(...)
Nevava em Bilderberg. Tive saudades de um mundo razoável e ordenado, de Baker Street, com todo o seu nevoeiro e a sua fuligem. Virei-me para Holmes e disse-lhe:
- Holmes, reconheço que só a sua teoria pode explicar que o tio Wolfgang tenha nomeado Victor, o assassino, gerente das suas fábricas de Bratwurst na Baixa Saxónia, enquanto Peter e Paul foram obrigados a formar com Mary um conjunto musical (Peter, Paul and Mary, nota do editor) e assim a envenenada herança irá irrevogavelmente parar ao pobre Tony, que ainda não sabe bem o que o espera! Tudo isso faz sentido. Mas diga-me, não lhe ocorre um pensamento de piedade e compaixão para com aquela pobre gente?
Holmes encolheu os ombros, perante a minha pergunta.
- Watson, eu sigo a máxima de Espinoza: nem me lamento nem me regozijo, apenas quero compreender. E agora, se me permite, vou para o meu quarto e para o meu violino. Tenho uma partitura de Wagner à espera.
Fiquei algum tempo em silêncio, no salão daquele hotel de Bilderberg, olhando a neve a cair. Apercebi-me então que uma brasa tinha saltado da lareira e o tapete começara a arder. Por um momento imaginei perversamente a reacção de Holmes quando visse o incêndio a entrar no seu quarto : continuaria a não se lamentar nem se regozijar, apenas a tentar compreender? Depois apaguei cuidadosamente todas as brasas, enquanto do violino de Holmes surgiam os acordes triunfais da Marcha Nupcial do Lohengrin.
Decidi então que nunca escreveria esta história.
FIM
Nevava em Bilderberg. Tive saudades de um mundo razoável e ordenado, de Baker Street, com todo o seu nevoeiro e a sua fuligem. Virei-me para Holmes e disse-lhe:
- Holmes, reconheço que só a sua teoria pode explicar que o tio Wolfgang tenha nomeado Victor, o assassino, gerente das suas fábricas de Bratwurst na Baixa Saxónia, enquanto Peter e Paul foram obrigados a formar com Mary um conjunto musical (Peter, Paul and Mary, nota do editor) e assim a envenenada herança irá irrevogavelmente parar ao pobre Tony, que ainda não sabe bem o que o espera! Tudo isso faz sentido. Mas diga-me, não lhe ocorre um pensamento de piedade e compaixão para com aquela pobre gente?
Holmes encolheu os ombros, perante a minha pergunta.
- Watson, eu sigo a máxima de Espinoza: nem me lamento nem me regozijo, apenas quero compreender. E agora, se me permite, vou para o meu quarto e para o meu violino. Tenho uma partitura de Wagner à espera.
Fiquei algum tempo em silêncio, no salão daquele hotel de Bilderberg, olhando a neve a cair. Apercebi-me então que uma brasa tinha saltado da lareira e o tapete começara a arder. Por um momento imaginei perversamente a reacção de Holmes quando visse o incêndio a entrar no seu quarto : continuaria a não se lamentar nem se regozijar, apenas a tentar compreender? Depois apaguei cuidadosamente todas as brasas, enquanto do violino de Holmes surgiam os acordes triunfais da Marcha Nupcial do Lohengrin.
Decidi então que nunca escreveria esta história.
FIM
Excelente!
ReplyDeleteuma das melhores histórias de sherlock, pena nunca ter sido escrita !!
ReplyDeleteBelo texto.
ReplyDeleteBom fim de semana.
Até me arrepiei (a sério...). Excelente texto.
ReplyDeleteMas, por favor, experiente e inteligente que é, ilumine-nos e conte a história até ao fim.
Bom fim de semana!
Notável! Fico com curiosidade de conhecer o repertório do conjunto musical Peter, Paul and Mary... :))
ReplyDeleteIsabel BP
Mordant, corrosif, incisif, acéré, satirique, cher Tim Tim!!!
ReplyDeleteEu digo mais: se ao Conan "Doyle" àquela pobre gente "Doyle" muito mais
ReplyDeleteHá sentidos
ReplyDeletenos sentidos de humor
que se transcendem e transcendem o autor...
Embora comedidos
revelando o quão respeitador
é o poeta, mais o diplomata, sem esquecer o escritor...