John Cage " 4' 33'' "
Wednesday, September 30, 2009
Monday, September 28, 2009
"Metamorphosen" Richard Strauss
Os mitos passam, mas a música
obstina-se a tecer a morte que os gerou,
para deixar, como pedra entre ruínas
ou sinal aos céus,
este grito a coisa nenhuma,
de que fomos feitos.
Saturday, September 26, 2009
No dia de reflexão
Chamam-lhe o dia de reflexão,
como se todos os outros dias fôssemos movidos e não motores,
consequências e não causas,
personagens dos corredores da "Metropolis" de Fritz Lang,
a alienação quando na cidade passava
e era inverno.
Nós reflectimos cada dia,
mesmo que não reparem,
ou que só reparem se fizermos muito barulho,
o que prejudica sem dúvida a reflexão.
A reflexão é a música que cresce na nossa decisão,
mas que se perde na cacofonia dos possíveis.
A reflexão é o braço estendido a apontar para ti
e a resposta que para sempre esperarás de mim.
Não precisamos hoje de reflectir: precisamos
de erguer a voz, mesmo que incerta,
para sermos ouvidos.
Precisamos
de uma pequena luz bruxuleante,
precisamos de uma música que virá.
Wednesday, September 23, 2009
Despertar
Seja o que tiver que ser o que vem pela manhã.
Cada dia o mundo se desfaz, para que outro mundo nasça.
Monday, September 21, 2009
Caminhada matinal
Esqueço tudo o que muda
e saio para a rua de manhã.
Dão-me bom dia os guardas das casas vizinhas,
que lêem os jornais em hindi;
os motoristas dos táxis da noite,
que tomam banho na rua,
desenrolando (os sikhs) seus cabelos
até ao chão;
os empregados que passeiam os cães, atados em molhada;
e os outros brisk walkers da manhã
(a senhora com o guarda atrás a levar-lhe a mala),
e os macacos, que afastamos batendo com o pau no chão,
e as vacas, que sentem por nós a indiferença dos deuses,
e (quem sabe?) até os próprios deuses
(bonequinhos de Ganesha e Laxmi, junto à raiz da árvore da esquina...).
O mundo está todo aqui? O que é que muda?
Tudo o que é alheio se torna simples e familiar.
Sunday, September 20, 2009
Aos novos poetas portugueses...
"The public love artists who fall by the wayside in this life. A true artist must be down and out or die of hunger. In youth he should at least die of consumption" (Sibelius, aos 91 anos)
Falando de poesia...
Do livro que estou a ler agora, "The Rest is Noise":
Rachmaninov wrote in 1939 (...) : "Unlike Madame Butterfly with her quick religious conversions" - this is presumably Stravinsky - "I cannot cast out my musical gods in a moment and bend the knees to new ones..."
Friday, September 18, 2009
A viagem como evasão
Ernst Bloch ("O Princípio Esperança") observava bem que, nos países exóticos, só os turistas são exóticos.
Thursday, September 17, 2009
Wednesday, September 16, 2009
Poetas
Descobrir um novo poeta é um prazer cada vez mais raro. Infelizmente, Nuno Rocha Morais já morreu.
Leiam dele "Últimos Poemas" nas edições Quasi.
E não percam "Lugar de Estudo" de Fernando Echevarria. Mais um grande livro.
Leiam dele "Últimos Poemas" nas edições Quasi.
E não percam "Lugar de Estudo" de Fernando Echevarria. Mais um grande livro.
Tuesday, September 15, 2009
Férias
Os socialistas de Odeceixe estavam contentes com o seu candidato autárquico, Velhinho Amarelinho; já em S.Francisco as hipóteses do mayor Newman se candidatar a Governador pelo Partido Democrático pareciam tremidas, sobretudo depois do escândalo das rachas na Bay Bridge. Os democratas de S.Francisco manifestavam-se em força pelo plano Obama de Saúde, enquanto em Odeceixe os simpatizantes de Velhinho Amarelinho mostravam algum conforto com a retirada do ex Presidente Manuel Marreiros para a Assembleia Municipal.
O arroz de marisco da "Santola" (Maria Vinagre) e os enchidos da "Charrette" (Monchique) não se podem perder; bem como os "dim sun"e a vista esplendorosa do "Empress of China", na Chinatown de S.Francisco, e os caranguejos recheados do "Franciscan", no "Fishermen's Wharf". Acrescentemos o sempre agradável Zé Vicente, na Várzea de Odeceixe, e o peruano "Limón", no bairro chicano de Frisco.
