Interessa-me cada vez mais pensar no que é a Índia para os indianos, transpondo os diferentes mitos e narrativas que os "ocidentais" têm construído sobre a Índia (e que, obviamente, acabam por ser apropriados pelos próprios indianos, donde acaba por ser difícil fazer a destrinça).
É curioso, por exemplo, ver como a filosofia indiana era respeitada e estudada no século XIX (Schopenhauer, Nietzsche, Emerson, Haeckel, com a notória excepção de Hegel, que todavia só a mandou para o caixote do lixo depois de a estudar a sério) e no século XX passa para o domínio dos esotéricos (Steiner, Kassner, muito por influência da Sociedade de Teosofia da Sra Blavatsky) e finalmente para o dos charlatães (Guru Mahareshi, Shri Ravi Shankar, etc.).
Os nacionalistas (de direita Hindutva ou de esquerda "subaltern studies") não ajudam, porque desclassificam todo o trabalho de diálogo intelectual Ocidente - Oriente feito por ambos os lados (de William Jones a Radakrishnan, passando por Tagore), amaldiçoado como "orientalista" pelas vestais de Edward Said... É que para o Outro ser Outro não pode haver valores partilhados...
Outro dia, numa conferência do embaixador de França, um velho diplomata indiano reformado levantou-se para dizer que só os franceses tinham estudado a sério a Índia, que os ingleses apenas a tinham explorado: a nossa profissão de engraxadores ambulantes leva-nos a fazer cada uma! Se alguém estudou a sério a Índia foram os ingleses e os alemães!
Claro que também houve ingleses que desprezaram profundamente a Índia, a começar em James Mill e a acabar em Winston Churchill! Mas que a estudaram, traduziram e (na maioria dos estudiosos) admiraram, é inegável.
A propósito, não percam este artigo do Granta:
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