Monday, May 9, 2011

Um poema deVasco Graça Moura

ELEGIA BREVE À POESIA

fugitivo passar pela retina,
no virar de uma esquina ou de um silêncio,
a tua ausência é este ensombramento,

porém que a despedida seja breve
e que voltes com um relâmpago, um
desvendar-se do mundo entrecortando

dobras desamparadas do real.
e eu pergunto: que vozes do crepúsculo
se apagavam então? talvez o vento

agitasse tristezas na folhagem,
e esse fosse o frémito dos seus
melancólicos sinais rumurejando,

ou talvez fosse a cama de um hospital
e o branco desolado das paredes
e a mudez de estranhos aparelhos,

ou talvez fosse o próprio esquecimento
de que irias voltar, ou resvalar
numa lenta passagem de tercetos.

[in Revista Relâmpago n.º 27, com data de Outubro de 2010, mas distribuída agora]

(copiado do blog do João Mário Silva, com as minhas desculpas)

4 comments:

  1. Alcipamigo

    Vasco Graça Moura tem tanto de bom poeta, de bom escritor e de bom tradutor como tem de péssimo político. Há pessoas que se deviam quedar pela literatura, como é o caso dele, como é o caso de Manuel Alegre.

    Abç

    ... e que tal um pulinho à minha Travessa? Obrigado

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  2. É um grande poeta. Para além das nossas insanáveis divergências políticas, é meu amigo.

    Visitarei com muito gosto a Travessa do Ferreira. Venha também visitar-me. meu caro.

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  3. Meu caro Alcipe
    Gosto muito da poesia de VGMoura. Como também gosto da de MAlegre.
    Mas porque será que qualquer deles insiste em fazer política e não apenas aquilo em que são muito bons?!
    Nem é tanto um problema de divergência política, mas sim dedicarmos o nosso tempo ao que fazemos melhor. É o chamado custo/ benefício...

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  4. observando o vocabulário, penso que a chave deste poema está nos vocábulos visuais:
    retina, ensombramento, relampago, crespusculo, apagavam, branco das paredes,
    combinados com os da ideia de caminhar para um final: crepusculo, apagavam, esquecimento, resvalar.

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