trabalho,

    mas sim pelas lutas estéreis travadas contra os invejosos…

    Francesco Alberoni

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  3. Não sei se serve para alguma coisa , mas eu tenho a melhor impressão e o maior respeito pelo trabalho de quem representa Portugal com dignidade.
    Como aliás sei que é o caso.

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  4. Isabel, o meu problema nao e ter falta de elogios pessoais, na nossa sociedade de elogios e respeitinhos mútuos isso e facil e nada custa nem vale. O que me revolta e a profunda falta de reconhecimento, desprezo, humilhação de quem serve o Estado, entre os quais esta minha classe profissional, facil de invejar e de ridicularizar.

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  5. Desprezo e humilhação que nao vem forçosamente so da direita, vem tambem de alguns amigos socialistas que querem mostrar ao povo que sao moderados, rasgando, nao os seus próprios privilégios, como a aristocracia francesa em 4 de Agosto de 1789, mas sim ... os rendimentos dos outros!

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  6. É... Tem razão.
    Surpreendente a sua surpresa...

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  7. texto para reler e comentar mais tarde, agora não, sim tudo vale a pena, a partir de agora já não sei, que farão desta profissão, bem, quem a exerceu em tempos normais que se considere satisfeito e a rememore, é riqueza de vida e trabalho que não perdeu nem perde, quem vier agora, que seja como seja, sim há uma embriaguez da prevaricação, do poder sem regras, do arbítrio impelido pela inveja...etc etc etc

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  8. Tens razão, sem dúvida.
    Mas os teus amigos socialistas, "que querem parecer muito moderados" são mais factor de irritação do que realmente representativos. Acham que o mainstream paga dividendos e, por isso, fingem acreditar no novo-riquíssimo financeirista que tinta, infelizmente, a ideologia dominante.

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