Velásquez, Vénus ao espelho , National Gallery, Londres
se a vénus ao espelho fosse
uma oliveira a arder por dentro
com sua chama de óleo doce
e tudo em brasa desde o centro,
se o seu espelho acaso fosse
embaciado pelo alento
que algum cupido em voo trouxe
entre desejo e atrevimento,
se o ar no quarto depois fosse
feito luz táctil do aposento
e se entranhasse a tomar posse
da nudez rósea no cinzento,
e se velázquez então fosse
pintar-lhe o ensimesmamento
eu te diria: misturou-se
ao próprio instinto o pensamento.
Vasco Graça Moura, em Laocoonte, rimas várias, andamentos graves, 2005
Obrigada, Luís, por nos recordar Vasco Graça Moura! Que grande poema! Beijo.
ReplyDeleteMuito bonito.
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