Sunday, February 26, 2012
Saturday, February 25, 2012
Alsácia no coração
- O Estudante Alsaciano
- Antigamente, a escola era risonha e franca.
Do velho professor as cans, a barba branca,
Infundiam respeito, impunham sympathia,
Modelando as feições do velho, que sorria
E era como creança em meio das creanças.
Como ao pombal correndo em bando as pombas mansas,
Corriam para a escola; e nem sequer assomo
De aversão ou desgosto, ao ir para ali como
Quem vae para uma festa. Ao começar o estudo,
Elles, sem um pesar, abandonavam tudo,
E submissos, joviaes, nos bancos em fileiras,
Iam todos sentar-se em frente das carteiras,
Attenta, gravemente — uns pequeninos sabios.
Uma phrase a animar aquelle bando imbelle,
Ia ensinando a este, ia emendando áquelle,
De manso, com carinho e paternal amor.
Por fim, tudo mudou. Agora o professor,
Um grave pedagogo, é austero e conciso;
Nunca os labios lhe abriu a sombra d’um sorriso
E aos pequenos mudou em calabouço a escola
Pobres aves, sem dó metidas na gaiola!
Lá dentro, hoje, o francez é lingua morta e muda:
Unicamente o allemão ali se falla e estuda,
São allemães o mestre, os livros e a lição;
A Alsacia é allemã; o povo é alemão.
Como na propria patria é triste ser proscripto!
Frequentava tambem a escola um rapazito
De severo perfil, energico, expressivo,
Pallido, magro, o olhar intelligente e vivo
— Mas de intima tristeza aquelle olhar velado
Modesto no trajar, de lucto carregado...
— Pela patria talvez! — Doze annos só teria.
O mestre, d’uma vez, chamou-o á geographia:
— "Dize-me cá, rapaz... Que é isso? estás de lucto?
Quem te morreu?"
— "Meu pae, no último reduto,
Em defeza da patria!"
— "Ah! sim, bem sei, adeante...
Tu tens assim um ar de ser bom estudante.
Quaes são as principaes nações da Europa? Vá!"
— "As principaes nações são... a França..."
— "Hein? que é lá?...
Com que então, a primeira a França! Bom começo!
De todas as nações, pateta, que eu conheço,
Aquella que mais vale, a que domina o mundo,
Nas grandes concepções e no saber profundo,
Em riqueza e esplendor, nas lettras e nas artes,
Que leva o seu domínio ás mais remotas partes,
A mais nobre na paz, a mais forte na guerra,
D’onde irradia a sciencia a illuminar a terra,
A maior, a mais bella, a que das mais desdenha,
Fica-o sabendo tu, rapaz, é a Allemanha!"
Elle sorriu com ar desprezador e altivo,
A cabeça agitou n’um gesto negativo,
E tornou com voz firme:
— "A França é a primeira!"
O mestre, furioso, ergue-se da cadeira,
Bate o pé, e uma praga energica lhe escapa.
— "Sabes onde está a França? Aponta-m’a no mappa!"
O alumno ergue-se então, os olhos fulgurantes,
O rosto afogueado; e emquanto os estudantes
Olham cheios de assombro aquelle destemido,
Ante o mestre, nervoso, audaz e commovido,
Timido feito heróe, pygmeu tornado athleta,
Desaperta, febril, a sua blusa preta,
E batendo no peito, impavida, a creança
Exclama:
— "É aqui dentro! aqui é que está a França!"
Acácio Antunes
Sunday, February 19, 2012
Friday, February 17, 2012
Thursday, February 16, 2012
Quando os alemães se viram gregos (2)
Entrevista do historiador alemão Albrecht Ritschl ao "Spiegel"
SPIEGEL ONLINE: In the current crisis, Greece was initially pledged €110 billion from the euro-zone and the International Monetary Fund. Now a further rescue package of similar dimensions has become necessary. How big were Germany's previous defaults?
Ritschl: Measured in each case against the economic performance of the USA, the German debt default in the 1930s alone was as significant as the costs of the 2008 financial crisis. Compared to that default, today's Greek payment problems are actually insignificant.
