Saturday, October 31, 2009

Encruzilhada no Ganges, com Guimarães Rosa pelo meio

Se olhares as margens do rio,
nunca entenderás o seu curso.
Mas se mergulhares no rio,
nunca chegarás à terceira margem.

Detenho-me junto ao rio,
como diante do sinal luminoso
antes de cruzar a avenida.
Não há apenas aqui dois caminhos.

Nunca há só dois caminhos:
o Bem e o Mal estão contidos no mesmo forno
que coze a escassa farinha.
Ficar na margem? Entrar no rio?

Detenho-me no cais.
As piras estão acesas,
despedimo-nos aqui.


Historiadores

O equivalente do Prof. Subramanyam no Brasil é o (também excelente) historiador Luís Felipe de Alencastro, que pretende que os portugueses inventaram a escravatura (Espártaco era apenas um respeitado dirigente sindical) ou, pelo menos, o comércio marítimo dos escravos (os árabes na Idade Média promoviam apenas viagens benévolas para trabalhadores migrantes).

Depois há o medíocre Leslie Bethell, que protestou por o Presidente de Portugal ter sido convidado para a cerimónia dos 500 anos do Brasil!

Há historiadores e historiadores... De Subramanyam ou Alencastro podemos discordar, mas têm obra feita, importante e incontornável. Mas Bethell? Bethell who?

Friday, October 30, 2009

Texto publicado no último número da Colóquio Letras

AS CIDADES EM QUE VIVO

 

 

Para a Didas, outra vez

 

 

1.As cidades atravessam o nosso tempo de vida e escrever delas é sempre uma despedida. Quem dirá o luto das cidades, a esplanada desaparecida  da rotunda central, as novas fachadas de vidro e metal que nos vêm lembrar duramente que este já não é o nosso tempo? A minha cidade não existe, como o tempo não existe, no famoso paradoxo agostiniano: o passado já não é, o futuro ainda não é!

 

Eu tive cidades e deixei-as ir: não as enumero, visito-as. Mas tenho cidades acumuladas de memória e passado (as que já não são) e cidades erguidas num futuro imponderável e transparente (as que ainda não são). Poderia falar aqui de muitas cidades, como se andasse a remexer nas gavetas em velhas cartas de amor. Agora escolhi, num arriscado gesto de fidelidade ao presente, escrever da cidade onde vivo, uma cidade de cidades, feita de tantos espaços e tempos como os milhões que a cruzam dia a dia, num frenesim de colmeia.

 

Deli: que diria se dela me despedisse? A sensação que prevalece é a do movimento – como se as ruínas sobre as quais se construíram outras ruínas para sobre elas se construírem os verdadeiros templos do nosso século, os “shopping malls” (algo diferente dos “centros comerciais”), se evanescessem perante a força destes milhões que se movem, dentro dos seus carros de luxo, em cima das suas motocicletas, apinhados nos “rickshaws”, acumulados dentro de derruídos autocarros ou simplesmente caminhando ou acocorados no passeio ou comendo, fazendo a barba, tomando banho em plena rua. Cruzam-se as criancinhas das escolas, impecáveis nas suas fardas de molde britânico, com as crianças pedintes da rua, que chamam constantemente a atenção dos carros e dos passantes.

 

Recordarei mais a rua e a vida do que todos os túmulos mogóis ou esses enormes palácios que os ingleses construíram para sepultar o seu império (ó Shelley, ó Ozymandias!) e que servem hoje de cenário à complexa e intensa vida política da Índia, que é meu trabalho estudar  e, tanto quanto possível, compreender. Recordarei mais os mercados de bairro (o Khan Market, onde sempre encontro o livro que quero, mesmo que tenha saído em Londres na semana passada!) do que os grandes “shopping malls” de Saket, onde os adolescentes passeiam impecáveis nas suas fardas de molde americano (“jeans” e “t-shirt”), cruzando-se com as crianças pedintes das ruas, que nos vendem flores, doces ou mapas.

