Sempre fui estranho às terras em que vivi
e só amei de verdade o que mais me foi estranho.
Terra minha, pátria que te dizes,
nada tenho para ti.
Quando chego à tua beira,
à estrema do teu mar,
a língua de alguns versos enrola-se-me na boca,
é certo.
Mas vê bem : tenho os olhos enxutos
e sou alheio a tudo para que me queres chamar.
Bem sei, dependo de ti.
Mãe pobre de gente pobre, ninguém renega
a miséria de que nasce.
Mas eu sou de outras paragens,
porque sempre fui de outros lugares.
Foi sempre assim e não tem nenhum mistério.
Menino e moço me levaram,
usado e velho não me trouxeram
para o pé de ti.
Não importa : há um verso que cintila
na minha voz,
há pedras, conchinhas, pedacinhos de ossos,
no fundo do mar do meu naufrágio,
há uma história longa que aprendi
mesmo que nunca te diga
e que nada tenha para te dar.
(versos de Carlos de Oliveira e de Camilo Pessanha)
Este poema, lindo!!, comoveu-me muito.
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