Monday, October 19, 2015

Um poema de "Óxido" de Gastão Cruz

Turner




EXERCÍCIOS DE MORTE

Corríamos perigo e não sabíamos
corrê-lo: cada noite era um oceano
em que nadar causava maior dano
ao acto de viver; substituíamos

toda a roupa molhada quando o mar
as ilhas submergia e refluindo
descobria lençóis de lava findo
o exercício de morrer; amar

já se encontrava aquém da ameaça
e um novo exercício começava,
princípio e fim da noite, inútil chave
da câmara fechada onde uma baça

falsa promessa o breve movimento
doutra onda traçava no mar lento

Gastão Cruz, Óxido, Lisboa, Assírio e Alvim, 2015, p. 30



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