Saturday, April 18, 2015

Zé Mariano


Vão-se embora assim, sem avisar.
Tudo nos diz, é verdade, que o nosso tempo passou
e que agora destroem tudo o que fizemos com tenaz paciência
e álacre vontade.
É certo.
Mas podiam ao menos deixar-nos ficar a um canto
a rememorar ladainhas, a entoar antigos motes,
a viver, em suma.
Mas tu não querias isso. Tu ficaste até ao fim
e sorrias e respondias à vida com o teu trabalho constante,
como outros respondem com poemas vagos
e vidas vãs.
Adeus, Zé Mariano, aos dezassete anos falávamos de Cesariny
em casa do Jorge Silva Melo
e há três anos a nossa última conversa
foi para preparar com todo o rigor a visita à UNESCO
do teu sucessor no Ministério.
Ali em Paris, onde nos corredores do horrendo edifício da Fontenoy,
lembrávamos juntos o Cesariny e o "coitado do Jorge".  Adeus, Zé Mariano.


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