VELHO QUE NINGUÉM ATURA
Velhos que ninguém atura
a não ser a literatura
e outros velhos
(Alexandre O'Neill)
Um velho
encosta-se à sua velhice como a um muro
com a cal bem desbotada.
Deixa separarem-se as memórias
em blocos estanques sem diacronia
enquanto o sol corre atrás da linha do horizonte
para se precipitar a ocidente.
Um velho
é coisa de se ouvir e de pensar.
Guardaste o que te liga à terra
ou deixaste que o muro te cobrisse
como mortalha de cal?
Um velho não esquece, apenas interpõe
faixas de esquecimento
entre momentos de memória intemporal.
Um velho luta assim contra o tempo
antes que o sol desabe a ocidente
e deixe de significar.
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