Ainda me lembro quando a minha filha comprou a sua casa : ela tinha, por herança deixada pela mãe, dinheiro suficiente para comprar a casa a pronto pagamento.
O banco explicou então que a decisão racional, dadas as taxas de juro praticadas à época, era a minha filha deixar as suas poupanças depositadas no banco e pedir um empréstimo para pagar a casa.
Do ponto de vista da racionalidade económica, o banco até tinha razão. Além de vir ganhar os juros de mais um empréstimo.
Mas a minha filha tinha um pai careta e pouco business-friendly, que resolveu que a casa se pagaria a pronto e não haveria empréstimo nenhum. Os funcionários do banco acusaram-me logo de deixar a minha filha "sem liquidez".
Claro que a maioria das pessoas que se endividaram para pagar casa não tinham sequer esta escolha. Mas não me venham agora dizer que a culpa do endividamento brutal da banca portuguesa foi dos gananciosos e irresponsáveis cidadãos e não dessas vestais sagradas (ia dizer vacas sagradas) da economia financeira...
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Sinceramente preferia usar as vacas...sagradas, claro está!
ReplyDeleteÉ que vestais, já há poucas e nessa área não existem!
Não é só a questão de nem todos conseguirem pagar uma casa a pronto, embora seja uma questão importante, dado que duvido que muita gente o consiga fazer! É também a questão de que não há/havia um mercado de arrendamento a funcionar devidamente. E assim, quem queria casa própria, acabava por ser demasiadas vezes 'obrigado', por falta de opção, a comprá-la a crédito.
ReplyDeleteIsto tem impacto nas saídas de casa dos pais, tornando-as mais difíceis, e tem também influência na mobilidade das pessoas. Investir numa casa é um investimento avultado, e normalmente significa uma enorme dívida a longo prazo. Dívida essa que se tem de pagar. Ora, se é assim, e a pessoa encontrar um emprego noutro lado, mas:
* tem muitos recursos presos naquela casa, que não pode rentabilizar muito por o mercado de arrendamento não funcionar bem;
* não encontra casa para arrendar no outro local;
então a pessoa vai tender a ficar 'presa' àquela casa e ao emprego que tiver no momento. (No que é ajudada ainda pelo facto do fluxo de criação de empregos em Portugal ser baixo.)
Anda-se, bocadinho a bocadinho, a regular de forma mais eficaz o mercado de arrendamento em Portugal. Mas é preciso continuar. Aí as pessoas teriam uma muito melhor alternativa a pedir crédito para comprar casa.
Concordo contigo, João Pedro, mas as rendas injustas (que vêm do tempo do Salazar) foram sempre a válvula de escape para problemas sociais e de salários baixos (os mais baixos desde sempre da Europa) que assim eram amortecidos...
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