 

Recordarei a Velha Delhi, onde tudo se vende nos passeios, à porta de lojas arruinadas, onde (ensinou-me o Luís Filipe Tomás!) se encontram os melhores alfarrabistas da Índia, onde as cabras passam no meio das revistas antigas expostas no passeio, mais do que os Lodhi Gardens, onde os intelectuais se encontram para tomar chá, fazer caminhadas entre os túmulos dos Lodhi (de que século estes Lodhi? - consultar mais logo o guia…) e ir ver as exposições ou os filmes europeus no Indian International Center ou na Alliance Française. Recordarei a Connaught Place, o centro do que não tem centro e o grande espaço ajardinado no interior do seu Inner Circle, por cima da moderníssima estação de metro. Recordarei os joalheiros, as lojas de tecidos, as explosões de cores por dentro de outras cores, as luzes efervescentes do Diwali, as tintas que deitam por cima de nós no Holi, as explosões de fogos de artifício sem razão conhecida (talvez mais um deus, dentre os trinta milhões…). Recordarei e guardarei para sempre comigo Ganesh, o deus com cabeça de elefante, o padroeiro dos escritores , que arrancou o seu grande dente de marfim para escrever o poema que lhe era ditado por um outro deus, como o Ion de Platão ou o Rilke no Duíno…

 

A religião está por toda a parte, nas pujas (orações) feitas nas lojas em pleno horário laboral, nos santos homens (sadhus) que passeiam pelas ruas alucinados e semi-nus, no cântico do muezzin na mesquita mais próxima, mas também na vasta, imponente e algo vazia catedral católica (as igrejas com santinhos e imagens de Nossa Senhora estão em Goa  ou no Kerala) ou na igreja anglicana, que agora se chama “Church of India”…

 

Recordarei o carnaval (para lhe chamar assim, não me lembro do nome exacto da festa religiosa) muçulmano na Velha Deli, os carros alegóricos, todos ornamentados com figuras geométricas abstractas, os dançarinos que tocavam tambor até ao extremo do êxtase e do delírio (e até conseguirem as suas vinte rupias…), os doces partilhados na melhor doçaria ao pé da Grande Mesquita…

 

Recordarei a gentileza dos crentes no templo de Chattarpur (outros templos hindus há em que não podemos entrar), a delicadeza algo irónica, mas atenciosa, com que nos ensinavam os circuitos rituais, o caminho a tomar, os gestos a fazer, para cumprirmos a visita do seu templo, mundo que não nos pertence, mas a que nos não queriam deixar ficar inteiramente estranhos…

 

Recordarei o que, antes de partir para cá, li num livro do meu colega embaixador Pavan Varma (“Being Indian”): a religião hindu não é uma religião da passividade, o homem indiano não é o homem da renúncia. A deusa Laxmi pode entrar nas nossas casas e dar-nos a fortuna, assim saibamos nós investir nela as nossas oferendas (ideia tão racional como  a dos recentes fundos derivados de Wall Street e que fez muito menos mal ao mundo…). A economia indiana cresce, mesmo em plena crise, “caminha radiosa sobre a sua própria miséria”(para citar Hoelderlin e ao mesmo tempo aludir com delicadeza às contradições terríveis deste país, numa elegante litotes ou “understatement”, que é como deve dizer um diplomata…).

 

A ideia do indiano como ser de renúncia e de negação do mundo veio-nos da leitura dos clássicos indianos feita, arrebatadamente, no século XIX, por Schopenhauer. Ora os clássicos, como sempre, dizem tudo e o seu contrário.  O “Bhagavad Gita”, quase um diálogo socrático, é uma apologia da Guerra (Krishna) ou uma defesa da Paz (Arjuna)?  Nem uma coisa nem outra, é uma exposição rigorosa do Dever (o nosso “Karma”). Um dever transcendental, diria que acima da própria lei moral e do seu céu estrelado…

 

O anoitecer levanta ainda mais ruído na cidade. Os meus colegas mais novos irão para uma dessas discotecas de Greater Kailash, onde se encontra o “beautiful people”, com direito a aparecer na coluna social (aqui diz-se “page three”) do “Delhi Times”. Penso no poeta Ghalib, um homem que assistiu aos massacres de 1857 e ao fim do Império Mogol. O túmulo dele está em Nizzamuddin, que é um bairro muçulmano por onde passamos agora, saídos dos Lodhi Gardens. É o poeta de Deli, sim, mas de uma Deli que já não existe, a Deli que a divisão da Índia feriu de morte, a Deli da antiga hegemonia muçulmana. Não, esta noite tenho um jantar em casa de uns amigos sikhs, desses que vieram fugidos do Paquistão em 1948, sem nada, a não ser a memória do saque e da violência, e que aqui em Deli refizeram a sua vida e refizeram Deli. O escritor da Deli de ontem e de hoje é um sikh, Khushwant Singh (cujo romance “Deli” está traduzido para português), a quem devemos também delicadas traduções para inglês da poesia urdu, nomeadamente de Ghalib. A Deli de ontem, essa, vive para sempre no tão proustiano, mas tão amargo, “Twilight in Delhi” do escritor de Deli, exilado desde 1948 no Paquistão, Ahmed Ali. Mais uma litotes? Política? Não, apenas literatura…

