A história que eu vou contar
teve origem na vizinha
que logo a foi contar
ao Correio da Manhã
da janela da cozinha
Eram sete da manhã
numa alameda bem fria
e aos olhos da turba vã
estranha figura surgia
entre brumas feitas lã.
Era um aposentado!
E a turba que o seguia
disse num tom agastado
ao pobre desventurado
que o seu sonho perseguia:
Reformado nota bem
que fazes nesta manhã
que loucura te sustem,
nesta frieza malsã,
que não entende ninguém?
Buscas a flor do mal?
Os restos da madrugada?
Uma luz original
que te guie na passada?
Que queres tu afinal?
E para espanto geral
respondeu o reformado:
venho comprar o jornal
não assino o digital
e quero estar informado
Fez-se um clamor nacional
e já todos admiravam
que houvesse em Portugal
um tal leitor de jornal
que os frios não espantavam
O Público apontou
a seta tão para cima
que o papel ultrapassou,
aguçada como lima
E o Público errou!
O Correio da Manhã
informado pela vizinha
enviara essa manhã
ao local a jovenzinha
jornalista da manhã
Mesmo o Jornal de Noticias
que se publica no Porto,
não quis perder as primícias
nem se quis fazer de morto
no louvor ao reformado.
O i, sempre exagerado,
não quis ficar por aqui:
ai do pobre reformado
que ao duro frio eu vi
só para comprar o i.
A história que vos contei
merece franco aplauso,
pois dos jornais eu bem sei
como vivem em descaso
e seu fado aqui cantei.
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