O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
ALEXANDRE O'NEILL
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
ALEXANDRE O'NEILL
Oh, Com todo o respeito e admiração, mas Ele próprio também um rato...Se não tinha ido a salto (mesmo vendo-se à Nora) ter com a Nora...
ReplyDeleteQuase todos...
Ingénuos,os agressores que pensam meter-Nos medo, a nós, que os parimos tendo o antidoto em segredo...
Ó Isabel Seixas, já leu as notícias?
ReplyDeletea) Feliciano da Mata, empresário, Golungo Alto
Ó Caro sr., Feliciano da Mata permita-me, está a falar nos Ganhos de mais Perdas?
ReplyDeleteE consegue ainda admirar-se...
Então não se sente pelo menos já 7% mais seguro socialmente e com menos carga do PIB...
Não se preocupe que este governo encarregar-se-á
de lhe aumentar as defesas contra as adversidades reforçando-lhe o sistema imunitário, facultando-lhe com a desfaçatez mais natural a exposição a agentes que o farão habituar-se...
E Tudo isto "em amena cavaqueira"
Ora o Climax, conseguir ascender por analogia com os ditames religiosos já crucificados por antecipação ao poder de compra da cruz no deserto.
Ah, eu já sou Mulher...
O medo não me terá a mim, que ganhei o direito de dizer o que penso.
ReplyDeleteO medo não me terá a mim enquanto for capaz de me indignar
O medo não me terá a mim enquanto a palavra me não faltar
O medo não me terá a mim enquanto eu tiver a capacidade de lutar
O medo não me terá a mim, assim!
é evidente que o poema pode ser actualizado acrescentando: o medo vai ter a imagem de passos coelhos, o medo falará devagar como os gaspares, o medo será o ultimo e o proximo irs, o medo serão as prosperas casas de penhores, serão os desafios ao tribunal constitucional, o medo será forte como nunca foi, os medos passados eram contos de fadas, os lobos maus já não causam medos pois agora têm medo, etc etc
ReplyDeleteA velha rimalhadeira desaustinou de todo com as últimas notícias. Bebeu e berrou insultos e palavrões, mais que de costume, e que queria ir prá luta mas não sabia onde, e que a 'boa amiga helena' a desculpasse mas 'palavrar' não chegava, etc. etc.. Acalmou-se por fim e, exausta e sonolenta (e/ou etilizada?), pôs-se a resmungar em cantilena, que tentei apanhar e aqui transcrevo:
ReplyDelete'deixou medos deu sarilhos
são mamede em guimarães
há mães que atacam os filhos
filhos que batem nas mães
seguiu teresa mau trilhos
levada por charlatães
quem tem filhos tem cadilhos
cadilhos pequenos cães
mãe no degredo
filho caudilho
a mãe tem medo
filho tem brilho
bebo embebedo
um sonetilho
não me embebedo
bebo um quartilho
ai porra credo
mas que chorrilho
em que me enredo
rompo o espartilho
findo o brinquedo
do sonetilho
digo em segredo
que é empecilho
cedo concedo
ser pecadilho
tudo arremedo
mas não me humilho
vou pró vinhedo
e as uvas pilho
com só bruxedo
do trocadilho
não sou rochedo
nem sou rastilho
aquí me quedo
sem estribilho
não tenho medo
não tenho filho
não tenho medo
não tenho filho
não tenho medo
não tenho filho'
…E, repetindo isto, a Senhora adormeceu.
Caro senhor cuidador da nossa velha Amiga, agradeço e felicito-o por ser porta voz e deixar a Sra fazer catarse pelo menos respira "liberdade de expressão" inibindo o risco de asfixia...
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