Saturday, July 6, 2013

Um inédito de Conan Doyle (fim)

(...)

Nevava em Bilderberg. Tive saudades de um mundo razoável e ordenado, de Baker Street, com todo o seu nevoeiro e a sua fuligem. Virei-me para Holmes e disse-lhe:

- Holmes, reconheço que só a sua teoria pode explicar que o tio Wolfgang tenha nomeado Victor, o assassino, gerente das suas fábricas de Bratwurst na Baixa Saxónia, enquanto Peter e Paul foram obrigados a formar com Mary um conjunto musical (Peter, Paul and Mary, nota do editor) e assim a envenenada herança irá irrevogavelmente parar ao pobre Tony, que ainda não sabe bem o que o espera! Tudo isso faz sentido. Mas diga-me, não lhe ocorre um pensamento de piedade e compaixão para com aquela pobre gente?

Holmes encolheu os ombros, perante a minha pergunta.

- Watson, eu sigo a máxima de Espinoza: nem me lamento nem me regozijo, apenas quero compreender. E agora, se me permite, vou para o meu quarto e para o meu violino. Tenho uma partitura de Wagner à espera.

Fiquei algum tempo em silêncio, no salão daquele hotel de Bilderberg, olhando a neve a cair. Apercebi-me então que uma brasa tinha saltado da lareira e o tapete começara a arder. Por um momento  imaginei perversamente a reacção de Holmes quando visse o incêndio a entrar no seu quarto : continuaria a não se lamentar nem se regozijar, apenas a tentar compreender? Depois apaguei cuidadosamente todas as brasas, enquanto do violino de Holmes surgiam os acordes triunfais da Marcha Nupcial do Lohengrin.

Decidi então que nunca escreveria esta história.

                                             FIM




9 comments:

  1. uma das melhores histórias de sherlock, pena nunca ter sido escrita !!

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  2. Até me arrepiei (a sério...). Excelente texto.

    Mas, por favor, experiente e inteligente que é, ilumine-nos e conte a história até ao fim.

    Bom fim de semana!

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  3. Notável! Fico com curiosidade de conhecer o repertório do conjunto musical Peter, Paul and Mary... :))

    Isabel BP

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  4. Mordant, corrosif, incisif, acéré, satirique, cher Tim Tim!!!

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  5. Eu digo mais: se ao Conan "Doyle" àquela pobre gente "Doyle" muito mais

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  6. Há sentidos
    nos sentidos de humor
    que se transcendem e transcendem o autor...

    Embora comedidos
    revelando o quão respeitador
    é o poeta, mais o diplomata, sem esquecer o escritor...

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