Saturday, May 2, 2015

O PIJAMA DE MATISSE, Miguel-Manso, "Persianas", 2015



(Henri Matisse, Autoportrait)

a fotografia

libertou a pintura e a pintura (feroz
entre donatellos)
aprisionou Matisse ao coxim da idade
à doença

o cabo comprido da broxa
de pêlo redondo a riscar a parede ao fundo
a tesoura a recortar figuras
de jazzístico entusiasmo para lá da marroquina
maneira

sobre o colo

e três aves sobre a gaiola aberta
ao lume do dia

falei já de padrões de tecido
pigmentos detalhes
trovo agora sobre o fêmeo prazer
de pintar

do ofício de pôr no mundo clarões
e sombreados
retinianos provimentos obstados por atormentadas
vanguardas

a última: o dinheiro

o que hoje redijo é pobreza
e desenho
esboço hesitado a dar notícia
do que ficou por olhar à retaguarda
longe do pelotão que progride
do simulacro para o simulacro pelo
simulacro

também eu repeti em tempos: a pintura morreu

do alto de uma infeliz sobranceria
articulando a um canto da juventude
o compósito equívoco de uma
instalação

recostado nos séculos (os que foram
os que ainda)
e trabalhando de pijama (mamai desta largueza ó
sadios empregados-por-conta-de-outrem)
o velho Matisse ensina-nos pelo menos duas
coisas:

a morrer
aproximando-se


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