Sunday, April 14, 2013

Da Alemanha



                    ( Ecce Homo, Lovis Corinth)


A exposição de arte alemã em Paris chamada "De l'Allemagne" (títulos de duas obras publicadas em francês por Madame de Stael (1810) e por Heinrich Heine (1855), sucessivamente) levantou objecções e censuras sérias por parte do jornal Die Zeit, o semanário mais ligado ao pensamento crítico alemão contemporâneo e bem longe de ser reaccionário.

A exposição, apresentada actualmente no Louvre, organiza-se em volta de dois eixos: a ligação do pensamento e da arte romântica alemã ao classicismo greco-latino e ao medievismo, por um lado e, por outro lado, a oposição nietzscheana entre apolíneo e dionisíaco, que teria levado alguns altos representantes da arte alemã, tal como Boecklin, a aparecerem como representantes do Sonderweg, da especificidade romântica alemã contra o racionalismo latino e a hegemonia cultural francesa (Apolo o racionalismo ocidental, Dionisos a paixão alemã - visão bem redutora e grosseira do verdadeiro pensamento de Nietzsche, por certo, mas que circulou).

Todos estes temas foram amplamente glosados no pós-guerra pelos pensadores alemães, de Thomas Mann a George Lukács (húngaro de cultura alemã), de Adorno a Siegfried Kracauer. Que a menção desta temática (certamente déjà vue) provoque esta reacção do melhor do jornalismo cultural alemão da actualidade, significa muito simplesmente que a Alemanha não quer mais ser vista através desta grelha de conceitos (ou destes estereótipos, se preferirem). E é muito significativo que uma das razões de escândalo para Die Zeit tenha sido o excerto do filme Olympia de Leni Riefenstahl, projectado na exposição (mas não é também arte alemã?).

Enfim, a Alemanha recusa-se neste momento a ser reduzida à imagem que o pós-guerra dela fez. Tudo isto é mais importante do que uma mera querela à volta dos critérios de uma exposição.

  

3 comments:

  1. sim, sem duvida, muito curioso, que quer tudo isso dizer, que a alemanha não mercece tal exposição ou que a exposição não merecia a alemanha? wagner ou rossini? leni riefenstahl ou charlie chaplin? d. quixote poderia ser acolhido pela alemanha? werther aceitaria ir para a sardenha? os turistas teutonicos continuam a ir para as ilhas gregas ou espanholas? falta algo por reunificar? continuam a gostar de tortilla ou preferem definitivamente o eisbein com sauerkraut e mostarda de rábano picante? o deutsche mark ainda lhes diz muito?
    etc etc

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  2. O Goethe gostava de ir para a Itália, o Hoelderlin e o Heidegger para a Grécia, este último, aliás, achava que só se podia filosofar em grego e em alemão...

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  3. ah! pois, um homem de bom gosto, o goethe, amar a italia e viajar até lá só lhe ficou bem, aliás é um escritor que merece toda a simpatia; o holderlin tambem, como falava da natureza! e sabemos que na grécia a natureza é a dos deuses, onde eles andavam, amavam, brigavam, pregavam partidas uns aos outros. de heidegger não digo nada nem das linguas em que dizia se devia filosofar.connais pas suffisamment ou rien du tout...
    mas os alemães fazem viagens mais raras, com 2as ou 3as intenções, a outros sitios menos europeus, e são silenciosos dentro das suas fronteiras mas barulhentos e bebedores ostensivos noutras latitudes...
    foi bonito falar em goethe e em italia, sim, foi, sentava-se no monte aventino com capa e chapeu negro de abas largas e olhava para o tibre lá em baixo, possivelmente escrevendo uma elegia. gostei, diga mais...

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