"O marquês carambolara, ganhando a partida, e triunfava também:
- Você trouxe-me a sorte, Carlos!
Steinbroken depusera logo o taco e alinhava já sobre a tabela, lentamente, uma a uma, as quatro placas perdidas.
Mas o marquês, de giz na mão, reclamava-o para outras refregas, esfaimado de ouro finlandês.
- Nada mach... Você hoje 'stá têrível! - dizia o diplomata, no seu português fluente, mas de acento bárbaro.
O marquês insistia, plantado diante dele, de taco ao ombro como uma vara de campino, dominando-o com a sua maciça, desempenada estatura. E ameaçava-o de destinos medonhos numa voz possante habituada a ressoar nas lezírias; queria-o arruinar ao bilhar, forçá-lo a empenhar aqueles belos anéis, levá-lo a ele, ministro da Finlândia e representante de uma raça de reis fortes, a vender senhas à porta da rua dos Condes!
Todos riam; e Steinbroken também, mas com um riso franzido e difícil, fixando no marquês o olhar azul-claro, claro e frio, que tinha no fundo da sua miopia a dureza dum metal. Apesar da sua simpatia pela ilustre casa de Sousela, achava estas familiaridades, estas tremendas chalaças, incompatíveis com a sua dignidade e com a dignidade da Finlândia."
(Eça de Queirós, "Os Maias", cap. V)
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bem a propósito das eleições de hoje no país da "raça de reis fortes e olhos com a dureza do metal".
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