SPIEGEL ONLINE: If there was a list of the worst global bankruptcies in history, where would Germany rank?
Ritschl: Germany is king when it comes to debt. Calculated based on the amount of losses compared to economic performance, Germany was the biggest debt transgressor of the 20th century.
SPIEGEL ONLINE: Greece can't compare?
Ritschl: No, the country has played a minor role. It is only the contagion danger for other euro-zone countries that is the problem.
SPIEGEL ONLINE: The Germany of today is considered the embodiment of stability. How many times has Germany become insolvent in the past?
Ritschl: That depends on how you do the math. During the past century alone, though, at least three times. After the first default during the 1930s, the US gave Germany a "haircut" in 1953, reducing its debt problem to practically nothing. Germany has been in a very good position ever since, even as other Europeans were forced to endure the burdens of World War II and the consequences of the German occupation. Germany even had a period of non-payment in 1990.
SPIEGEL ONLINE: Really? A default?
Ritschl: Yes, then-Chancellor Helmut Kohl refused at the time to implement changes to the London Agreement on German External Debts of 1953. Under the terms of the agreement, in the event of a reunification, the issue of German reparations payments from World War II would be newly regulated. The only demand made was that a small remaining sum be paid, but we're talking about minimal sums here. With the exception of compensation paid out to forced laborers, Germany did not pay any reparations after 1990 -- and neither did it pay off the loans and occupation costs it pressed out of the countries it had occupied during World War II. Not to the Greeks, either.
De passagem
Ni vu ni connu
Je suis le parfum
Vivant et défunt
Dans le vent venu !
Ni vu ni connu
Hasard ou génie ?
À peine venu
La tâche est finie !
Ni lu ni compris ?
Aux meilleurs esprits
Que d’erreurs promises !
Ni vu ni connu,
Le temps d’un sein nu
Entre deux chemises !
(Paul Valéry)
Momentos históricos em que foi necessário pôr de lado a "democracia formal"
Il résulte de l'ensemble de ces faits que l'Assemblée constituante, convoquée d'après les listes des partis qui existaient avant la révolution prolétarienne et paysanne, sous la domination de la bourgeoisie, entre nécessairement en conflit avec la volonté et les intérêts des classes laborieuses et exploitées qui ont déclenché le 25 octobre la révolution socialiste contre la bourgeoisie. Il est naturel que les intérêts de cette révolution l'emportent sur les droits formels de l'Assemblée constituante.
(Lénine, Teses sobre a Assembleia Constituinte, 26 de Dezembro de 1917)
Une autre solution serait de tout repousser et d’exiger le report des élections, afin que le gouvernement de coalition de Lucas Papadémos puisse auparavant prendre les mesures de rigueur adoptées par le parlement – et depuis précisées pour les 325 millions d’euros qui manquaient à l’appel – et atteindre ainsi les objectifs d’économies budgétaires requis. Ce qui suppose de dégager d’une manière ou d’une autre 14,5 milliards d’euros afin de passer l’échéance de mars et d’éviter le défaut.
(Lénine, Teses sobre a Assembleia Constituinte, 26 de Dezembro de 1917)
Une autre solution serait de tout repousser et d’exiger le report des élections, afin que le gouvernement de coalition de Lucas Papadémos puisse auparavant prendre les mesures de rigueur adoptées par le parlement – et depuis précisées pour les 325 millions d’euros qui manquaient à l’appel – et atteindre ainsi les objectifs d’économies budgétaires requis. Ce qui suppose de dégager d’une manière ou d’une autre 14,5 milliards d’euros afin de passer l’échéance de mars et d’éviter le défaut.
Quelle que soit l’option qui sera finalement choisie, Jean-Claude Juncker a précisé qu’il restait encore à définir le mécanisme de surveillance de l’application des mesures faisant l’objet d’un accord pour « s’assurer que le service de la dette serait prioritaire » ; une référence au projet de mettre en place un compte bloqué qui ferait du remboursement des prêts accordés par l’Union européenne et le FMI une priorité absolue dans les dépenses du gouvernement.
