Porque te amo tanto, pátria minha, eu que năo tenho Pátria, eu semente que nasci do vento Eu que năo vou e năo venho, eu que permaneço Em contato com a dor do tempo, eu elemento De ligaçăo entre a açăo o pensamento Eu fio invisível no espaço de todo adeus Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido De flor; tenho-te como um amor morrido A quem se jurou; tenho-te como uma fé Sem dogma; tenho-te em tudo em que năo me sinto a jeito Nesta sala estrangeira com lareira E sem pé-direito.
Querida Helena, à sua pergunta respondo com a mesma pergunta e, até hoje, a minha pátria é a terra onde nasci, é a língua que me ensinaram em pequenina, é o universo dos meus sonhos, é a melodia dos contos de embalar, sou eu quando amo ou choro e é nela que gostava de morrer
A minha pátria é a terra onde nasci, A minha Mãe, o berço que me acolheu, Os meus filhos, o amor que me aquece, O meu homem o amor que se não esquece, A minha família, os laços que criei. Mas tu, Portugal, és isto e muito mais!
Amar este país é como amar um filho às vezes dói às vezes nos contenta às vezes vence às vezes... a "tormenta" às vezes preso ou indigente às vezes talentoso outras faminto dependente doido vencido ou até diferente
quanto mais sofredor mais "nossa gente" É nosso sempre...
Quando pequeno é para os nossos abertos braços que corre desvairado porque o joelho sangra ou apenas porque tem saudades
Quando crescido porque foi ferido no combate da vida e dos amores e corre de novo aos nossos braços iguais, ainda abertos e os olhos a transbordar de flores
Vem meu país doente aconchegar-te no meu colo que o meu coração de mãe cansada e triste de te ver errar há-de encontrar não sei onde não sei como uma qualquer forma de te consolar
depois " faz-te ao caminho"...e volta para mostrar enfim que conseguiste!
Portugal Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais e nunca mais voltasse Quase chego a pensar que é tudo uma mentira que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente Portugal Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional (que os meus egrégios avós me perdoem) Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo Anda na consulta externa do Júlio de Matos Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas Portugal Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador Portugal Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém Sabes Estou loucamente apaixonado por ti Pergunto a mim mesmo Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade Portugal estás a ouvir-me? Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos um dia bebi vinagre nada de ressentimentos Portugal Sabes de que cor são os meus olhos? São castanhos como os da minha mãe Portugal gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca
Caro Alcipe Enquanto a lagrimita me vier ao olho quando oiço falar do meu País - o que aqui aconteceu, confesso -, é porque nem tudo está perdido. Quanto não valem estas pérolas, comparadas com os discursos de patriotismo bacoco que ouvimos por aí?
E onde é que fica a pátria de todos nós?
ReplyDeleteNa terra em que nascemos,
Ou naquela em que ficamos
Que nos acarinha
E que amamos?
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que năo tenho
ReplyDeletePátria, eu semente que nasci do vento
Eu que năo vou e năo venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligaçăo entre a açăo o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que năo me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
(Vinícius de Moraes)
Querida Helena, à sua pergunta respondo com a mesma pergunta e, até hoje, a minha pátria é a terra onde nasci, é a língua que me ensinaram em pequenina, é o universo dos meus sonhos, é a melodia dos contos de embalar, sou eu quando amo ou choro e é nela que gostava de morrer
ReplyDeleteA minha pátria é a terra onde nasci,
ReplyDeleteA minha Mãe, o berço que me acolheu,
Os meus filhos, o amor que me aquece,
O meu homem o amor que se não esquece,
A minha família, os laços que criei.
Mas tu, Portugal, és isto e muito mais!
Amar este país
ReplyDeleteé como amar um filho
às vezes dói
às vezes nos contenta
às vezes vence
às vezes... a "tormenta"
às vezes preso
ou indigente
às vezes talentoso
outras faminto dependente
doido
vencido
ou até diferente
quanto mais sofredor mais "nossa gente"
É nosso sempre...
Quando pequeno
é para os nossos abertos braços
que corre desvairado
porque o joelho sangra
ou apenas porque tem saudades
Quando crescido
porque foi ferido
no combate da vida e dos amores
e corre de novo aos nossos braços
iguais, ainda abertos
e os olhos a transbordar de flores
Vem meu país doente
aconchegar-te no meu colo
que o meu coração de mãe cansada e triste
de te ver errar
há-de encontrar
não sei onde
não sei como
uma qualquer forma de te consolar
depois
" faz-te ao caminho"...e volta
para mostrar enfim que conseguiste!
"Portugal" de Jorge Sousa Braga
ReplyDeletePortugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse
oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de
África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo uma mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de
rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do
Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada
de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca
Explode de poesia hoje este Tibet!!!!!!
ReplyDeleteO Tibet não, o que ameaça explodir é a Europa ... e não é de poesia, hélàs!
ReplyDeleteMas...em tempos tão difíceis,inventam-se poemas destes. Nem tudo está perdido.
ReplyDeleteOra exatamente, Portugal, muito mais que a soma das Partes...
ReplyDeleteCaro Alcipe
ReplyDeleteEnquanto a lagrimita me vier ao olho quando oiço falar do meu País - o que aqui aconteceu, confesso -, é porque nem tudo está perdido.
Quanto não valem estas pérolas, comparadas com os discursos de patriotismo bacoco que ouvimos por aí?