Tuesday, April 16, 2013

Uma Europa alemã?

Para o sociólogo alemão Ulrich Beck a actual Chanceler alemã Angela Merkel prática um princípio de orientação político que pode ser designado por “Merkiavelismo”. Há quatro componentes que orientam a prática do Merkiavelismo como política na relação entre a Alemanha e os restantes Estados Europeus. O primeiro reside em posicionar-se entre os adeptos da ortodoxia do Estado nação e os da construção Europeia, mas sem tomar posição por nenhum dos dois. O segundo princípio assenta em gerir por via da arte da dúvida e da hesitação, utilizando esses posicionamentos como meio de coerção perante os restantes países, ora dando a entender que poderá ou não intervir e deixando espaço para que os outros interpretem o que devem fazer para que seja feito o que é pretendido. A elegibilidade nacional é o terceiro princípio de actuação do Merkiavelismo e funciona como posicionamento face à construção europeia, isto é, só se pode fazer na Europa o que for aceitável fazer em casa (isto é na Alemanha). E, por último, a adopção da cultura alemã da estabilidade alicerçada em tudo sacrificar (cortar e poupar) em nome da estabilidade como um valor em si.
Como refere Beck o que vemos no final da crise do euro é a construção europeia de uma Europa Alemã. No fim de contas, a defesa da austeridade constitui um pilar da própria prática do Merkiavelismo na construção e uma Europa Alemã pós-crise financeira e do Euro.
Mas, como o Presidente do Conselho de Ministros Espanhol Mariano Rajoy referiu, tomando como exemplo Portugal, a austeridade não basta. Pelo menos, não basta se o objectivo for o crescimento e a recuperação do emprego. Como se depreende das palavras de Rajoy, já não se está a discutir se a austeridade funciona (não funciona) mas sim se se mantém a estabilidade política Europeia da Zona Euro assente nas políticas de austeridade e defendida pelo país mais forte da zona, terceiro exportador mundial de armamento, líder industrial global e porto de destino do aforro dos euros dos restantes dezasseis países da zona euro – isto é a Alemanha.
Há hoje muitos comentadores e políticos na Europa que acreditam que após as eleições alemãs do segundo semestre de 2013 a austeridade se tornará mais leve e que tudo mudará para melhor, que é uma questão de tempo, mas o problema é que o Merkiavelismo pode perdurar para além das eleições alemãs e de Angela Merkel, porque não se trata de um projecto pessoal mas de uma corporização num indivíduo de uma percepção cultural do lugar de um país na Europa.

(Gustavo Cardoso, in Público de 10/4/2013)

1 comment:

  1. é que, parafraseando marcelo rebelo de sousa, estamos feitos ao bife (alemão, cru, tartaro).
    as eleições teutonicas não vão mudar nada, fique merrckel ou outra(o).
    a alemanha sente~se bem rodeada de paises empobrecidos, sofredores, gemedores, pedindo, implorando, gritando palavrões, etc etc
    é a teoria de que tanto se fala agora, empobrecer para reinar, é a explicação das coisas pela linda mas cruel e hipocrita fabula da cigarra e da formiga, etc, etc
    não, nunca mais comprarei um volkswagen, não há nada como um pequeno carro coreano ou japonês...

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