Saturday, February 27, 2010
A Medusa Índia (2)
Calcutá : alguém que sente como eu
Da desgraça de ser latino, católico e moreno...
Friday, February 26, 2010
Calcutá
Ainda o Oberoi de Calcutá
Thursday, February 25, 2010
Calcutá : I like it here
Tuesday, February 23, 2010
Canções do exílio : Brasil
"Conversa à beira do Ganges"
e espera-nos, com o sorriso aberto" ;
mas isso, meu caro amigo, não precisava de vir aprender à Índia:
você leu esse poema no Rilke, não leu?
Reparou na festa com que atiramos os deuses para o rio?
Morrer é passar a curva da estrada, mas reincarnar não é a perfeição,
é continuar a aventura sem fim do karma. Por isso
morrer no Ganges (dizem) pode ser a libertação.
E assim não serás reincarnado. Bom golpe!
O seu Deus incarnou só uma vez, não foi?
Pouca coisa, para os nossos padrões...
É certo que os nossos deuses não pretendem
redimir a Humanidade,
mas prestam aqueles serviços humanos que vocês passaram para os santos
e acreditem que isso vale muito mais para o homem comum
do que a grandeza da vossa Redenção!
Bebi demais, sweetie? O nosso amigo português
acompanha-nos com vinho... One for the road!
Monday, February 22, 2010
Uma infância em Deli (2)
Uma infância em Deli
Momento
Em momentos assim é mais difícil:
não dá para disfarçar o peso do mundo.
A angústia enrola-se na garganta como um agasalho usado,
e há toda uma vida (que pretensão!) a clamar por dentro
"porque me abandonaste?".
Em momentos assim é mais difícil
fingir que só se está a escrever um poema.
Sunday, February 21, 2010
Opiário ou o Sentimento de um Desoriental...
( ... )
Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.
Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.
Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?
( ... )
Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.
Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.
Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição.
Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co'os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!
Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.
O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...
( ... )
1498: Modernidade do Samorim
tinham menos sensibilidade colonial aqueles reis
e o "olhar antropológico" era para eles uma questão de mercado.
É verdade que o verdadeiro mundo colonial só veio depois.
Subrahmanyam estranha que o Samorim tenha deixado o Gama dizer
que viera "descobrir" aquelas terras, de todos conhecidas,
e insinua confusão dos tradutores árabes.
Mas o Samorim pensava
que estava tanto a descobrir aquela gente como a nossa gente
o estava a descobrir a ele.
O comércio tinha que crescer
e a concorrência era proveitosa.
Não era nem um combatente da liberdade nem um leal colonizado:
era o Samorim!
Damão : aproveitamentos políticos...
Difícil será dizer qual de nós três dançou melhor ... e as gargalhadas subsequentes do público não foram um indicador suficientemente claro neste sentido!
Calicute, 512 anos depois...
Não cometi qualquer ingerência na vida política local, mas a ausência na cerimónia de qualquer autoridade estadual ou municipal do Partido Comunista (que governa o estado do Kerala) pareceu-me significar um aproveitamento político do evento (de que ninguém, obviamente, me falou nem me fez qualquer referência) por parte da recente aliança política cristã - muçulmana - Partido do Congresso (o BJP praticamente não existe no Kerala) contra os comunistas, que há vinte anos governam o Kerala (com as melhores taxas de literacia e mortalidade infantil da Índia, mas com graves carências no investimento).
O resultado eleitoral das legislativas gerais , que pouco tempo antes tinham tido lugar, constituíra de facto uma pesadíssima derrota para o PC do Kerala; mas até às próximas eleições estaduais, o governo comunista continuará a exercer o poder no estado com toda a legitimidade...
Não foi só Vasco da Gama que se viu metido no meio de conflitos locais ... com a diferença que, estando nós aqui numa democracia, a minha neutralidade diplomática saíu perfeitamente limpa e isenta e os aproveitamentos políticos subsequentes ficarão para quem os fizer!
Saturday, February 20, 2010
Aos leitores, se houver...
Lendas da Índia
Octavio Paz, sabedor fino e profundo das coisas da Índia, intitulou o seu livro Vislumbres de la India : Vislumbrar: atisbar, columbrar, distinguir apenas, entrever. Vislumbres : realidades percibidas entre la luz y la sombra - explica e define. Essa Índia que entrevemos de luzes e de sombras é a mesma que se nos dirige, assertiva e barroca, floreada e dialéctica, nos mercados de rua ou nos mais sofisticados debates académicos?
E será esta Índia política a mesma que o nosso ressabiado goês anti-brâmane Moniz Barreto descrevia em 1888 como dotada de essa faculdade superior, que é a essência do génio político, isto é, o dom de ver num relance um coração inteiro e muitos corações com seus vícios e virtudes, forças e fraquezas, e o partido que pode tirar de cada um destes elementos uma inteligência habituada a servir-se das almas como das peças de uma máquina?
É uma ousadia escrever sobre a Índia. Mas não será sempre uma ousadia impensável o acto de escrever?
Um poeta de língua telugu (aqui traduzido para inglês) não teve dúvida em responder:
Blank white paper
is more important
than what I write now.
My poetry
is in the white spaces between the words.
(Nara, pseudónimo de Velcheru Narayana Rao, nascido em 1932, autor de When God is a Customer, publicado em 1994)
Mas sem pretender a plenitude em branco do papel (ou da tela do computador) que la blancheur défend, como igualmente dizia Mallarmé, sente quem aqui escreve (e sentirá quem lê?) a necessidade de organizar este material. Mas mais do que organizar : de desenvolver observações, de afinar descrições e, sobretudo, de não ter medo de pensar.
Por isso não teremos vislumbres, como na inteligência poética de Paz, mas lendas, como na narrativa do nosso Gaspar Correia : Nenhuma cousa desta vida humana he tão aproueitiuel aos viuentes que lembrança e memoria dos bens e males passados (Aos Senhores Letores, Lendas da Índia).
De lembrança e de memória de bens e de males se há-de fazer esse livro que virá... Virá?
Descobri este poema!
tenho muita infância pela frente.
(Fabrício Carpinejar, Terceira Sede, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2009)
Friday, February 19, 2010
Canções do exílio : Hungria
Thursday, February 18, 2010
O paradoxo do viajante
Sunday, February 14, 2010
A pira
Thursday, February 11, 2010
Meditação pós colonial
Todos os lados possuem uma verdade indesmentível. Nada a fazer. Presos na sua certeza absoluta, nenhum admitirá a mentira que edificou para caminhar sem culpa ou caminhar, apenas. Para conseguir dormir, acordar, comer, trabalhar. Para continuar.