O 25 de Abril à sombra das azinheiras...
Wednesday, April 27, 2011
Tuesday, April 26, 2011
Discursos à nação portuguesa
" Il faut donc se sentir coupable. Nous voilà traînés au confessionnal laïque , le pire de tous"
(Albert Camus)
Monday, April 25, 2011
Memória
Nós não esquecemos.
No dia seguinte, no restaurante ao lado do "República", a sensação estranha de se poder falar de política em voz alta, sem receio dos pides à escuta na mesa do lado.
Dois dias depois, na chegada de Mário Soares a Santa Apolónia, a sensação estranha de estarmos ali todos em aberta manifestação, sem esperarmos a polícia de choque.
Para muitos isto não quererá dizer nada. Para alguns os pides seriam uns pacíficos funcionários públicos e os polícias de choque eram como os de todo o mundo.
E políticos, quantos mais fossem exilados ou presos melhor : não havia então uma união nacional para salvar a Pátria?
Mas nós não esquecemos.
Thursday, April 21, 2011
Um momento de desânimo
""Quand j'aborde une situation, elle me dégoûte d'avance par sa vulgarité - Je ne fais autre chose que de doser de la merde - C'est pour cela que j'ai tant de mal à écrire"
(Gustave Flaubert, carta a Louise Colet)
Wednesday, April 20, 2011
A resposta de Steinbroken, num soneto
Sou finlandês : meu coração é frio,
enquanto não nos dão vodka gelado!
Não sou pior que tu no desafio,
rico alemão que temes juro dado...
Inglês, tu deves e não temes, bem:
assim é que se porta um cavalheiro!
Franceses rodam todos num vaivém,
ao sul falta-vos "rating" e dinheiro...
Sou finlandês : meu coração é frio.
Mas que querem que faça desta Europa?
Na Líbia falta o ganho, sobra o brio.
Há um cheiro de fascismo à nossa porta:
no Báltico, em Paris, pelo Danúbio
e por toda essa Europa num conúbio!
Tuesday, April 19, 2011
Citando os clássicos : Marx
"I would never become a member of a country club that would accept me as a member" -- Groucho Marx
Sunday, April 17, 2011
Citando os clássicos : Nobre e a vaidade
Vaidade, Tudo Vaidade!Vaidade, meu amor, tudo vaidade! Ouve: quando eu, um dia, for alguem, Tuas amigas ter-te-ão amizade, (Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm. Vaidade é o luxo, a gloria, a caridade, Tudo vaidade! E, se pensares bem, Verás, perdoa-me esta crueldade, Que é uma vaidade o amor de tua mãe... Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna E eu vi-me só no mar com minha escuna, E ninguem me valeu na tempestade! Hoje, já voltam com seu ar composto, Mas eu, ve lá! eu volto-lhes o rosto... E isto em mim não será uma vaidade? António Nobre, in 'Só' |
Citando os clássicos : Eça de Queirós
"O marquês carambolara, ganhando a partida, e triunfava também:
- Você trouxe-me a sorte, Carlos!
Steinbroken depusera logo o taco e alinhava já sobre a tabela, lentamente, uma a uma, as quatro placas perdidas.
Mas o marquês, de giz na mão, reclamava-o para outras refregas, esfaimado de ouro finlandês.
- Nada mach... Você hoje 'stá têrível! - dizia o diplomata, no seu português fluente, mas de acento bárbaro.
O marquês insistia, plantado diante dele, de taco ao ombro como uma vara de campino, dominando-o com a sua maciça, desempenada estatura. E ameaçava-o de destinos medonhos numa voz possante habituada a ressoar nas lezírias; queria-o arruinar ao bilhar, forçá-lo a empenhar aqueles belos anéis, levá-lo a ele, ministro da Finlândia e representante de uma raça de reis fortes, a vender senhas à porta da rua dos Condes!
Todos riam; e Steinbroken também, mas com um riso franzido e difícil, fixando no marquês o olhar azul-claro, claro e frio, que tinha no fundo da sua miopia a dureza dum metal. Apesar da sua simpatia pela ilustre casa de Sousela, achava estas familiaridades, estas tremendas chalaças, incompatíveis com a sua dignidade e com a dignidade da Finlândia."
