Monday, May 30, 2011
Diálogo com António Lobo Antunes
Ousar um livro
Nenhuma cousa desta vida humana he tão aproueitiuel aos viuentes que lembrança e memoria dos bens e males passados
(Gaspar Correia Aos Senhores Letores, Lendas da Índia)
Octavio Paz, sabedor fino e profundo das coisas da Índia, definiu o seu livro Vislumbres de la India : Vislumbrar: atisbar, columbrar, distinguir apenas, entrever. Vislumbres : realidades percibidas entre la luz y la sombra.
É uma ousadia escrever do que mal entrevemos? Mas não será sempre uma ousadia impensável o acto de escrever?
Um poeta de língua telugu (aqui convenientemente traduzido para inglês) não teve dúvida em responder:
Blank white paper
is more important
than what I write now.
My poetry
is in the white spaces between the words.
(Nara, pseudónimo de Velcheru Narayana Rao, nascido em 1932, autor de When God is a Customer, publicado em 1994)
Mas sem pretender a plenitude em branco do papel (ou da tela do computador) que la blancheur défend, como igualmente dizia Mallarmé, sente quem aqui escreve (e sentirá quem lê?) a necessidade de preencher uma infinidade de espaços brancos entre as suas experiências e as suas palavras. Por isso não teremos aqui vislumbres, como na inteligência poética de Paz, mas tão só lendas: lembrança e memória dos bens e males passados.
Saturday, May 28, 2011
Thursday, May 26, 2011
E a poesia
Wednesday, May 25, 2011
Na beira do cais
com as malas em frente: e ao longe
perde-se o paquete (cena passada antigamente, portanto)
na distância do destino.
Foi assim o meu encontro com a poesia.
Tuesday, May 17, 2011
Romances cor de rosa
"La femme de chambre qui venait du chaud" de Paul de Kock - um pouco pornográfico, mas ao mesmo tempo ambíguo; a personagem da criada negra introduz uma nota de multiculturalismo, verdadeiramente precursora num romance dos meados do século XIX!
"L'enfant désiré" de George Ohnet - xaropada sobre um casal exemplar, que consegue finalmente ter um filho, obrigando a mãe a sacrificar uma prometedora carreira de actriz, para se reconverter inteiramente à vida burguesa, junto ao marido, um patrão de indústria filantropo e bom : edificante e aborrecido, mas fez a sua época!
Sunday, May 15, 2011
Saturday, May 14, 2011
Thursday, May 12, 2011
Tuesday, May 10, 2011
Monday, May 9, 2011
Um poema deVasco Graça Moura
ELEGIA BREVE À POESIA
fugitivo passar pela retina,
no virar de uma esquina ou de um silêncio,
a tua ausência é este ensombramento,
porém que a despedida seja breve
e que voltes com um relâmpago, um
desvendar-se do mundo entrecortando
dobras desamparadas do real.
e eu pergunto: que vozes do crepúsculo
se apagavam então? talvez o vento
agitasse tristezas na folhagem,
e esse fosse o frémito dos seus
melancólicos sinais rumurejando,
ou talvez fosse a cama de um hospital
e o branco desolado das paredes
e a mudez de estranhos aparelhos,
ou talvez fosse o próprio esquecimento
de que irias voltar, ou resvalar
numa lenta passagem de tercetos.
[in Revista Relâmpago n.º 27, com data de Outubro de 2010, mas distribuída agora]
(copiado do blog do João Mário Silva, com as minhas desculpas)
Sunday, May 8, 2011
Mitterrand : eleito Presidente no dia 10 de Maio de 1981
Saturday, May 7, 2011
Conversa
Ainda o tempo e o regresso
Friday, May 6, 2011
Dia da Língua Portuguesa
Wednesday, May 4, 2011
Não há regresso
été déçu; l'irrémédiable, ce n'est pas que l'exilé ait quitté la terre natale: l'irrémédiable, c'est que l'exilé ait quitté cette terre natale il y a vingt ans. L'exilé voudrait retrouver non seulement le lieu natal, mais le jeune homme qu'il était lui-même autrefois quand il l'habitait. [...] Ulysse est maintenant un autre Ulysse, qui retrouve une autre Pénélope... Et Ithaque aussi est une autre île, à la même place, mais non pas à la même date; c'est une patrie d'un autre temps. L'exilé courait à la recherche de lui-même, à la poursuite de sa propre image et de sa propre jeunesse, et il ne se retrouve pas. Et l'exilé courait aussi à la recherche de sa patrie, et maintenant qu'elle est retrouvée il ne la reconnaît plus. Ulysse, Pénélope, Ithaque : chaque être, à chaque instant, devient par altération un autre que lui-même, et un autre que cet autre. Infinie est l'altérité de tout être, universel le flux insaisissable de la temporalité. C'est cette ouverture temporelle dans la clôture spatiale qui passionne et pathétise l'inquiétude nostalgique. Car le retour, de par sa durée même, a toujours quelque chose d'inachevé : si le Revenir renverse l'aller, le « dédevenir », lui, est une manière de devenir; ou mieux: le retour neutralise l'aller dans l'espace, et le prolonge dans le temps ; et quant au circuit fermé, il prend rang à la suite des expériences antérieures dans une futurition' ouverte qui jamais ne s'interrompt: Ulysse, comme le Fils prodigue', revient à la maison transformé par les aventures, mûri par les épreuves et enrichi par l'expérience d'un long voyage. [...] Mais à un autre point de vue le voyageur revient appauvri, ayant laissé sur son chemin ce que nulle force au monde ne peut lui rendre : la jeunesse, les années perdues, les printemps perdus, les rencontres sans lendemain et toutes les premières-dernières fois perdues dont notre route est semée.
Vladimir Jankélévitch, L'Irréversible et la Nostalgie, Éd. Flammarion, 1983, p. 300.