 

O jantar é longe, numa dessas “farms” enormes, a sul de Nova Deli. Com este trânsito, posso bem contar com uma hora até lá chegar! Vou olhar para a multidão e pensar num texto que prometi irresponsavelmente escrever para a “Colóquio Letras”. Um dia destes terei mesmo que o fazer. Mas a que cidade o irei finalmente prender, esse texto que virá: deixar-me-ei  simplesmente ficar nesta noite de Deli, atravessada de luzes incoerentes e de criaturas improváveis, que enchem a rua e, ao atrasar o percurso, me provocam a imaginação?

 

Ou virá já do Rio de Janeiro esta criança que bate à janela do meu carro e me pede dinheiro por uma boneca esfarrapada que finge vender? Deixo-me arrastar num sonho acordado para a cidade do mundo onde mais intensamente vivi. O risco agora é deixar a escrita passar para o lado do confessional, o mundo dos afectos  torna-se mais denso e a história pessoal impõe os seus ritmos e metros, dificulta-me a máscara ao me abrir ao riso… Mas de você, Rio de Janeiro, eu já me despedi. Escrevi mesmo dois livros para você, eu sei que não deu por nada, mas deixe para lá, ninguém mais deu…

 

Recordar o Rio? Eu não recordo nada. Sou parte dessa corrente que atravessa a minha vida, como o rio do Paulinho da Viola, e tudo de que é feito o Rio está presente em mim como coisa minha, feita intimidade ou mania, eu sou também daí. Mesmo que vocês não queiram.

 

Então penso no livro que estive hoje a ler, de Maitreyi Devi, e do verso do Bhagavad Gita a que ela se agarra para conseguir dar coerência ao seu passado e poder recuperar a identidade do seu amor: “unborn, eternal, everlasting, primeval, it does not die when the body dies”. Podemos sorrir da poeta de Calcutá, que inspirou “La nuit bengali” a Mircea Eliade… Mas não deixo de pensar na diferença entre a sedução feita de curiosidade e deslumbramento que me inspira Deli e essa espécie de amor fusional, “eterno e primordial”, que me leva a identificar-me agora com um Rio de Janeiro inventado por cinco anos de felicidade, vividos em comum…

 

Entramos agora na área das “farms”. Como é a estação dos casamentos, cavalos enfeitados e bandas de música sonâmbulas espalham-se pela rua, rumo às suas diferentes festas. O carro contorma os músicos, os cavaleiros, um ou outro búfalo desgarrado, estamos perto do nosso destino.

 

Se um comboio agora soltasse lentamente o seu apito sobre toda esta mirabolante cacofonia, eu imaginaria anacronicamente a tarde em que o escritor húngaro Frigyes Karinthy se sentou no Café Central, junto da Biblioteca Universitária de Budapeste, e começou a ouvir partirem comboios, um a seguir ao outro, num “ruído insistente, contínuo, suficientemente forte para cobrir todos os barulhos reais”. Karinthy pensou então que todos os órgãos do corpo humano poderiam ser dotados do dom da palavra e alguns meses mais tarde foi operado a um tumor no cérebro.  Por mim, eu apenas esperava por vezes alguns amigos no Café Central de Budapeste, porque não há já tertúlias, os escritores húngaros agora até parece que moram todos em Berlim, mas à entrada do Café Central as velhas revistas dos anos 30 expostas em mostradores proclamam aos viajantes o esplendor das letras, como a estátua do Pessoa, a sentar-se com os turistas no Chiado, demonstra a todos nós o esplendor de Portugal. Aqui em Deli, onde os escritores se juntam nos Lodhi Gardens ou na Penguin Bookstore, talvez a partida dos comboios da estação de Nizzamuddin lhes possa algum dia evocar a terrível e extraordinária viagem à volta do seu crânio que em 1936 empreendeu Frigyes Karinthy. Mas espero sinceramente que não, a bem de todas as palavras que possam habitar nos seus corpos e virem a brilhar nas nossas leituras.

 

Parece que chegámos, o motorista insiste em tirar-me do meu sono (ou sonho acordado?). À porta da “farm”, esperam os criados vestidos de marajás. “I call you later” murmuro para o motorista - mais uma função começa para nós.

