Monday, May 30, 2011

Ousar um livro

Alguns poemas deste blog formaram um livro chamado "Lendas da Índia".

O livro foi editado pela Dom Quixote e será lançado em Lisboa, no próximo dia 7 de Junho, na Livraria Buchholz, com apresentação por Nuno Júdice.

Escrevi estas palavras na introdução do livro:

Nenhuma cousa desta vida humana he tão aproueitiuel aos viuentes que lembrança e memoria dos bens e males passados

(Gaspar Correia Aos Senhores Letores, Lendas da Índia)


Octavio Paz, sabedor fino e profundo das coisas da Índia, definiu o seu livro Vislumbres de la India : Vislumbrar: atisbar, columbrar, distinguir apenas, entrever. Vislumbres : realidades percibidas entre la luz y la sombra.

É uma ousadia escrever do que mal entrevemos? Mas não será sempre uma ousadia impensável o acto de escrever?

Um poeta de língua telugu (aqui convenientemente traduzido para inglês) não teve dúvida em responder:

Blank white paper
is more important
than what I write now.
My poetry
is in the white spaces between the words.

(Nara, pseudónimo de Velcheru Narayana Rao, nascido em 1932, autor de When God is a Customer, publicado em 1994)

Mas sem pretender a plenitude em branco do papel (ou da tela do computador) que la blancheur défend, como igualmente dizia Mallarmé, sente quem aqui escreve (e sentirá quem lê?) a necessidade de preencher uma infinidade de espaços brancos entre as suas experiências e as suas palavras. Por isso não teremos aqui vislumbres, como na inteligência poética de Paz, mas tão só lendas: lembrança e memória dos bens e males passados.


3 comments:

  1. Mais que ousadia
    é a expressão de se dar
    sem medo dos medos.

    Isabel seixas

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  2. Helena Sacadura CabralJune 2, 2011 at 5:56 PM

    E não será a vida uma eterna "lembrança e memória dos bens e males passados"?!

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  3. Vou ler!

    Isabel BP

    P.S. Nasceu na mesma vila raiana da minha família materna.

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