(Eça de Queirós, "Os Maias", cap. V)
- Você trouxe-me a sorte, Carlos!
Steinbroken depusera logo o taco e alinhava já sobre a tabela, lentamente, uma a uma, as quatro placas perdidas.
Mas o marquês, de giz na mão, reclamava-o para outras refregas, esfaimado de ouro finlandês.
- Nada mach... Você hoje 'stá têrível! - dizia o diplomata, no seu português fluente, mas de acento bárbaro.
O marquês insistia, plantado diante dele, de taco ao ombro como uma vara de campino, dominando-o com a sua maciça, desempenada estatura. E ameaçava-o de destinos medonhos numa voz possante habituada a ressoar nas lezírias; queria-o arruinar ao bilhar, forçá-lo a empenhar aqueles belos anéis, levá-lo a ele, ministro da Finlândia e representante de uma raça de reis fortes, a vender senhas à porta da rua dos Condes!
Todos riam; e Steinbroken também, mas com um riso franzido e difícil, fixando no marquês o olhar azul-claro, claro e frio, que tinha no fundo da sua miopia a dureza dum metal. Apesar da sua simpatia pela ilustre casa de Sousela, achava estas familiaridades, estas tremendas chalaças, incompatíveis com a sua dignidade e com a dignidade da Finlândia."
(Eça de Queirós, "Os Maias", cap. V)
Saturday, April 16, 2011
Relendo os clássicos : Shakespeare, discurso de Marco António
'Friends. Roman, countrymen, lend me your ears.
I come to bury Caesar, not to praise him."
(Shakespeare, "Julius Caesar")
I come to bury Caesar, not to praise him."
(Shakespeare, "Julius Caesar")
Sunday, April 10, 2011
Relendo os clássicos : Molière
« Géronte. — Il me semble que vous les placez autrement qu'ils ne sont ; que le cœur est du côté gauche, et le foie du côté droit.
Sganarelle. — Oui, cela était autrefois ainsi, mais nous avons changé tout cela. »
Molière, "Le Médecin malgré lui" (Acte II, scène IV)
Sganarelle. — Oui, cela était autrefois ainsi, mais nous avons changé tout cela. »
Molière, "Le Médecin malgré lui" (Acte II, scène IV)
Monday, April 4, 2011
Leituras da Índia (2) : diplomatas escritores...
Excerto de "Mémoire" de Catherine Clément:
"En anglais, en allemand, en français, la conversation connaissait avec moi un parcours immuable.
- À quoi employez-vous votre temps? Le golf ou le tennis?
- Non, j´écris.
- Votre journal, alors?
- Non, des livres.
- Ah! Et vous pensez être un jour publiée?"
Por esta altura (1987), a senhora embaixatriz Catherine Clément já tinha publicado onze livros de sua autoria e cinco em colaboração!
"En anglais, en allemand, en français, la conversation connaissait avec moi un parcours immuable.
- À quoi employez-vous votre temps? Le golf ou le tennis?
- Non, j´écris.
- Votre journal, alors?
- Non, des livres.
- Ah! Et vous pensez être un jour publiée?"
Por esta altura (1987), a senhora embaixatriz Catherine Clément já tinha publicado onze livros de sua autoria e cinco em colaboração!
Leituras da Índia
Não é presunção : Catherine Clément é uma notável escritora e intelectual, estudou a Índia com toda a seriedade enraizada na sua formação na École Normale Supérieure, na sua condição de discípula de Claude Lévi-Strauss e na sua identidade de prolixa, respeitada e diversificada autora, da escola de Barthes e de Lacan. Ela sem dúvida soube tirar partido de forma inteligente e criadora da sua condição acidental de embaixatriz na Índia entre 1987 e 1991. O seu "Les Dieux de l'Inde" é uma boa introdução ao Hinduísmo, feita em termos simples e acessíveis. Contou, de forma atractiva e empolgante, mas sem qualquer voyeurismo, o romance entre Nehru e Edwina Mountbatten ("Pour l'Amour de l'Inde"). Mas esta "Mémoire" que no ano passado publicou, na parte que respeita à Índia, faz-me sentir um misto de insatisfação e de empatia, que peço por favor não tomem por presunção. Catherine Clément, como eu, leu a Índia, dialogou com a Índia, procurou entender, com o empenhamento do seu afecto e com os seus instrumentos teóricos (por certo, bem superiores aos meus) aquela realidade prodigiosa. Mas não chega (como eu não cheguei) ao essencial...