 

Abro finalmente a porta do carro e deixo-me guiar pelos criados engalanados até aos meus amigos, brilhantes nos seus turbantes coloridos, elas nos seus saris, atraentes como a luz e a promessa da carne (“it does not die when the body dies”)…  Agora eu sou daqui.  Tudo agora é passado e despedida. Tudo um dia será eterno e primordial…

 

 

 

 

 

Ainda Sanjay Subrahmanyam

Termina assim a sua biografia de Vasco da Gama (de alta qualidade científica, mas enviesada pelo seu constante objectivo ideológico de "destruir o mito"):

In a recent essay, a well known Portuguese historian (...) begins by quoting Spinoza: "Concerning human actions, I have tried not to laugh, not to weep, not to detest them, but to understand them".  To the reader of this volume, I hope the message that I have conveyed has been somewhat different, and rather less "Christian": concerning past human actions, to laugh when they are ridiculous, to weep when they are tragic, to detest them as they were often detested by those who were their victims(...) .

É uma concepção da História como catarse, expressão do "terror e da piedade", tal como a tragédia segundo Aristóteles,  mas vai contra este grego, que distinguia rigidamente a História da poesia trágica...

Bom, é uma concepção... Agora chamar ao Espinoza cristão deve fazer revolver-se no túmulo o nosso pobre compatriota, exilado para Amesterdão por judaísmo...

O historiador português mencionado é Luís Filipe Tomás. 


Este blog tem o patrocínio da Fundação Gulbenkian...

Catedral da Madre de Deus, Calicute: agora e antes...


O Samorim Rajá de Calicute

Tive instruções do protocolo republicano da Índia para o tratar por "Your Royal Highness". O senhor tem 96 anos, é encantador, culto e inteligente, passou a sua vida profissional a dirigir um colégio em Calicute. Falou-me dos seus antepassados, o que se encontrou com Vasco da Gama, o sucessor que se avistou com Pedro Álvares Cabral e referiu o gesto do seu antecessor que autorizou Afonso de Albuquerque a mandar construir a Igreja da Madre de Deus de Calicute, agora restaurada com apoio financeiro da Fundação Gulbenkian. O Rajá exprimiu a sua gratidão a Portugal.

O meu encontro com o Samorim de Calicute

Saúdo com emoção o descendente directo do Samudri Raja, com quem Vasco da Gama se encontrou em 1498, num encontro diplomático algo complicado, que terminou com um seco comunicado do Samorim: Vasco da Gama, fidalgo da Casa Real de Portugal, veio à minha terra e congratulo-me com isso. Na minha terra há muita canela, gengibre e pimenta e muitas pedras preciosas. E o que eu quero da vossa terra é ouro, prata e corais.

Pelos vistos, já tinha sido inventada a diplomacia económica... Seco, conciso, pragmático! 

Thursday, October 29, 2009

De novo em Calicute...

...onde vou encontrar hoje o descendente directo do Samorim. Leio o "Vasco da Gama" de Sanjay Subrahmanyam. O historiador escandaliza-se por Vasco da Gama ter mentido ao Samorim, ao dizer-lhe que "Portugal era bem mais rico do que a Espanha, a França e a Inglaterra". Para além de que no século XVI a nossa convergência com os indicadores europeus era muito superior à actual, o ilustre historiador deveria ver como os Estados e as empresas apresentam hoje os seus produtos: ou está a ver o embaixador da Rússia a dizer "na verdade os nossos reactores nucleares são muito inferiores aos franceses" ou o embaixador sueco a dizer "bom, os nossos Grippen não se comparam, é claro, aos Lockheed"? Felizmente para elas, as empresas indianas não seguem os rígidos padrões morais do Prof. Subrahmanyam...

Tuesday, October 27, 2009

Ainda sobre a Poesia...


"Amy Lowell says: "Poetry seems to be, for strange reason, a young man's job". This slapped me in the head like a big heavy cold dogfish. Poetry is a young man's job. What a frighteningly true thought. Poetry is like math or chess or music - it requires a slightly freaky misshapen brain, and those kinds of brain don't last. Sometimes if you can hold on into old age you can have another late flowering, like Yeats - much of adulthood crumbles and fall away, and you're left with highly saturated early memories and a renewed urge for rhyme. But that happens rarely"

(Nicholson Barker, "The Anthologist")

Joana Amendoeira: o fado em Nova Deli


Hoje às 18h30 no Kamani Auditorium, em Nova Deli, Joana Amendoeira canta o fado...

