Se Vasco da Gama veio encontrar em Calicute a benevolência (algo condescendente) dos hindus e a hostilidade compreensível dos muçulmanos, este modesto representante da soberania portuguesa, 512 anos depois, foi convidado de honra da cerimónia de inauguração da reconstruída Catedral de Calicute (obra financiada, por certo, pela Fundação Calouste Gulbenkian ...), na presença, além naturalmente do Arcebispo e dos Bispos da Igreja Católica local, do Samudri Raja, descendente directo do Samorim (de profissão professor, sendo proprietário e director do melhor colégio privado da cidade), do líder religioso muçulmano e do deputado do Partido do Congresso (hindu). As religiões unidas - porém...
Não cometi qualquer ingerência na vida política local, mas a ausência na cerimónia de qualquer autoridade estadual ou municipal do Partido Comunista (que governa o estado do Kerala) pareceu-me significar um aproveitamento político do evento (de que ninguém, obviamente, me falou nem me fez qualquer referência) por parte da recente aliança política cristã - muçulmana - Partido do Congresso (o BJP praticamente não existe no Kerala) contra os comunistas, que há vinte anos governam o Kerala (com as melhores taxas de literacia e mortalidade infantil da Índia, mas com graves carências no investimento).
O resultado eleitoral das legislativas gerais , que pouco tempo antes tinham tido lugar, constituíra de facto uma pesadíssima derrota para o PC do Kerala; mas até às próximas eleições estaduais, o governo comunista continuará a exercer o poder no estado com toda a legitimidade...
Não foi só Vasco da Gama que se viu metido no meio de conflitos locais ... com a diferença que, estando nós aqui numa democracia, a minha neutralidade diplomática saíu perfeitamente limpa e isenta e os aproveitamentos políticos subsequentes ficarão para quem os fizer!
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