Saturday, June 6, 2015

POEMA DO MAIS TRISTE MAIO, Manuel Bandeira, "Estrela da Tarde", 1960

Rembrandt, Auto-retrato na velhice

POEMA DO MAIS TRISTE MAIO
Meus amigos, meus inimigos,
Saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo, em vez de rosas, cardo.
Acabou-se a idade das rosas!
Das rosas, dos lírios, dos nardos
E outras espécies olorosas:
É chegado o tempo dos cardos.
E passada a sazão das rosas,
Tudo é vil, tudo é sáfio, árduo.
Nas longas horas dolorosas
Pungem fundo as puas do cardo.
As saudades não me consolam.
Antes ferem-me como dardos.
As companhias me desolam
E os versos que me vẽm, vẽm tardos.
Meus amigos, meus inimigos,
Saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo, em vez de rosas, cardo.
MANUEL BANDEIRA

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