Friday, April 30, 2010
Vingança sobre Chico Buarque de Hollanda
TANTO MAR
Sei que estás em festa, pá:
Lula deu grana!
E o Brasil ganhou fama
e prestígio pra xuxu!
Tantos dólares a nos separar!
Tanto mar, tanto mar!
E nós só queremos é
negociar, negociar!
Foi essa Revolução
que falhámos aqui?
Traz-nos urgentemente
um pouquinho de pilim...
Inquisição, cristãos novos, goeses : uma citação
No fim da viagem (música de Mack the Knifer)
Que escondemos?
Que fizémos
com a lei?
Porque fomos
mimos, momos
nesta sede
de perder?
Que guardamos?
Seda fina,
lã desfeita,
jóia acesa
em corpo nu?
Que trouxémos
donde vimos?
Cravos, tragos
de outro mar?
Um poeta
na miséria
vende versos
a El Rei:
vivo engenho,
fera arte,
nobres coisas
de que eu sei.
O pirata
missionário
do que soube
não mentiu:
peregrino
de outra parte
teve a arte
do que viu.
O portuga
não precisa
de ter lições
do Brasil:
já fizémos
dom à Índia
até mesmo
do caril!
O pirata
trouxe aos mares
o arejo
ocidental:
ingleses
e holandeses
vieram tirar-nos
do Mal!
Que Calvino
vos proteja
e a Britannia
bem vos reja!
O pirata
deita a rede
na areia
- adormeceu!
As ambições da Índia
www.watershed.com.br/interna_new.asp?cod=271
Tuesday, April 27, 2010
Luta literária
Sunday, April 25, 2010
25 de Abril em Goa
Saturday, April 24, 2010
De novo em Goa
Thursday, April 22, 2010
Ó liberais da minha terra...
Wednesday, April 21, 2010
Parce que ça me plaît...
O canto da terra (2)
e a guerra o estado natural,
a natureza não nos oferece paz
nem nos dá nada sem preço.
Nós não somos o que nega a natureza:
a ela pertencemos inteiros,
bem como à morte.
O que nos faz diferentes é sermos a única espécie
que sabe que vai morrer.
Tuesday, April 20, 2010
O canto da terra
Sunday, April 18, 2010
O jogo da guerra : fronteira indo-paquistanesa de Wagah
Dos dois lados da fronteira enchem-se as bancadas em anfiteatro: "Hindustan" gritam deste lado; "Pakistan" respondem do outro lado.
Começa então o desafio com grupos de crianças e suaves raparigas correndo em direcção à cancela fechada, empunhando a bandeira indiana e sorrindo de alegria : ao aproximarem-se da barreira, o soldado indiano manda-os recuar, com ar severo; mas logo vêm outros, mais e mais crianças e jovens, todos desfraldando a bandeira da Índia em direcção ao Paquistão...
Entretanto, do outro lado, velhos barbudos e honrados correm pela parada agitando a bandeira do Paquistão, a multidão entoa hinos patrióticos e os tocadores de tambor executam o seu número frenético : mas tudo acaba por ser abafado pela musica de Bollywood que sai dos altifalantes do lado indiano...
As jovens e os jovens do lado de cá começam então a dançar, numa verdadeira "disco border party", que culmina no "Jai Ho", uma dança de festa juvenil e de desafio trocista aos paquistaneses, que continuam a agitar o tambor, a cantar os hinos e a animar os velhinhos barbudos a continuar a correr com as suas bandeiras.
Surgem então os apupos e os dichotes entre as duas "claques" (a ideia do estádio é imediata) e um concurso entre um lado e o outro para ver quem consegue manter mais alto e mais tempo o seu grito de guerra...
O "Vande Mataram", hino da Índia hindu (não o hino nacional) irrompe então da bancada do lado de cá. Famílias entoam gritos patrióticos. Todos parecem satisfeitos com o que estão a fazer.
Vemos do outro lado alguns colegas diplomatas acreditados no Paquistão : acenamo-nos e sorrimos.
Postos que estão frente a frente os dois valorosos campos, tocam então as trombetas de uns e outros. Os jovens bailarinos do lado de cá e os velhos porta-bandeiras do lado de lá são mandados sair de cena, rispidamente. E têm lugar então as cerimónias militares.
Soldados de um lado e do outro avançam em passo de ganso para a cancela, logo voltando para trás, porque a fronteira só é aberta em dois momentos : no primeiro, um soldado indiano e um soldado paquistanês fixam-se muito tempo de pé, frente a frente, olhos nos olhos (mas não conseguem disfarçar a sua preocupação essencial com a compostura das respectivas fardas...); no segundo momento, há uma espécie de baile ritual entre os soldados (baile feito, entenda-se bem, apenas do cruzamentos das duas marchas), que termina com o alinhamento de todos os militares, o toque do arrear das bandeiras e a descida simultânea, lenta e solene, dos dois pavilhões...
Do cimo do anfiteatro, do outro lado, a fotografia oficial de Ali Jinnah olha para todos nós, com aquele olhar altaneiro e trágico, que hoje sabemos ser o de um homem consciente de que ia morrer em breve (dois meses), mas que só morreria depois de ter conseguido criar o seu Estado!
O oficial indiano e o oficial paquistanês apertam a mão. Terminou a cerimónia. "Este ano correu bem" comenta o meu amigo indiano "não houve muitos insultos vindos das bancadas. Bom sinal". De facto, a cerimónia é de uma inesperada bonomia. Mas é de guerra que se trata : dois predadores a rugir um para o outro, mesmo que sob a forma de gentis meninas a dançar o "Jai Ho"...
Thursday, April 15, 2010
Lendas da Índia : Amritsar, fronteira com o Paquistão
Tuesday, April 13, 2010
Patriotismos, nacionalismos, pós-nacionalismos
Friday, April 9, 2010
A um poeta que rejeitou a sua obra
Monday, April 5, 2010
Há mais coisas no céu e na terra...
Bartleby, o que foi poeta (2)
Friday, April 2, 2010
Um soneto de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?...
Fernando Pessoa
Thursday, April 1, 2010
Um judeu alemão (poema de Hans Magnus Enzensberger, trad M Hamburger)
karl heinrich marx
Hans Magnus Enzensberger
gigantic grandfather
jehovah-beardedon
brown daguerrotypes
i see your face in the snow-white aura
despotic quarrelsome
and your papers in the linen press:
butcher's bills
inaugural addresses
warrants for your arrest
your massive body
i see in the "wanted" book
gigantic traitor
displaced person
in tail coat and plastron
consumptive sleepless
your gall-bladder scorched
by heavy cigars
salted gherkins
laudanum and liqueur
i see your house
in the rue d'alliance
dean street grafton terrace
gigantic bourgeois
domestic tyrant
in worn-out slippers:
soot and "economic shit" *
usury "as usual" *
children's coffins
backstair calamities
no machine-gun
in your prophet's hand:
i see it calmly
in the british museum
under the green lampbreak
up your own house
with a terrible patience
gigantic founder
for the sake of other houses
in which you never woke up
gigantic zaddik
i see you betrayed by your disciples:
only your enemies remained what they were:
I see your face on the last picture of april eighty-two:
an iron mask:
an iron mask of freedom*
Quotations from Marx's letters to Engels in the 1850s and 1860s.