Saturday, April 28, 2012

25 de Abril

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando
no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.

Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não: brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha."


Jorge de Sena, Fidelidade (1958), Moraes, Lisboa

5 comments:

  1. bom poema de jds que dá gosto ler, as ideias encadeiam se numa grande lógica do primeiro ao ultimo verso. se foi inspirado ou dedicado ao 25a já não sei.

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  2. Caro Patrício Branco, o poema é anterior a 1974, repare que foi publicado em 1958. Um abraço.

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  3. Brilha a mudança...
    Algures provocando a sensibilidade estética
    Subrepticia faz ablação de imóveis
    num intuito omisso
    Não para donas de casa inteligentes
    Que silenciam em prol do nivel e da classe
    Assumindo o protagonismo mais alto
    nos bastidores
    deixando correr deliberadamente a exposição máscula
    Num encolher de ombros pffff...
    Nem ralado nem consumido...

    Ora então permita-me Sr. Embaixador Poeta
    viva o 25 de abril do género feminino com tropas sérias acutilantes e sensuais...
    A árvorezinha é um must, mas ambas a árvore e a poesia na minha não humilde opinião beneficiavam de espaços únicos...

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  4. Cara Isabel, um acidente eliminou o post e tive que o refazer.

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  5. Iiiiiiiiiiii!!!! Perco tantas oportunidades de estar calada... QUE É COMO QUEM DIZ, de não ser primária, desculpe,sorry se ainda for a tempo.

    Só a minha Velha amiga me entenderia na minha confessa estupidez natural...
    Uau que gaffe, pronto vou à missa para me redimir e antes vou expiar o meu pecado a lavar a loiça do pequeno almoço.
    Chega para perdão??!!!...

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