(François Leclerc, no blog de Paul Jorion, 15 de Fevereiro de 2012)
Wednesday, February 15, 2012
Quando os alemães se viram gregos
"Keynes revealed /in The Economic Consequences of Peace, 1920/ that France's main intention was to ensure that Germany was reduced to a nation of rustic paupers, while the French and Italians had a secondary aim: to bail out their bankrupt economics. Never mind that Germany was itself bankrupt, that bankruptcy had led to its surrender, and that it was in no position to raise the funds through taxation or borrowing. Keynes pointed to the vengeful Allied populations whose lust for revenge was so strong that "a figure for Germany's prospective capacity to pay ... would have fallen hopelessly far short of popular expectations". The sum the treaty insisted on was beyond Germany's means. "Germany has in effect engaged herself to hand over to the Allies the whole of her surplus production in perpetuity". Keynes's verdict was that the treaty "skins Germany alive year by year" and that the treaty would prove to be "one of the most outrageous acts of a cruel victor in civilized history."
( in Nicholas Wapshott, Keynes - Hayek, the clash that defined modern economics)
Conhecem a continuação desta história?
( in Nicholas Wapshott, Keynes - Hayek, the clash that defined modern economics)
Conhecem a continuação desta história?
Hellas, poema de Shelley
HELLAS
by: Percy Bysshe Shelly (1792-1822)
- HE world's great age begins anew,
- The golden years return,
- The earth doth like a snake renew
- Her wintry weeds outworn:
- Heaven smiles, and faiths and empires gleam
- Like wrecks of a dissolving dream.
- A brighter Hellas rears its mountains
- From waves serener far;
- A new Peneus rolls his fountains
- Against the morning star;
- Where fairer Tempes bloom, there sleep
- Young Cyclads on a sunnier deep.
- A loftier Argo claims the main,
- Fraught with a later prize;
- Another Orpheus sings again,
- And loves, and weeps, and dies;
- A new Ulysses leaves once more
- Calypso for his native shore.
- O write no more the tale of Troy,
- If earth Death's scroll must be--
- Nor mix with Laian rage the joy
- Which dawns upon the free,
- Although a subtler Sphinx renew
- Riddles of death Thebes never knew.
- Another Athens shall arise,
- And to remoter time
- Bequeath, like sunset to the skies,
- The splendour of its prime;
- And leave, if naught so bright may live,
- All earth can take or Heaven give.
- Saturn and Love their long repose
- Shall burst, more bright and good
- Than all who fell, than One who rose,
- Than many unsubdued:
- Not gold, not blood, their altar dowers,
- But votive tears and symbol flowers.
- O cease! must hate and death return?
- Cease! must men kill and die?
- Cease! drain not its dregs the urn
- Of bitter prophecy!
- The world is weary of the past--
- O might it die or rest at last!
Do naufrágio como navegação
Se o navio afunda
a solução é atirar ao mar os passageiros.
E quando estivermos todos no fundo do mar com o navio,
ainda que, mortos, não o possamos saber,
teremos então finalmente conseguido
atingir o ponto luminoso do equilíbrio.
a solução é atirar ao mar os passageiros.
E quando estivermos todos no fundo do mar com o navio,
ainda que, mortos, não o possamos saber,
teremos então finalmente conseguido
atingir o ponto luminoso do equilíbrio.
Monday, February 13, 2012
Passagem
Tudo de passagem, assim foi desde o princípio - se as histórias têm princípio. A única certeza é a passagem e há quem se agarre ao momento presente, quem viva a esquiva de sucessivos futuros, quem se enrole no passado como numa toalha quente e há depois os que quiseram construir para si uma casa de palavras para no fim se darem conta que as palavras também se transformaram, mirraram ou fugiram.
Sunday, February 12, 2012
Abrir parágrafo
— Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.
— Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.
— Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.
(João Cabral de Melo Neto)
na prateleira até então vazia.
— Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.
— Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.
(João Cabral de Melo Neto)
Friday, February 3, 2012
Cancioneiro chinês
Adoro esta mulher moça e formosa,
Que à janela, a sonhar, vejo esquecida,
Não por ter uma casa sumptuosa
Junto ao Rio Amarelo construída…
- Amo-a porque uma folha melindrosa
Deixou cair nas águas distraída.
