Tuesday, October 27, 2015
Sunday, October 25, 2015
Tuesday, October 20, 2015
Monday, October 19, 2015
Um poema do último livro de Nuno Júdice
Luis de Menezes, Retrato da Viscondessa de Menezes, 1862
VARIAÇÃO CELESTE
Colhi a flor de um relâmpago
de entre os teus seios juntos, e quando
estremeceste foi como se uma estrela
tivesse vacilado nos ombros
da manhã.
Pus essa flor no negro
lago dos teus olhos, e as suas
raízes estenderam-se pelo fundo
da tua memória até esse dia em que
a lava do início te inundou.
E percorri com o tempo
de uma vela de moinho o arco
das tuas sobrancelhas, procurando
na sua margem o pórtico
dos teus lábios.
Nuno Júdice, A Convergência dos Ventos, Lisboa, Dom Quixote, 2015, p.40
VARIAÇÃO CELESTE
Colhi a flor de um relâmpago
de entre os teus seios juntos, e quando
estremeceste foi como se uma estrela
tivesse vacilado nos ombros
da manhã.
Pus essa flor no negro
lago dos teus olhos, e as suas
raízes estenderam-se pelo fundo
da tua memória até esse dia em que
a lava do início te inundou.
E percorri com o tempo
de uma vela de moinho o arco
das tuas sobrancelhas, procurando
na sua margem o pórtico
dos teus lábios.
Nuno Júdice, A Convergência dos Ventos, Lisboa, Dom Quixote, 2015, p.40
Um poema de "Óxido" de Gastão Cruz
Turner
EXERCÍCIOS DE MORTE
Corríamos perigo e não sabíamos
corrê-lo: cada noite era um oceano
em que nadar causava maior dano
ao acto de viver; substituíamos
toda a roupa molhada quando o mar
as ilhas submergia e refluindo
descobria lençóis de lava findo
o exercício de morrer; amar
já se encontrava aquém da ameaça
e um novo exercício começava,
princípio e fim da noite, inútil chave
da câmara fechada onde uma baça
falsa promessa o breve movimento
doutra onda traçava no mar lento
Gastão Cruz, Óxido, Lisboa, Assírio e Alvim, 2015, p. 30
EXERCÍCIOS DE MORTE
Corríamos perigo e não sabíamos
corrê-lo: cada noite era um oceano
em que nadar causava maior dano
ao acto de viver; substituíamos
toda a roupa molhada quando o mar
as ilhas submergia e refluindo
descobria lençóis de lava findo
o exercício de morrer; amar
já se encontrava aquém da ameaça
e um novo exercício começava,
princípio e fim da noite, inútil chave
da câmara fechada onde uma baça
falsa promessa o breve movimento
doutra onda traçava no mar lento
Gastão Cruz, Óxido, Lisboa, Assírio e Alvim, 2015, p. 30
Friday, October 16, 2015
Fonte
FONTE
Suspende um pouco o escorrer das palavras
entre as pedras: nenhum rio desponta
destes matos e pedregais onde a memória
nada encontra para contar.
Às vezes debrucei-me a ouvir as tuas histórias,
mas tudo eram paisagens fingidas, a cal cobria as pinturas
dos frescos deixados nos muros, toda a épica
de que te rias, campos fora.
A minha vida, dizes? Meu pai ergue uma pedra ao alto
e joga-a para longe, as montanhas estremecem,
mas logo tudo regressa a uma impossível
serenidade.
Os mosaicos escondidos sob a terra fértil.
A fonte da poesia é a história que nunca contámos.
Nunca contámos. Como se alguém
nos pudesse ouvir.
Suspende um pouco o escorrer das palavras
entre as pedras: nenhum rio desponta
destes matos e pedregais onde a memória
nada encontra para contar.
Às vezes debrucei-me a ouvir as tuas histórias,
mas tudo eram paisagens fingidas, a cal cobria as pinturas
dos frescos deixados nos muros, toda a épica
de que te rias, campos fora.
A minha vida, dizes? Meu pai ergue uma pedra ao alto
e joga-a para longe, as montanhas estremecem,
mas logo tudo regressa a uma impossível
serenidade.
Os mosaicos escondidos sob a terra fértil.
A fonte da poesia é a história que nunca contámos.
Nunca contámos. Como se alguém
nos pudesse ouvir.
Tuesday, October 13, 2015
Saturday, October 3, 2015
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