Malraux, esse, inventou a Índia. Mas é bem mais forte o que ele escreve e, por falso que possa ser, faz-nos chegar mais longe!
Será que só mentindo um pouco conseguimos entender o Outro?
"Je suis un mensonge qui dit toujours la vérité" (Jean Cocteau)
Malraux, esse, inventou a Índia. Mas é bem mais forte o que ele escreve e, por falso que possa ser, faz-nos chegar mais longe!
Será que só mentindo um pouco conseguimos entender o Outro?
"Je suis un mensonge qui dit toujours la vérité" (Jean Cocteau)
Sunday, April 3, 2011
Dos bancos (2)
Um dos senhores que dirigia um desses bancos falidos que sobrecarregam hoje o nosso défice explicou-me em tempos idos, com muita cortesia e gentileza, durante um jantar aliás simpático, que eu, enquanto funcionário público, representava um puro encargo e um entrave para o país e para os verdadeiros criadores de riqueza, como ele próprio. Senti-me miseravelmente culpado pela estagnação nacional.
Dos bancos (1)
Ainda me lembro quando a minha filha comprou a sua casa : ela tinha, por herança deixada pela mãe, dinheiro suficiente para comprar a casa a pronto pagamento.
O banco explicou então que a decisão racional, dadas as taxas de juro praticadas à época, era a minha filha deixar as suas poupanças depositadas no banco e pedir um empréstimo para pagar a casa.
Do ponto de vista da racionalidade económica, o banco até tinha razão. Além de vir ganhar os juros de mais um empréstimo.
Mas a minha filha tinha um pai careta e pouco business-friendly, que resolveu que a casa se pagaria a pronto e não haveria empréstimo nenhum. Os funcionários do banco acusaram-me logo de deixar a minha filha "sem liquidez".
Claro que a maioria das pessoas que se endividaram para pagar casa não tinham sequer esta escolha. Mas não me venham agora dizer que a culpa do endividamento brutal da banca portuguesa foi dos gananciosos e irresponsáveis cidadãos e não dessas vestais sagradas (ia dizer vacas sagradas) da economia financeira...
O banco explicou então que a decisão racional, dadas as taxas de juro praticadas à época, era a minha filha deixar as suas poupanças depositadas no banco e pedir um empréstimo para pagar a casa.
Do ponto de vista da racionalidade económica, o banco até tinha razão. Além de vir ganhar os juros de mais um empréstimo.
Mas a minha filha tinha um pai careta e pouco business-friendly, que resolveu que a casa se pagaria a pronto e não haveria empréstimo nenhum. Os funcionários do banco acusaram-me logo de deixar a minha filha "sem liquidez".
Claro que a maioria das pessoas que se endividaram para pagar casa não tinham sequer esta escolha. Mas não me venham agora dizer que a culpa do endividamento brutal da banca portuguesa foi dos gananciosos e irresponsáveis cidadãos e não dessas vestais sagradas (ia dizer vacas sagradas) da economia financeira...
Saturday, April 2, 2011
Abril
April is the cruelest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
(T.S. Eliot, "The Waste Land")
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
(T.S. Eliot, "The Waste Land")
"Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte" (Álvaro de Campos)
Em nenhum lugar terás refúgio:
mas o que julgas condenação é o altivo destino
da tua liberdade.
mas o que julgas condenação é o altivo destino
da tua liberdade.
Friday, April 1, 2011
Perda
Não serás visto nem ouvido.
Os teus olhos a afagar o escuro,
a escada breve a interromper-se já.
E nunca temos a certeza de uma perda.
Foi um ruído ao longe,
que imaginámos ser música.
Os teus olhos a afagar o escuro,
a escada breve a interromper-se já.
E nunca temos a certeza de uma perda.
Foi um ruído ao longe,
que imaginámos ser música.
Mãe Pobre
"Terra pátria serás nossa
e mais o céu que te cobre.
Serás nossa, Mãe Pobre
de gente pobre!"
(Carlos de Oliveira)
e mais o céu que te cobre.
Serás nossa, Mãe Pobre
de gente pobre!"
(Carlos de Oliveira)
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