Esta GenteEsta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"
ReplyDeletefolheando sophia andresen vejo aspectos curiosos, não falo das intenções politicas e sociais da sua poesia bem conhecidas mas p ex, e ao ler a que nos é dada por alcipe, da sua interessante zoologia poética ou mitologia zoológica que serve as suas intenções. temos nesta gente o abutre e a cobra o porco e o milhafre, animais com que ela quer travar combate por serem agentes da injustiça. algo misteriosa é a inclusão do porco, dos outros 3 é evidente a simbologia.
noutros poemas apresenta pássaros e a sua atitude é já outra, não hostil. ou inclui pombas.
outros: a anémona é muito usada, ou não seja o mar um dos elementos preferidos do poeta,
mas vem tambem o minotauro e estamos já no dominio da zoologia mitológica. assim como a esfinge.
o uso de feras e bichos tambem está presente, só isso, simplesmente a fera ou o bicho.
e usa anjos que pertencem á mitologia tambem, há anjos na poesia de sophia. e nem sempre são seres simpaticos, podem ser disfarces.
e há os insectos, por vezes ligados ao calor, à luz, ao silencio à volta. fazem ruidos, ocupam o ambiente.
e há os moluscos, as conchas maritimas, e há as medusas.
e dentro da sua mitologia animal há tambem as sereias.
mas ao folhear sophia andresen deparei me tambem com um poema que constitui uma glosa ao dormeur du val de rimbaud, o soldado morto, não chega a ser plagio, antes uma glosa dum poema dum poeta de que ela sophia ostensivamente gosta.
mas o abutre e se for velho melhor, continua a ser o animal mais conhecido da zoologia poetica da poeta que está desde ontem no panteão.