Monday, April 25, 2011

Memória


Nós não esquecemos.

No dia seguinte, no restaurante ao lado do "República", a sensação estranha de se poder falar de política em voz alta, sem receio dos pides à escuta na mesa do lado.

Dois dias depois, na chegada de Mário Soares a Santa Apolónia, a sensação estranha de estarmos ali todos em aberta manifestação, sem esperarmos a polícia de choque.

Para muitos isto não quererá dizer nada. Para alguns os pides seriam uns pacíficos funcionários públicos e os polícias de choque eram como os de todo o mundo.

E políticos, quantos mais fossem exilados ou presos melhor : não havia então uma união nacional para salvar a Pátria?

Mas nós não esquecemos.

3 comments:

  1. Esse restaurante era o "Mealhada". No dia 24, depois das idas e vindas de Almada Contreiras para os acertos e estando tudo bem acertado, almocei com Álvaro Guerra, a sós, fizemos questão disso. O Álvaro: "Pá! Se isto falhar e um de nós dois estiver cá fora, o outro vai levar um cigarrinho...". Eu: "Oh, Álvaro! Se falhar, o mais certo é nenhum dos dois ficar cá fora. E a boca não ficará em condições para segurar o cigarrinho. E então no meu caso, este cachimbo!". E rimos, deveras românticos. Essas contas não nos metiam medo. Não queríamos acreditar que, no dia seguinte, ali, no mesmo Mealhada, a liberdade não fosse já o prato do dia. E foi. Novo almoço e ele pediu para fumar pelo meu cachimbo. Não havia nojo.

    Carlos Albino

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  2. No fundo, há muita gente que não esqueceu.
    Os que se sentiram libertados, certamente.
    Mas também não esqueceram muitos dos outros, que andam, outra vez, "em bandos, com pés de veludo".
    Nem alguns dos seus serventuários que, de cabeça sempre baixa e cerviz dobrada, oferecem abjetamente o pescoço para que lhe suguem o sangue e continuam reverentes e obrigados.

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