Thursday, July 25, 2013

Ainda "Os Maias"


O conde sorria com bonomia e superioridade a estes exageros de fantasista. E Carlos, ansioso por ser amável, atalhou, acendendo o charuto no dele:
- Que pasta preferiria você, Gouvarinho, se os seus amigos subissem? A dos Estrangeiros, está claro...
O conde fez um largo gesto de abnegação. Era pouco natural que os seus amigos necessitassem da sua experiência política. Ele tornara-se sobretudo um homem de estudo e de teoria. Além disso não sabia bem se as ocupações da sua casa, a sua saúde, os seus hábitos lhe permitiriam tomar o fardo do governo. Em todo o caso, decerto, a pasta dos Estrangeiros não o tentava...
- Essa, nunca! prosseguiu ele, muito compenetrado. Para se poder falar de alto na Europa, como ministro dos Estrangeiros, é necessário ter por traz um exercito de duzentos mil homens e uma esquadra com torpedos. Nós, infelizmente, somos fracos... E eu, para papéis subalternos, para que venha um Bismarck, um Gladstone, dizer-me «há de ser assim», não estou!... Pois não acha, Steinbroken?
O ministro tossiu, balbuciou:
- Certainement... C'est très grave... C'est excessivement grave...

(Eça de Queirós, Os Maias)

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