Wednesday, July 2, 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen

Esta GenteEsta gente cujo rosto 
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos 
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

1 comment:



  1. folheando sophia andresen vejo aspectos curiosos, não falo das intenções politicas e sociais da sua poesia bem conhecidas mas p ex, e ao ler a que nos é dada por alcipe, da sua interessante zoologia poética ou mitologia zoológica que serve as suas intenções. temos nesta gente o abutre e a cobra o porco e o milhafre, animais com que ela quer travar combate por serem agentes da injustiça. algo misteriosa é a inclusão do porco, dos outros 3 é evidente a simbologia.
    noutros poemas apresenta pássaros e a sua atitude é já outra, não hostil. ou inclui pombas.
    outros: a anémona é muito usada, ou não seja o mar um dos elementos preferidos do poeta,
    mas vem tambem o minotauro e estamos já no dominio da zoologia mitológica. assim como a esfinge.
    o uso de feras e bichos tambem está presente, só isso, simplesmente a fera ou o bicho.
    e usa anjos que pertencem á mitologia tambem, há anjos na poesia de sophia. e nem sempre são seres simpaticos, podem ser disfarces.
    e há os insectos, por vezes ligados ao calor, à luz, ao silencio à volta. fazem ruidos, ocupam o ambiente.
    e há os moluscos, as conchas maritimas, e há as medusas.
    e dentro da sua mitologia animal há tambem as sereias.
    mas ao folhear sophia andresen deparei me tambem com um poema que constitui uma glosa ao dormeur du val de rimbaud, o soldado morto, não chega a ser plagio, antes uma glosa dum poema dum poeta de que ela sophia ostensivamente gosta.
    mas o abutre e se for velho melhor, continua a ser o animal mais conhecido da zoologia poetica da poeta que está desde ontem no panteão.

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