Nenhuma cousa desta vida humana he tão aproueitiuel aos viuentes que lembrança e memoria dos bens e males passados
(Gaspar Correia Aos Senhores Letores, Lendas da Índia)
Octavio Paz, sabedor fino e profundo das coisas da Índia, definiu o seu livro Vislumbres de la India : Vislumbrar: atisbar, columbrar, distinguir apenas, entrever. Vislumbres : realidades percibidas entre la luz y la sombra.
É uma ousadia escrever do que mal entrevemos? Mas não será sempre uma ousadia impensável o acto de escrever?
Um poeta de língua telugu (aqui convenientemente traduzido para inglês) não teve dúvida em responder:
Blank white paper
is more important
than what I write now.
My poetry
is in the white spaces between the words.
(Nara, pseudónimo de Velcheru Narayana Rao, nascido em 1932, autor de When God is a Customer, publicado em 1994)
Mas sem pretender a plenitude em branco do papel (ou da tela do computador) que la blancheur défend, como igualmente dizia Mallarmé, sente quem aqui escreve (e sentirá quem lê?) a necessidade de preencher uma infinidade de espaços brancos entre as suas experiências e as suas palavras. Por isso não teremos aqui vislumbres, como na inteligência poética de Paz, mas tão só lendas: lembrança e memória dos bens e males passados.
Mais que ousadia
ReplyDeleteé a expressão de se dar
sem medo dos medos.
Isabel seixas
E não será a vida uma eterna "lembrança e memória dos bens e males passados"?!
ReplyDeleteVou ler!
ReplyDeleteIsabel BP
P.S. Nasceu na mesma vila raiana da minha família materna.