Tuesday, October 7, 2014

Canção diante de uma porta fechada





Estou a escutar o Anjo, espero a exortação,
o grito, a inscrição das minhas palavras numa ordem celeste
ou tão só imanente, rente à terra, ao nu dizer
- mas ninguém me responde!


O silêncio de Deus é como um telefone a tocar no vazio,
sem uma voz tranquilizadora a responder-nos "deixe a sua mensagem...",
é um labirinto em torno dos possíveis,
é um dizer do dizer sem ter de que dizer.


E foi sempre assim a poesia, dizes?
Mesmo Dante ordenava as esferas celestes
só para enfrentar o silêncio?


Bom, deixemos os velhos mestres:
a poesia é uma conversa
que só tem lugar quando ninguém está a ouvir.
É talvez uma dança ao silêncio de Deus.







5 comments:

  1. Ontem numa esplanada a ver o rio
    a voz de Paul Simon trouxe-me de volta ao som do silêncio

    e mansamente lembrei os dias de menina nova quando emoldurava com ela
    pensamentos saudades emoções

    não, não é nostalgia
    a canoa rasgou um traço de beleza no meu dia
    a música tomou a cor do meu rio
    a palavra não envelheceu


    e eu?
    que é feito de mim?

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  2. Ontem numa esplanada a ver o rio
    a voz de Paul Simon trouxe-me de volta ao som do silêncio

    e mansamente lembrei os dias de menina nova quando emoldurava com ela
    pensamentos saudades emoções

    não, não é nostalgia
    a canoa rasgou um traço de beleza no meu dia
    a música tomou a cor do meu rio
    a palavra não envelheceu


    e eu?
    que é feito de mim?

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  3. Meu caro Alcipe
    Belo soneto sobre a poesia!
    Se quiser descer à terra dos não-poetas, veja o sonetilho da velha rimalhadeira em "Duas ou três coisas" de ontem, que fala de si.

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  4. alguém que conheci era pouco amigo dos presentes compostos exprimindo aspectos durativos, estou a escutar, estou tocando, escuto dirá então tudo, escuto o anjo, sim, esse inicio de verso ficaria leve e simplificado mas com o mesmo significado com escuto o anjo, mas o poeta é quem sabe de si e a forma que escolheu é a que conta, o mesmo para quando ninguém a ouve, e um interroga-se sobre a arquitectura poetica, porque assim e não assado, embora o leitor tambem tenha opinião, belo soneto ou quase ou um pouco mais

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