Que à janela, a sonhar, vejo esquecida,
Não por ter uma casa sumptuosa
Junto ao Rio Amarelo construída…
- Amo-a porque uma folha melindrosa
Deixou cair nas águas distraída.
Tambem adoro a brisa do Levante
Não por trazer a essência virginal
Do pessegueiro que floriu distante,
No pendor da Montanha Oriental…
- Amo-a porque impeliu a folha errante
Ao meu batel no lago de cristal.
Não por trazer a essência virginal
Do pessegueiro que floriu distante,
No pendor da Montanha Oriental…
- Amo-a porque impeliu a folha errante
Ao meu batel no lago de cristal.
E adoro a folha, não por ter lembrado
A nova primavera que rompeu,
Mas por causa de um nome idolatrado
Que essa jovem mulher n’ela escreveu
Com a doirada agulha do bordado…
E esse nome… era o meu !
A nova primavera que rompeu,
Mas por causa de um nome idolatrado
Que essa jovem mulher n’ela escreveu
Com a doirada agulha do bordado…
E esse nome… era o meu !
in Poesias Completas – António Feijó, Prefácio de J. Candido Martins, Edições Caixotim
Viola Chinesa
Viola Chinesa Ao longo da viola morosa Vai adormecendo a parlenda, Sem que, amadornado, eu atenda A lengalenga fastidiosa. Sem que o meu coraçăo se prenda, Enquanto, nasal, minuciosa, Ao longo da viola morosa, Vai adormecendo a parlenda. Mas que cicatriz melindrosa Há nele, que essa viola ofenda E faz que as asitas distenda Numa agitaçăo dolorosa? Ao longo da viola, morosa... Camilo Pessanha
Um poema de Li Po (李) (701 - 762)
To His Two Children
In the land of Wu the mulberry leaves are green,
And three times the silkworms have gone off to sleep.
In East Luh where my family stay,
I wonder who is sowing those fields of ours.
I cannot be back in time for the spring work,
I can help with nothing, traveling on the river.
The south wind blowing wafts my homesick spirit
And carries it up to the front of our familiar tavern.
There I see a peach tree on the east side of the house
With thick leaves and branches waving in the blue mist.
It is the tree I planted before my parting three years ago.
The peach tree has grown now as tall as the tavern roof,
While I have wandered about without returning.
Ping-yang, my pretty daughter, I see you stand
By the peach tree and pluck a flowering branch.
You pluck the flowers, but I am not there;
How your tears flow like a stream of water!
My little son, Po-chin, grown up to your sister's shoulders,
You come out with her under the peach tree,
But who is there to pat you on the back?
When I think of these things, my senses fail,
And a sharp pain cuts my heart every day.
Now I tear off a piece of white silk to write this letter,
And send it to you with my love a long way up the river.
Adapted from The Works of Li Po, the Chinese Poet, done into English verse by Shigeyoshi Obata. E. P. Dutton & Co, New York, 1922
Portugueses
Los Borges[Jorge Luis Borges]
Nada o muy poco sé de mis mayores
portugueses, los Borges: vaga gente
que prosigue en mi carne, oscuramente,
sus hábitos, rigores y temores.
Tenues como si nunca hubieran sido
y ajenos a los trámites del arte,
indescifrablemente forman parte
del tiempo, de la tierra y del olvido.
Mejor así. Cumplida la faena,
son Portugal, son la famosa gente
que forzó las murallas del Oriente
y se dio al mar y al otro mar de arena.
Son el rey que en el místico desierto
se perdió y el que jura que no ha muerto.
[in El Hacedor, 1960]LOS B
Nada o muy poco sé de mis mayores
portugueses, los Borges: vaga gente
que prosigue en mi carne, oscuramente,
sus hábitos, rigores y temores.
Tenues como si nunca hubieran sido
y ajenos a los trámites del arte,
indescifrablemente forman parte
del tiempo, de la tierra y del olvido.
Mejor así. Cumplida la faena,
son Portugal, son la famosa gente
que forzó las murallas del Oriente
y se dio al mar y al otro mar de arena.
Son el rey que en el místico desierto
se perdió y el que jura que no ha muerto.
[in El Hacedor, 1960]LOS B
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