A melhor descoberta: "A Invenção de Lisboa" de José Sarmento de Matos; a relativa desilusão: "Nothing to be Frightened of" de Julian Barnes; a refrescante surpresa: "A Viagem do Elefante" de José Saramago. Poesia, estou em desintoxicação.
Ainda em leitura (entusiasmada) neste momento: "The Rest is Noise" de Alex Ross (a música no século XX)
E foram as férias!
O arroz de marisco da "Santola" (Maria Vinagre) e os enchidos da "Charrette" (Monchique) não se podem perder; bem como os "dim sun"e a vista esplendorosa do "Empress of China", na Chinatown de S.Francisco, e os caranguejos recheados do "Franciscan", no "Fishermen's Wharf". Acrescentemos o sempre agradável Zé Vicente, na Várzea de Odeceixe, e o peruano "Limón", no bairro chicano de Frisco.
A melhor descoberta: "A Invenção de Lisboa" de José Sarmento de Matos; a relativa desilusão: "Nothing to be Frightened of" de Julian Barnes; a refrescante surpresa: "A Viagem do Elefante" de José Saramago. Poesia, estou em desintoxicação.
Ainda em leitura (entusiasmada) neste momento: "The Rest is Noise" de Alex Ross (a música no século XX)
E foram as férias!
Monday, September 14, 2009
Índia
Voltei a ti:
sou-te profundamente indiferente, eu sei,
mil milhões é muita gente e esta terra está cheia.
Só alguns goeses pensam em nós, mas complicam tanto,
que só lhes podemos sussurrar: il n'y a pas d' amour heureux.
Voltei a ti. Alguma coisa em mim é-te fiel,
sem nenhuma razão para isso.
Tu és indiferente a nós como a lua e as estrelas,
mas moves-te freneticamente pela cobiça e pelo reconhecimento,
como todos.
Não és diferente de nós: apenas te alheias,
mesmo quando nos interpelas e nos falas sem parar.
Quando pensas, nunca estamos seguros de te entender...
sou-te profundamente indiferente, eu sei,
mil milhões é muita gente e esta terra está cheia.
Só alguns goeses pensam em nós, mas complicam tanto,
que só lhes podemos sussurrar: il n'y a pas d' amour heureux.
Voltei a ti. Alguma coisa em mim é-te fiel,
sem nenhuma razão para isso.
Tu és indiferente a nós como a lua e as estrelas,
mas moves-te freneticamente pela cobiça e pelo reconhecimento,
como todos.
Não és diferente de nós: apenas te alheias,
mesmo quando nos interpelas e nos falas sem parar.
Quando pensas, nunca estamos seguros de te entender...
San Francisco
O outro lado do mundo é onde nós recomeçamos:
a sala de poesia da City Lights Bookstore, o sol sem cedências,
o nevoeiro sem falhas - que não ser daqui
é a promessa de podermos ser de toda a parte,
de podermos ser.
Só em duas cidades me senti tão livre: aqui e em Berlim.
As cidades sempre destruídas e logo reconstruídas
oferecem-nos a morte e a felicidade ao mesmo tempo:
só a isso chamamos a grande promessa.
a sala de poesia da City Lights Bookstore, o sol sem cedências,
o nevoeiro sem falhas - que não ser daqui
é a promessa de podermos ser de toda a parte,
de podermos ser.
Só em duas cidades me senti tão livre: aqui e em Berlim.
As cidades sempre destruídas e logo reconstruídas
oferecem-nos a morte e a felicidade ao mesmo tempo:
só a isso chamamos a grande promessa.
O novo poeta sem qualidades
O homem de Profrock interrompeu o poema do outro:
a mim, foi este odioso computador Toshiba,
kamikaze armado contra a poesia,
que veio apagar todo o meu poema,
exercendo a impiedosa crítica cibernética dos computadores,
tal como Marx falava da "crítica impiedosa dos roedores",
quando os ratos lhe comeram o manuscrito.
Vêem? Já sou um poeta sem qualidades!
Devolvam-me o meu Mac e a metafísica...
a mim, foi este odioso computador Toshiba,
kamikaze armado contra a poesia,
que veio apagar todo o meu poema,
exercendo a impiedosa crítica cibernética dos computadores,
tal como Marx falava da "crítica impiedosa dos roedores",
quando os ratos lhe comeram o manuscrito.
Vêem? Já sou um poeta sem qualidades!
Devolvam-me o meu Mac e a metafísica...
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