Saturday, November 5, 2011

Fala da Índia


- I spent four years in India.
- So, why did you leave?

(diálogo com um colega indiano)


Foste-te embora
antes de eu começar a falar contigo.
Como um rapazinho malcriado,
que sai de casa de uma velha senhora
antes mesmo de ela lhe dirigir a palavra,
tu não entendeste nada. Mas isso não tem importância,
porque ninguém me entende
a não ser os meus povos,
os meus rostos, as mil cabeças que surgem
do rio emudecido.
O que me ofende é que tu,
tu, pobre de ti,
tenhas partido
antes de eu
ter decidido dirigir-te a palavra.


8 comments:

  1. Ai! Caro Alcipe,
    A maioria de nós parte antes
    que o outro nos tenha dirigido a palavra...
    E nem sequer ficamos ofendidos.
    Não existimos.
    E, não existir, é uma das maiores tragédias do ser humano.
    Porque viver é bem menos do que existir!

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  2. Não é terrível, esta sensação de que partimos sem chegarmos a ouvir a palavra que nos era dirigida?

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  3. É sim. Costumo dizer que não quero viver nem morrer com palavras por dizer ou gestos por fazer...Por isso digo sempre o que sinto e tento mostrar o que quero.
    Sem medos. Sem vergonhas.

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  4. Maria do Céu BarrosNovember 8, 2011 at 1:51 PM

    Há um momento na vida para cada coisa, eu acredito nisso.
    Por isso às vezes mais vale um dia antes que um minuto depois, não é?

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  5. Volto
    mas trago os braços caídos
    e as mãos cheias de nada
    a palavra tímida
    e mal articulada

    Perguntais-me sem amor
    o que trazeis senhora no regaço
    responderei apenas
    são rosas meu Senhor
    rosas e cansaço...

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  6. "As mil cabeças que surgem
    do rio emudecido."In alcipe

    No entanto no correr da pena urge a palavra que liberta a asfixia da emoção...

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  7. Maria do Céu BarrosNovember 11, 2011 at 8:34 PM

    Que bom ter a ERA UMA VEZ de volta e não acho que traga as mãos vazias

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  8. Cher Tim Tim,
    Sinto tão bem a sua amargura.
    A minha grande magoa foi ter partido de Lisboa sem que ninguém me disse-se fica. Ainda hoje espero a palavra que (não) me foi dirigida.
    Faço como a Helena, digo, sem vergonhas, gosto de ti, tenho saudades, gostava de voltar, gosto da tua luz, do teu cheiro, do teu vento, do nosso mar.

    Maria do Céu, é um prazer ler ERA UMA VEZ. Alem de poemas traz também rosas para oferecer.

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