Há nestas paragens uma excelente fadista goesa, Sonia Shirsat. E já tivémos por cá Katia Guerreiro e Maria Ana Bobone...

Joana Amendoeira dará outro concerto na sexta feira, em Calcutá.

Sou pessoalmente um incondicional do fado.

E da voz de Joana Amendoeira.

Monday, October 26, 2009

Damas de Ajanta (500 d.C)


Pinturas murais das grutas de Ajanta : 500 d.C

Viva o frio!

Depois do Diwali, resolvido radicalmente o problema do malvado Ravana, chega-nos aqui a Deli a bênção mais aguardada depois da monção (muito fraca este ano, aqui no Norte): o frio! O friozinho bom!

Saem as malhas e as lãs do armário. No nosso passeio matinal, vemos os guardas e os taxistas enrolados em mantas felpudas. Bom, por enquanto o frio é só à noite e de manhã cedo (como em Lisboa na Primavera...), mas sabe tão bem!

Esperemos agora que Rama, depois de ter recuperado Sita, a trate bem e domine a sua injusta suspeita de que algo se poderá ter passado entre ela e o demónio Ravana, lá no Sri Lanka... Mas isso é uma magna questão da teologia hindu e da exegese do Ramayana, em que eu não posso nem quero ingerir-me!

Sunday, October 18, 2009

O passado é um país estrangeiro

Um trabalho que me comprometi a escrever leva-me a reler textos, reflexões e tomadas de posição durante 1974/1975.

Claro que não renego nada do que fui e pensei (evoluí, o mundo mudou, só os burros não mudam, etc.) e que continuarei sempre, sempre do lado de Abril.  Mas todo aquele mundo morreu: aquilo que eu pensava e escrevia na altura foi pensado e escrito por alguém que desapareceu também, ainda que fosse eu.

"O mundo em que vivi" de Stefan Zweig dá-nos o mesmo sentimento de estranheza:  só que no meu caso nem é nostalgia - só da juventude... -  é tão só estranheza.



 

Saturday, October 17, 2009

Monday, October 12, 2009

Não posso competir...

"Le comte Ostrorog, descendant des conquérants moghols et fils secret de Pierre Loti selon les ragots du Quai, était (il n'y a pas foule) digne de ce que le mot ambassadeur dans l'Inde suggère aux poètes"

(André Malraux, "Antimémoires")

Saturday, October 10, 2009

Prémio Nobel da Paz

"En la promesa hay algo de inmortal"

(Jorge Luis Borges)

"Les hommes sont partout et toujours les mêmes"

Malraux conversa com o embaixador francês na Índia

"Claudel" reprit-il "qui détestait la pensée hindoue, m'a dit quand j'ai été nommé : "Aucun intérêt, les hommes sont partout et toujours les mêmes!"
(...)
- Tels sont les petits plaisirs du corps diplomatique, mon cher ministre!  Je crois pourtant que son affirmation venait, au moins en partie, de ce que j'appellerai le point de vue du Quai. Nos fonctions nous promènent d'un bout du monde à l'autre. Et nous pouvons ressentir une différence profonde entre un lavis du zen et un Cézanne,  mais non entre nos collègues. Le corps diplomatique est une internationale; vous connaissez ses cocktails. À quelques conventions près, la diplomatie est la même partout. (...) Or, notre expérience est sans doute applicable à toutes les formes d'action.  Les Anglais avaient organisé sans peine l'armée des Indes.  Quand les commerçants européens étaient parqués dans les comptoirs de Chine, ils parlaient des Chinois comme de personnages mystérieux, alors que les banques européennes de Hong Kong travaillent aussi normalement que celles de Casablanca"

André Malraux, "Antimémoires"   

Tuesday, October 6, 2009

Saturday, October 3, 2009

Something else to do

"If you feel that you have a use, if you think your writing furthers life or truth in some way, then you keep writing. But if that feeling stops, you have to find something else to do. Or die, I guess."

(Nicholson Barker, "The Anthologist") 

"E a dor dói como um soco" (Alexandre O'Neill)


Peço que não me entendam mal, estou no meio da Índia
e o ruído da pátria chega a mim como uma nostalgia ambígua,
um silêncio de Cage dentro de um crepúsculo dourado.

Mas, por favor, não me entendam mal,
não me sinto nem alheio nem  distante
(até porque de vós dependo)
e nada do que se diz na minha pátria me pode ser estranho.

É só porque dói...