Neste lugar só de areia,
já não terra, ainda não mar,
poderíamos cantar.
Ó noite, solidão, bruma,
país de estrelas sem voz,
que cantaremos nós?
As sombras nossas na praia
podem ser noite e ser mar,
pelo ar e pela água andar.
Mas o canto, mas o sonho,
de que modo encontrarão
o que não é vão?
Cantemos, porém, amigos
neste impossível lugar
que não é terra nem mar:
na praia do fim do mundo
que não guardará de nós
sombra nem voz.
(Cecília Meireles, Poemas escritos na Índia, 1953)
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