O MEU PRIMEIRO LIVRO
(publicado no JL de 7 de Janeiro de 2014)
(publicado no JL de 7 de Janeiro de 2014)
Eu andava de roda da poesia desde os meus quinze anos.
Publiquei poemas no Diário de Lisboa-Juvenil (eu e muita gente, seria interessante voltar agora a publicar uma
mostra desses poemas adolescentes de tantas e tão diversas pessoas...), e ali
fui acolhido pela hospitaleira amizade do Mário Castrim e da Alice Vieira.
Continuei sempre a escrever, através de todas as mudanças e
andanças da minha vida, passada que foi a Revolução de Abril, iniciada já a
minha carreira diplomática. Mas só com trinta e três anos é que finalmente
julguei digno de poder ser publicado um livrinho meu de poemas, a que chamei Recados.
Era em 1983, estava eu então colocado em Madrid e pedi ao
José António Llardent, um bom amigo já falecido, grande tradutor de Fernando
Pessoa para castelhano, que me lesse e julgasse o texto. O José António achou-o
publicável. Senti-me aprovado. Procurei então, em Lisboa, um editor.
Depois de o Joaquim Manuel Magalhães ter recusado
liminarmente a sua publicação na
editora “A Regra do Jogo”, dirigi-me a medo com o meu manuscrito (não havia
internet nesse tempo) à Imprensa Nacional, onde o Vasco Graça Moura dirigia uma
colecção para estreantes, que se chamava “Plural”.
Era a primeira vez que via o Vasco. Ele leu o texto e, para
meu grande alívio e a bem da minha ansiedade, deu o seu acordo. Para a execução
da edição (que era feita por uma editora portuense chamada “Gota de Água”),
tive de ir ao Porto, cidade que me era então pouco familiar e onde me senti
desde logo muito bem.
Não houve lançamento público. Tive, aqui no JL, uma crítica
entusiástica de Eduardo Prado Coelho ao meu primeiro livro, que muito me
sensibilizou e estimulou. Mas este livro, mais tarde, em 1999, não foi incluído
nos meus Poemas Reunidos, editados pela
Quetzal, e isso por minha escolha e exclusiva responsabilidade. Merecê-lo-ia?
Terei feito bem? Porque o enjeitei, afinal?
Mas não vale a pena sentir qualquer remorso: de qualquer modo, a Quetzal já
guilhotinou (ah ça ira, ça ira, ça ira...)
todos os exemplares que restavam desses meus Poemas Reunidos...
Por vezes, são os filhos menos apreciados aqueles que mais nos tocam o coração. :)
ReplyDeleteAcho um horror, essa "coisa" de guilhotinar livros! Tanta biblioteca escolar por este país fora a precisar de os ter...
Alcipe
ReplyDeleteSó de pensar num livro seu guilhotinado, sinto um calafrio!
Ah! Esqueci-me de dizer que se ousei escrever, devo-o a esse grande, enorme amigo, que foi Mario Castrim.
ReplyDeleteHá pessoas que atravessam a nossa vida para só nos fazerem bem. Foi o caso!
deve haver 1 exemplar na biblioteca nacional, seria de incluir numa próxima edição dos poemas completos.
ReplyDeletebom texto de memórias
Oh, que pena, subscrevo Maria Eu.
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