Wednesday, January 7, 2015

Recados

O MEU PRIMEIRO LIVRO

(publicado no JL de 7 de Janeiro de 2014)



Eu andava de roda da poesia desde os meus quinze anos. Publiquei poemas no Diário de Lisboa-Juvenil (eu e muita gente, seria interessante voltar agora a publicar uma mostra desses poemas adolescentes de tantas e tão diversas pessoas...), e ali fui acolhido pela hospitaleira amizade do Mário Castrim e da Alice Vieira.

Continuei sempre a escrever, através de todas as mudanças e andanças da minha vida, passada que foi a Revolução de Abril, iniciada já a minha carreira diplomática. Mas só com trinta e três anos é que finalmente julguei digno de poder ser publicado um livrinho meu de poemas, a que chamei Recados.

Era em 1983, estava eu então colocado em Madrid e pedi ao José António Llardent, um bom amigo já falecido, grande tradutor de Fernando Pessoa para castelhano, que me lesse e julgasse o texto. O José António achou-o publicável. Senti-me aprovado. Procurei então, em Lisboa, um editor.

Depois de o Joaquim Manuel Magalhães ter recusado liminarmente a  sua publicação na editora “A Regra do Jogo”, dirigi-me a medo com o meu manuscrito (não havia internet nesse tempo) à Imprensa Nacional, onde o Vasco Graça Moura dirigia uma colecção para estreantes, que se chamava “Plural”.

Era a primeira vez que via o Vasco. Ele leu o texto e, para meu grande alívio e a bem da minha ansiedade, deu o seu acordo. Para a execução da edição (que era feita por uma editora portuense chamada “Gota de Água”), tive de ir ao Porto, cidade que me era então pouco familiar e onde me senti desde logo muito bem.

Não houve lançamento público. Tive, aqui no JL, uma crítica entusiástica de Eduardo Prado Coelho ao meu primeiro livro, que muito me sensibilizou e estimulou. Mas este livro, mais tarde, em 1999, não foi incluído nos meus Poemas Reunidos, editados pela Quetzal, e isso por minha escolha e exclusiva responsabilidade. Merecê-lo-ia? Terei feito bem? Porque o enjeitei, afinal?

Mas não vale a pena sentir qualquer remorso:  de qualquer modo, a Quetzal já guilhotinou (ah ça ira, ça ira, ça ira...) todos os exemplares que restavam desses meus Poemas Reunidos...

5 comments:

  1. Por vezes, são os filhos menos apreciados aqueles que mais nos tocam o coração. :)

    Acho um horror, essa "coisa" de guilhotinar livros! Tanta biblioteca escolar por este país fora a precisar de os ter...

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  2. Alcipe
    Só de pensar num livro seu guilhotinado, sinto um calafrio!

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  3. Ah! Esqueci-me de dizer que se ousei escrever, devo-o a esse grande, enorme amigo, que foi Mario Castrim.
    Há pessoas que atravessam a nossa vida para só nos fazerem bem. Foi o caso!

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  4. deve haver 1 exemplar na biblioteca nacional, seria de incluir numa próxima edição dos poemas completos.
    bom texto de memórias

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